V
A Justiça Divina e a Atual Guerra
|14 de julho de 1915|
Algum dia poderemos abolir ou apagar os ódios que separam os
povos?
Os socialistas já o tentaram, mas sua propaganda
internacional só lhes deu como resultado uma derrota estrondosa. Os protestos
nobres e inúteis dos pacifistas e seus apelos para uma arbitragem apenas
parecem, no presente conflito, uma pueril ilusão, porque as nações, a um
simples vento de tempestade, se lançam umas contra as outras, sem pensar num
recurso ao Tribunal de Haia.
As religiões também se mostram impotentes. Dois imperadores
cristãos, ou que se dizem cristãos, místicos e devotos, iniciaram todas as
calamidades atuais, e o próprio Papa não conseguiu achar o termo forte para
condenar as atrocidades alemãs.
Para diminuir nossos males seria necessário uma renovação
completa da educação e um despertar da consciência profunda; era preciso
ensinar a todos, desde a infância, as grandes leis da vida com os deveres e as
responsabilidades decorrentes. Seria preciso que, bem cedo, todos ficassem
certos de que todas as nossas ações fatalmente recaem sobre nós com suas
consequências boas ou más, felizes ou infelizes, tal qual a pedra lançada ao ar
que volta a cair ao chão.
Numa palavra, deve-se dar às almas alimento mais substancial
e mais vivo do que aquele com o qual se alimentaram desde muitos séculos,
chegando ao fracasso intelectual e moral que vemos com tristeza.
Enquanto o egoísmo escolar e o religioso mantiverem o homem
na ignorância da verdadeira finalidade da vida e da grande lei evolutiva que
regula a existência através de suas fases sucessivas, a sociedade continuará
entregue às paixões más, à devassidão, e a humanidade estará destruída por
violentas convulsões.
Seria então o momento de ensinar o homem a se conhecer e a
dirigir as forças nele existentes. Se o homem soubesse que todos os seus
pensamentos, ações, movimentos hostis, egoístas ou invejosos colaboram para
aumentar os maus poderes que agem sobre nós, alimentam as guerras e precipitam
as desgraças, muito mais cuidado teria no seu modo de agir e muitos males
seriam atenuados.
Só o Espiritismo poderia dar esse ensino. Infelizmente, sua
falta de organização lhe tira a maior parte dos recursos, só restando a
iniciativa individual, que muito pode na restrita área de sua ação.
Todos os espíritas têm o dever de divulgar em seu derredor a
luz das eternas verdades e o bálsamo das celestes consolações, tão úteis nas
horas de provações que atravessamos.
No meio da tempestade ergue-se a voz dos poderes invisíveis
para fazer um apelo supremo à França e à humanidade. Se esse apelo não for
ouvido, se não conseguir despertar consciências, se nossa sociedade continuar
nos vícios, na incredulidade e na corrupção, a era de dores será prolongada ou
se renovará.
Todavia o espetáculo das heróicas virtudes decorrentes da
guerra nos conforta, enchendo-nos de esperança e de confiança no futuro de
nossa pátria.
Agrada-nos ver nele o ponto de partida de um renascimento
intelectual e moral, a origem de uma corrente de ideias bastante poderosa para
espantar os miasmas políticos, estabelecendo o regime exigido pelas
circunstâncias, e assim surgirá uma nova França mais digna e capaz das grandes
obras.
Oh! alma viva da França, livra-te das pesadas influências
materiais que impedem o teu impulso e sufocam as aspirações de teu génio!
Neste 14 de julho escuta a sinfonia que se eleva de todos os
pontos do território nacional; as vozes dos sinos que, em ondas sonoras,
escapam de todos os campanários; as vozes das antigas cidades e das povoações
tranquilas; vozes da Terra e do Espaço que te chamam e te convidam a continuar
tua marcha, tua ascensão até a luz!
/…
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, V – A Justiça
Divina e a Atual Guerra, 3 de 4 16º fragmento da obra.
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos
Alemães, durante a Primeira Guerra
Mundial)
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