Capítulo II (III)
Sobre a oração, perguntámos às entidades protectoras se as
realizadas em conjunto são mais poderosas e eficientes do que a oração isolada.
Respon-deram-nos que a oração em conjunto, feita nas igrejas, não tem sempre a
coordenação necessária para atingir um fim elevado; frequentemente, ela se
perde no Espaço, antes de atingir as esferas divinas. Seria preciso que de cada
alma emanasse uma prece tendo um mesmo objectivo: prece para os
infelizes, com a intenção de aliviar os seus males; prece para os que têm
necessidade de evoluir, etc.
A oração é geralmente marcada por um pequeno sentimento de
egoísmo; ela, com frequência, pede a Deus vantagens pessoais. Mesmo quando não
atinja o fim visado, a oração contribui para sanear a atmosfera, para melhorar
o ambiente dos mundos inferiores.
Quando a prece em conjunto é feita em boas condições, ela
reage contra as vibrações materiais. Sob este ponto de vista, as religiões têm
sua utilidade. A prece gera a fé que inspira as acções grandiosas e nobres. É a
fé esclarecida que nos aproxima de Deus, foco irradiante de vida, de
sabedoria e de amor. Mesmo numa escala mais material, diremos: não é a fé
que inspira os grandes sacrifícios? É a fé patriótica, que tornou nossos
soldados invencíveis, que os ajudou a suportar os sofrimentos, a doença, a morte,
e a repelir os ataques de um inimigo mais forte. É a fé num ideal social que
inspirou, engrandeceu, em todas épocas, os mártires do direito, da justiça e da
liberdade. É a fé na Ciência que, em nossos dias, inspirou os devotamentos como
os do Dr. Vaillant |* e tantos outros, vítimas de seu empenho para administrar
forças terríveis.
A vontade sustentada pela fé é, portanto, a melhor
força motriz para dirigir as forças psíquicas do ser e projectá-las para um
objectivo sublime. O homem deve, enfim, compreender que todas as forças do
Universo, tanto físicas como morais, nele se reflectem; sua vontade pode
comandar umas e outras que se manifestam na sua consciência.
Aprender a harmonizá-las, trabalhar para desenvolvê-las em
vidas sucessivas, tal é a lei de seu destino. Sob esse ponto de vista,
lembremos que temos uma obra admirável para cumprir. Ela consiste em
criar em nós uma personalidade sempre mais radiante e, para isso,
temos o tempo sem limites, o caminho sem fim e a vida eterna na acção perpétua.
Porém, o que alguns não podem compreender pelas
faculdades intelectuais, outros podem sentir pelo coração, pela necessidade
de expansão e do amor que neles é inato, pois, a verdade, acabamos de dizê-lo, está
ao alcance dos simples e dos puros; de todos aqueles que, no recolhimento e no
silêncio, ao abrigo das tempestades, do mundo, do conflito das paixões e dos
interesses, sabem interrogar as profundezas da consciência e entrar em
relação com o mundo superior, foco de toda luz, de toda sabedoria, fonte de todas
as grandes revelações.
Cada estrela que brilha no céu nos ensina uma lição; cada
túmulo que se cava na terra fria nos dá um aviso. A existência terrestre passa
como uma sombra, mas a vida celeste é infinita. Entretanto, nossas vidas
humanas, por mais que sejam curtas, podem ser fecundas para o nosso progresso;
apesar de seu carácter precário, elas formam os materiais com o
auxílio dos quais se edificam os nossos destinos; elas são como pedras que
compõem o imenso edifício do futuro da alma. Esforcemo-nos, portanto,
por polir essas pedras, talhá-las e esculturá-las, para com elas construir um
monumento de linhas puras, de formas grandiosas e harmoniosas.
/…
|* Dr. Ch. Vaillant, radiólogo de Paris, nascido em 1872;
segundo a Enciclopédia Lello, foi vítima dos raios X.
Léon Denis, O Espiritismo e as Forças Radiantes,
Capítulo II, 3 de 3, 6º fragmento da obra.
(imagem: Ascensão de Cristo, pintura de Salvador Dali, 1958)
(imagem: Ascensão de Cristo, pintura de Salvador Dali, 1958)
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