Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

domingo, 21 de outubro de 2012

Da sombra do dogma à Luz da Razão~


Introdução

   Apesar da parte que compete à atividade humana na elaboração desta doutrina, a sua iniciativa pertence aos Espíritos, mas não se baseia na opinião pessoal de nenhum deles; não é, e não pode sê-lo, mais do que a consequência dos seus ensinamentos coletivos e concordantes. Só nesta condição se lhe pode dar o nome de doutrina dos Espíritos; caso contrário, não passaria da doutrina de um Espírito e teria apenas o valor de uma opinião pessoal.

   Generalidade e consequência no ensino, é este o caráter essencial da doutrina, a própria condição da sua existência; daqui resulta que qualquer princípio que não tenha sido submetido ao controlo da generalidade não pode ser considerado parte integrante desta doutrina, mas simples opinião isolada de que o Espiritismo não pode assumir a responsabilidade.

   É esta concordância coletiva das opiniões dos Espíritos, passada, além disso, pelo critério da lógica, que constitui a força da doutrina espírita, garantindo-lhe a perpetuidade. Para que se alterasse, seria necessário que a universalidade dos Espíritos mudasse de opinião e que, um dia, viessem dizer o contrário do que tinham dito; dado que tem a sua fonte nos ensinamentos dos Espíritos, para sucumbir, seria necessário que os Espíritos deixassem de existir. É também o que fará com que prevaleça sempre sobre as teorias pessoais que não têm, como ela, as suas raízes em todo o lado.

   O Livro dos Espíritos só viu o seu prestígio consolidar-se por ser a expressão de uma ideia coletiva geral; no mês de Abril de 1867, viu cumprir-se o seu primeiro decénio; durante este intervalo, os princípios fundamentais a que colocou as bases foram sucessivamente completados e desenvolvidos como consequência do progressivo ensinamento dos Espíritos, mas nenhum deles sofreu o desmentido da experiência; todos, sem exceção, permaneceram de pé mais robustos do que nunca, enquanto, de todas as ideias contraditórias que tentaram opor-lhes, nenhuma prevaleceu, precisamente porque em todos os lados se ensinava o contrário. É este um resultado caraterístico que podemos proclamar sem vaidade, já que nunca reivindicámos para nós o seu mérito.

   Tendo as nossas outras obras sido redigidas com iguais escrúpulos, foi-nos possível classificá-las segundo os Espíritos, dado que tínhamos a certeza da sua conformidade com os ensinamentos gerais dos Espíritos. Passa-se o mesmo com esta, que podemos por motivos semelhantes, considerar complemento das precedentes, com a exceção, no entanto, de algumas teorias ainda hipotéticas que tivemos o cuidado de indicar como tal e que devem ser consideradas só como opiniões pessoais até serem confirmadas, ou contrariadas, para que sobre a doutrina não pese essa responsabilidade.

   De resto, os leitores assíduos da Revista terão podido aperceber-se do esboço da maior parte das ideias que se encontram desenvolvidas neste último trabalho, tal como fizemos para os precedentes. A Revista é frequentemente para nós um campo de ensaio destinado a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos a respeito de certos princípios, antes de serem admitidos como partes constituintes da doutrina.
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* Na senda e no espírito de Pedro A. Barboza de La Torre em seu livro, De la sombra Del dogma a la luz de la razón.


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Introdução 2 de 2, 2º fragmento da obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem: Diógenes, pintura de Jean-Léon Gérôme – 1860)

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