Interpretações erróneas
sobre a homossexualidade ~
Na palavra homossexualidade o prefixo homo não se refere a homem, mas a igual ou semelhante. Esse é o sentido do prefixo grego que equivale a homogéneo ou homogeneidade. A palavra abrange, portanto, todos os casos de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, homens e mulheres. Há no meio espírita a tendência de se atribuir essa perversão ao processo de reencarnação. Tornou-se mesmo comum dizer-se que um afeminado revela com isso que foi mulher na encarnação anterior e que a mulher de aspecto e atitudes viris foi homem. O sexo é um caso de polaridade das funções genésicas. Essa polaridade é universal, manifesta-se em todas as coisas e em todos os seres. A sexualidade é uma das condições gerais do organismo. As leis de evolução determinam o sexo de acordo com as necessidades evolutivas do indivíduo. Sexo forma o carma, mas não é carma. O homem e a mulher são seres complementares. Na dialéctica da evolução eles se emparelham, formam a parelha humana destinada a conjugar-se e não a opor-se reciprocamente. Essa é uma antiga concepção que vem da mais alta antiguidade. Foi dela que nasceu o mito dos hermafroditas, filhos de Hermes e Afrodite, que reuniam em si os elementos femininos e masculinos. Segundo Sócrates, os primeiros habitantes da Hélade eram os andrógenos, ligados pelas costas, que andavam girando com grande velocidade e resolveram subir ao Monte Olimpo para desalojar os deuses. Zeus os castigou, cortando-os pelas costas, de maneira a separar o feminino e o masculino. Desde então as duas metades se perderam e procuram reencontrar-se e se ligarem de novo no amor, sob o poder de Eros.
Na palavra homossexualidade o prefixo homo não se refere a homem, mas a igual ou semelhante. Esse é o sentido do prefixo grego que equivale a homogéneo ou homogeneidade. A palavra abrange, portanto, todos os casos de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, homens e mulheres. Há no meio espírita a tendência de se atribuir essa perversão ao processo de reencarnação. Tornou-se mesmo comum dizer-se que um afeminado revela com isso que foi mulher na encarnação anterior e que a mulher de aspecto e atitudes viris foi homem. O sexo é um caso de polaridade das funções genésicas. Essa polaridade é universal, manifesta-se em todas as coisas e em todos os seres. A sexualidade é uma das condições gerais do organismo. As leis de evolução determinam o sexo de acordo com as necessidades evolutivas do indivíduo. Sexo forma o carma, mas não é carma. O homem e a mulher são seres complementares. Na dialéctica da evolução eles se emparelham, formam a parelha humana destinada a conjugar-se e não a opor-se reciprocamente. Essa é uma antiga concepção que vem da mais alta antiguidade. Foi dela que nasceu o mito dos hermafroditas, filhos de Hermes e Afrodite, que reuniam em si os elementos femininos e masculinos. Segundo Sócrates, os primeiros habitantes da Hélade eram os andrógenos, ligados pelas costas, que andavam girando com grande velocidade e resolveram subir ao Monte Olimpo para desalojar os deuses. Zeus os castigou, cortando-os pelas costas, de maneira a separar o feminino e o masculino. Desde então as duas metades se perderam e procuram reencontrar-se e se ligarem de novo no amor, sob o poder de Eros.
O mito representa a condição humana total, em que a
sexualidade revela a sua unidade primitiva, que se diferenciou no tempo em
feminino e masculino. As existências actuais confirmam a essência simbólica do
mito, mostrando o aspecto de polaridade das funções genéticas do homem. Todos
os homens e mulheres são igualmente dotados da sexualidade única, que só se
divide e se diferencia no plano funcional. Como ensina Allan Kardec, homens e
mulheres têm os mesmos direitos, mas funções diferentes.
A natureza humana é una, mas sobre ela se recortam as
figuras do homem e da mulher, diferenciando-se apenas pelas exigências do sexo.
Mas há nessas teorias um aspecto ainda mais deprimente, que consiste no
desrespeito à dignidade feminina. A mulher normal e decente não emprega as suas
funções sexuais no sentido aviltante que os teóricos analfabetos lhe atribuem.
Se um espírito passou pela encarnação feminina para adquirir nela as virtudes
da maternidade, da ternura, da paixão pela beleza e a harmonia, como podemos
conceber esse espírito aviltando-se e aviltando a espécie humana na fonte
sublime da maternidade? Onde estaria o senso dos espíritos benevolentes, ao serviço de Deus nos laboratórios da reencarnação, para insistirem na técnica da
perversão? Teorias dessa espécie defendidas levianamente no meio doutrinário
envilecem a doutrina e fazem as pessoas de bom senso julgarem que somos uma
tropilha de ignorantes.
Devemos ainda atentar para os aspectos científicos da
questão. Os desequilíbrios sensoriais podem ser provocados pela educação
deformante da criança. As sensações mórbidas provocadas nas primeiras fases da
infância levam geralmente a distúrbios perigosos. Freud é ainda hoje censurado
pelo seu pansexualismo, mas os estudiosos sérios das suas obras sabem que a razão
o assistia nesses exageros que não eram propriamente dele, mas da realidade
queimante que a investigação da libido lhe punha nas mãos de pioneiro. O
misticismo religioso, com o seu insistente e criminoso estrangulamento das
energias genéticas da espécie, das quais depende a sobrevivência humana,
produziu maior número de monstros do que geralmente se pensa. Durante dois mil
anos os pregadores de abstinências impossíveis violaram a naturalidade do sexo,
entregando as suas vítimas à sanha dos espíritos inferiores, íncubos e súcubos,
que punham clérigos e freiras em delírio nos mosteiros e conventos. Aldous Huxley nos conta, em Os Demónios de
Loudun como foi estabelecida a taxa especial para a liberdade sexual dos
padres celibatários durante a Idade Média. A hipocrisia e a depravação foram
as flores mortais da semeadura de santidade forçada. É inacreditável que,
agora, espíritas ingénuos, desconhecedores de sua própria doutrina – em que as
leis de Deus são as próprias leis naturais – levantem essa acusação monstruosa
à lei divina da reencarnação.
A extrema sensibilidade dos órgãos sensoriais, apta à
captação da estesia, complica-se no homem com o desenvolvimento da imaginação
que o leva à busca do prazer. A inquietação humana decorre da encarnação, da
prisão do espírito na carne. Mas a própria carne lhe oferece as vias de fuga da
imaginação e do prazer. O espírito é liberdade e quer se afirmar como tal na
existência, mas as barreiras do seu condicionamento humano o impedem de ser
realmente o que é. O instinto de liberdade o arrasta para as vias de escape. As
proibições formais da sociedade e da cultura, freando-lhes os impulsos
genésicos e as influências de um passado milenar de abusos e recalques,
acrescido das restrições morais que o encurralam na consciência em desenvolvimento,
geram o trágico pandemónio da libido. Unamuno foi benevolente ao considerar o
homem como um drama. Mais do que isso, ele se apresenta na existência como uma
tragédia. Veja-se o desespero de Sartre, que impossibilitado de pôr ordem no
caos, se precipitou no suicídio conceptual da frustração e do nada. A ideia
absurda da nadificação o acalmou de tal forma que ele se empenhou a sustentá-la
mesmo ante as conquistas científicas que o tornaram perempto antes do tempo.
Alguns teólogos medievais costumavam dizer que o homem não pode colher os
frutos do Paraíso antes do tempo. A simbólica expulsão de Adão do Paraíso
dá-nos o quadro vivo dessa precipitação. A mulher, considerada inferior nas
sociedades patriarcais, representa o instrumento da serpente (símbolo fálico)
para levar o homem à desobediência. Agora, como se não bastasse essa injustiça
mitológica, queremos também imputar-lhe a responsabilidade do homossexualismo através da reencarnação. O mito grego dos homens bissexuados, que Zeus separou
para defender o Olimpo, repõe a mulher na sua dignidade aviltada. A metade
perdida torna-se exigência vital, que o homem busca no plano existencial,
reconhecendo nela a sua aspiração imediata, para fazê-la de novo sua companheira
e parceira, sonho e ideal, mãe e irmã, apoio e estímulo, que nos tempos líricos
da cavalaria medieval e castelã, senhora e mártir ao mesmo tempo, escravizada
ao garrote vil dos cintos de castidade. Ambivalência monstruosa em que a dama
sublime era transformada em suposta criminosa condenada por suspeição.
Ver num jovem efeminado a reencarnação de uma mulher
pervertida é fugir à realidade universal das perversões masculinas, sempre mais
brutais que as femininas. Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, colocou bem esse problema de transferência estúpida
e até mesmo covarde. As lésbicas gregas, como Safo, de inteligência e
sensibilidade refinadas, viviam numa condição histórica e cultural muito
diferente da nossa, integradas numa concepção do mundo que era global,
gestáltica e não fragmentária como a nossa. O ideal do Belo, que Platão levara
à suprema expressão, dominava o pensamento grego. A contemplação dos belos
corpos, dizia o filósofo, eleva a alma aos planos divinos. Não era a sensação
grosseira e banal, o refocilar dos porcos na lama, que atraía essas criaturas,
mas a estesia pura ante a beleza perfeita. Já em Roma a situação era outra e os
antigos camponeses transformados em conquistadores do mundo geravam as messalinas,
flores espúrias de um mundo em que a práxis esmagava a herança da Grécia, mas
desenvolvendo os resquícios da barbárie romana. Por isso, chegamos ao cúmulo de
atribuir a Sócrates, como o fizeram Anito e Melito, a pecha de perversão. A nossa
incapacidade para compreender o mundo em que o ideal superava o pragmático é
inegável. Ernst Cassirer, em A Tragédia
da Cultura, mostra-nos como arrancamos das ruínas de antigas civilizações,
com garras de primatas, a impregnação do passado. Não recebemos a herança viva,
mas os resíduos mortos que trazem o frio mineral das estátuas. Não somos
capazes de medir o passado pela sua dimensão real e o reduzimos às nossas
próprias dimensões. Benét Sanglé, fascinado pela figura de Cristo, colocou-o na
retorta da psiquiatria e o transformou em louco no seu livro La Folie de Jesus. É geralmente assim
que procedemos, com a sensibilidade embotada do nosso pragmatismo. O nosso
refinamento é exterior e superficial. Por baixo das camadas de verniz da
civilização actual carregamos os monstros que puseram as suas garras de fora na
última Conflagração Mundial, no genocídio atómico de Nagasaki e Hiroshima, nas
escaladas americanas sobre o Vietname. A prova disso está aí, flagrante e
horrenda, nas violências tecnológicas de nosso século. E isso porque imolamos o
espírito à matéria. Esquecemos a nossa origem, essência e destino divinos para
nos proclamarmos senhores de um mundo de fome e miséria.
Outra explicação da homossexualidade atribui aos velhos a
responsabilidade da perversão. Segundo os autores dessa teoria os velhos, ao
perderem a virilidade, entregam-se a excitações indevidas, e quando o espírito
volta a reencarnar-se, traz na sua bagagem esse estranho contrabando. Tivemos a
oportunidade de contestar um dos autores num programa de televisão, no canal 13
de São Paulo. É incrível a leviandade com que certas pessoas, escudando-se em
títulos universitários, mas sem critério científico, fazem afirmações dessa
espécie. A generalização é tremendamente ofensiva. A dignidade, que sempre
encontrou na senectude a sua mais bela expressão, esboroa-se nas mãos desses
teóricos improvisados que nada respeitam. Os sectores da Espiritualidade
incumbidos dos processos reencarnatórios tornam-se negligentes e insensíveis
aos olhos desses teóricos do absurdo. A reencarnação, por sua vez, perde a sua validade
como instituto de reparação e evolução. A desoladora falta de compreensão dos
objectivos naturais da reencarnação, por parte desses diplomados por acaso ou
negligência, chega a escandalizar as pessoas de bom senso. A mesquinhez dessas
suspeitas infundadas revela a mentalidade tacanha desses pseudocientistas, que
se apresentam como pesquisadores. Todas as pessoas que compreendem a doutrina
da reencarnação sabem que esse processo universal é um dos meios de controle da
evolução geral. Procurar motivos específicos e ridículos para manifestações de
desequilíbrio já suficientemente conhecidos é querer confundir a questão. Não
há razão para essas invenções ou invencionices, quando a perversão dos instintos
naturais é uma constante da evolução em todos os seus campos. Geração e
corrupção, como ensina Aristóteles, são a antítese e a tese da dialéctica da
criação, mas nos limites temporais do processo. A regularidade das leis
naturais que determinam a sistemática evolutiva não comporta especulações bastardas.
A própria grandeza do destino humano, da destinação superior do homem no
Universo, repele essas tolices. Cada ser e cada espécie estão submetidos à lei
da harmonia e perfeição que rege, do minério ao homem, o desenvolvimento das
potencialidades da criação. O dínamo-psiquismo-inconsciente
de Geley a que já nos referimos, oferece-nos uma visão grandiosa do processo
evolutivo que amesquinha por si mesmo essas especulações sem sentido.
/…
José Herculano Pires, Ciência Espírita e suas implicações terapêuticas, Interpretações Erróneas sobre a Homossexualidade, 15º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: O peregrino sobre o mar de névoa, pintura de Caspar David Friedrich)
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