Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Génio Céltico e o Mundo Invisível ~


Capítulo VI

A Lorraine e os Vosges. Joana d’Arc, alma céltica
(II)

   Os altos vales da Meurthe, da Moselle e da Vologne possuem ainda numerosos monumentos megalíticos: menires e dolmens.

  Segundo Charton, o altar achado em Lamerey, os “tumulus” (i) de Bouzemont, de Dommartin-les-Remiremont, de Martigny são antiguidades célticas. (ii) O vale d’Arjol, os arredores de Darney recordam lembranças do mesmo tipo. A montanha dos Deux-Jumeaux apresenta, sobre o Piton Nord, cavidades circulares e características onde os druidas recolhiam directamente as águas pluviais como sendo as mais puras para a celebração de seus ritos religiosos. Sobre o Piton Sud, o Grand-Jumeau, pode notar-se os vestígios de um “oppidum(fortaleza gaulesa).

(i) Tumulus – construção de pedras em forma de cone, que os antigos elevavam por cima das sepulturas. (N.R., conforme o Nouveau Petit Larousse Illustré.)
(ii) Ver a obra Les Vosges Pittoresques. Tumulus – construção de pedras em forma de cone, que os antigos elevavam por cima das sepulturas. (N.R., conforme o Nouveau Petit Larousse Illustré.)

  Pessoalmente, pude observar na Lorraine muitas dessas rochas arrumadas em forma de altares, com cavidades circulares, espécie de pias de água-benta druídicas, em particular em Grand-Rougimont, no vale da Haute Vezouse. Igualmente na montanha, perto de Épinal, chamada “Cabeça de Pequena Cuba” por esse motivo. Uma escavação semelhante, chamada “Caldeirão das Fadas”, é encontrada na montanha de Répy, entre Raon-l’Étape e Étival.

  Perto de Saint-Dié outros vestígios célticos são encontrados, até na floresta dos Molières, distante de todo o caminho. Sobre a crista do monte de Ormont pode seguir-se as marcas de alinhamentos de pedras levantadas.

  Mais perto de Nancy, conhece-se a fortaleza de Sainte-Geneviève; a de Champigneulles, na floresta da Fourasse, e, sobretudo, a importante obra, acima de Ludres, chamada falsamente de “campo romano” e que é céltica, da Idade do Ferro. As escavações praticadas nesses lugares deram resultados significativos, conservados no Museu de Lorraine. Quantos outros vestígios célticos são considerados, por ignorância, como galo-romanos!

  A essas lembranças, frequentemente profanas, nós preferimos os velhos altares em plena floresta onde os romanos nunca entravam, ficando nas cidades e nos grandes vales abertos às rotas comerciais. Eu admiro os rochedos antigos na floresta profunda onde nós, celtas, nos sentimos mais em nossa casa.

  Os megálitos, nota-se, são numerosos em Lorraine como em todo o resto da Gália. Os menires ou pedras de pé, dolmens ou mesas de pedra, “cromlechs” ou círculos de pedra aí se encontram frequentemente, sempre em estado rústico, aos quais se poderia denominar com o título correcto de pedras virgens.

  Se a simplicidade das formas e a ausência completa de estética podiam ser consideradas como os indícios de uma antiguidade recuada, pode-se fazer remontar a origem dos megálitos às primeiras idades da história.

  Entretanto, nós vemos que os celtas ainda faziam uso deles durante a nossa era, embora mostrassem uma arte refinada na fabricação de armas, jóias, vestuários, etc. Havia então aí, nessa simplicidade desejada, uma intenção profunda, um sentimento religioso, que Jean Reynaud, professor da Universidade de Paris, nos explica nestes termos no seu belo livro L’Esprit de la Gaule:

  “Não se pode achar uma outra origem para esta arquitectura primitiva a não ser no respeito supersticioso de que os primeiros homens deviam sentir-se penetrados para com a majestade da terra. Eles deviam recear, naturalmente, cometer um sacrilégio, aventurando-se a modificar a figura desses blocos de formas inexplicáveis... Essa arquitectura simboliza a época em que o homem já quer erigir monumentos e não ousa ainda submeter aos ultrajes do martelo a face augusta da terra.”

  As costas da Moselle e os “altos do Meuse”, isto é, as duas cadeias de colinas que cercam esses rios, eram na maioria coroadas de fortalezas e mesmo de monumentos consagrados aos deuses e às deusas locais: Teutatès, Taran, Belen, Rosmerta, Serona, deusa das águas, que não eram, na realidade, mais do que génios tutelares, espíritos protectores das tribos. Todos esses vestígios provêm de duas grandes tribos célticas: os Médiomatriques, que tinham por capital Metz (Divorentum) e os Leuques, cujo principal centro era Toul. (iii)

(iii) Ver Parisot, Histoire de Lorraine.

  Os Médiomatriques tinham enviado seis mil homens para levantar o bloqueio de Alésia, enquanto que os Leuques, aliados dos Trévires, resistiam aos germanos.

  São Jerónimo dizia, no século IV, que a língua céltica era ainda usada em Verdun e em Toul, onde atrapalhou o progresso do Cristianismo.

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LÉON DENIS, O Génio Céltico e o Mundo Invisível, Primeira Parte OS PAÍSES CÉLTICOS, CAPÍTULO VI – A Lorraine e os Vosges. Joana d’Arc, alma céltica 2 de 3, 20º fragmento da obra.
(imagem: A Apoteose dos heróis franceses que morreram pelo seu país durante a guerra da Liberdade, pintura de Anne-Louis Girodet-Trioson)

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