|27 de Janeiro de 1922|
“Esta noite vamos abordar o domínio artístico, que tem por
veículo puro o pensamento, o pensamento na literatura e na oratória. Na nossa
última conversa mostramos como, sob o ponto de vista artístico, o reflexo do
pensamento podia, graças a meios maravilhosamente subtis, ligar-se a moléculas
fluídicas e, por meio de cores variadas, representando ideias, compor quadros
nos quais a arte da cor reproduz cenas tendo o belo por símbolo; isso dito em
forma de transição. E agora, qual será a acção do pensamento na arte?
O pensamento é, antes de tudo, um dom de observação. O ser
humano, encarnado ou desencarnado, pode explorar, em pensamento, todos os
meios. Deixaremos de lado os seres que têm o carácter essencialmente material e
levam os seus pensamentos para mundos onde reina o espírito do lucro ou da luxúria.
Porém, no ser evoluído, o pensamento se elevará muito mais
alto.
Vós sabeis que, na vossa Terra, esse pensamento se liga à
pintura dos costumes, à análise dos caracteres, e se traduz em escritos que
revestem formas mais ou menos simbólicas. No espaço, o pensamento torna-se
naturalmente muito mais livre; ele possui em si mesmo o reflexo exacto de todos
os sentimentos que, anteriormente, nele puderam imprimir-se e impressioná-lo em
graus diversos. O espírito, quando está liberto da matéria e chegou a uma certa
elevação, pode transmitir o seu pensamento directamente a seres ainda
encarnados. Daí os fenómenos da inspiração.
Tomemos, por exemplo, um ser espiritual muito evoluído e que
professe o culto da beleza perfeita. Ele reconhecerá na Terra os seres humanos
cujo pensamento já se traduz em feixes luminosos. Ele sentir-se-á atraído para
esses seres e o seu próprio pensamento irá misturar-se ao deles; as suas
moléculas fluídicas vivificarão, de uma forma intensa, as moléculas materiais
geradoras que brotam do cérebro do ser que vive no vosso mundo.
Os espíritos escritores se aproximarão dos artistas da pena;
os antigos oradores sentir-se-ão atraídos para os mestres da palavra.
Eis a transmissão do espaço para um mundo. Porém, no ser
evoluído, o desejo de fazer irradiar o seu pensamento através do espaço não é
menor que aquele que o atrai em direcção aos mundos habitados. Tomemos, por
exemplo, um grande pensador da Terra; de regresso ao espaço, ele revelará aos
espíritos que o cercam a própria essência das virtudes adquiridas. Depois,
lendo nos cérebros dos seres encarnados, ali projectará ondas impregnadas de
todas as qualidades do seu pensamento.
É uma obra imperecível esta transmissão através dos corpos
fluídicos, porque quando a irradiação do pensamento é intensa, ela impressiona
os cérebros de tal maneira que estes guardam sempre a marca da impressão
recebida.
Existe uma estreita correlação entre os pensadores da Terra
e os do espaço. Certos espíritos passam a sua existência no espaço recolhendo
essas impressões. Quando, por sua vez, se sentem capazes de fazer os seres
menos evoluídos aproveitarem essas impressões, eles retornam à Terra e então
vêm a ser esses grandes escritores, esses grandes poetas e essas pessoas
ilustres que ganham a respectiva admiração daqueles que os cercam.
A arte da eloquência forma-se da mesma maneira, porém com
mais subtileza. No orador, as vibrações do espaço são poderosamente sentidas através
do organismo, em consequência de um trabalho mais intenso, efectuado antes do
nascimento, e pela acção de uma vontade muito mais forte. Cada orador, em graus
diferentes, possui o dom da intuição, mais ou menos desenvolvido. Em geral, as qualidades
de um mestre da eloquência resultam de uma preparação realizada no espaço,
graças à soma das impressões recebidas nesse meio.
Segundo a disposição das moléculas materiais, a arte, no homem
de letras ou no orador, é mais ou menos pura. Tendes a prova desse facto
considerando-se as diferentes classes de escritores, de poetas, de oradores. No
escritor comum, o pensamento ainda é carregado de um materialismo grosseiro. No
poeta, o ideal, o símbolo, distinguem-se mais e quanto mais puros mais
admiráveis eles são. O mesmo acontece com o orador que, profano ou sacro,
consagra o seu órgão físico à defesa e à difusão das máximas e dos preceitos
que emanam quase de Deus.
As formas de exteriorização do pensamento são tão múltiplas
quanto os indivíduos. As categorias de pensadores podem distinguir-se no espaço
pela intensidade luminosa que se desprende do seu ser fluídico. A vossa
palavra, de natureza absolutamente material, é algo desconhecido no espaço;
assim sendo, quando um ser retorna a essa vida, ele deve submeter-se a uma nova
adaptação e a sua linguagem tornar-se-á a da interpretação das cores. Na cor há
uma gama de tal modo subtil e variada que as menores modulações podem
representar as menores flutuações do pensamento.
Um ser apaixonado pela arte poderá receber e transmitir pensamentos
de uma delicadeza infinita e eu vos asseguro que, em minha opinião, a arte no
pensamento se aproxima mais de Deus do que as outras artes.
Que delícia é para nós, no espaço, sentir as vibrações de um
ser tendo o carácter de uma pureza, de uma elevação notáveis e que se traduzem
por radiações de uma tonalidade maravilhosamente rica em átomos fluídicos.
Não retornarei aqui à análise de todos os domínios do pensamento.
Eu quis simplesmente dar-vos o mecanismo da transferência da arte da Terra ao
espaço e o seu princípio fundamental no meio das camadas fluídicas. Acrescentarei,
e insisto em vos dizer, que o pensamento é, para nós, a coisa mais fácil de se
transmitir, porque temos uma verdadeira alegria em ajudar na iluminação moral
dos seres que vos cercam.
Os vossos cérebros humanos, fechados às sublimes ideias emanadas
do Ser Divino, não podem, actualmente, compreender o encadeamento das forças em
acção no Universo. Que vos baste saber que o pensamento de Deus atinge todos os
seres e todas as coisas, que nenhuma das suas radiações é perdida, e que o nosso
papel, de nós, pobres libélulas, é transmitir o melhor de nós mesmos àqueles
que nos podem compreender. A arte vem ajudar-nos nisso. Portanto, dediquem-se a
pensar com arte. Amai aqueles que pensam bem. Porque, estejam certos disto, a
própria essência desse pensamento é um reflexo da vida no espaço; lamentem
aqueles que não sabem pensar. A arte é uma das formas da beleza e, como o
pensamento, ela deve ser o seu veículo, porque a beleza encerra em si mesma os
princípios da bondade, da grandeza e da justiça.”
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte IV
– Sétima lição / Acção do
pensamento na literatura e na oratória, 18º fragmento da obra.
(imagem: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre,
pintura de Leonardo
da Vinci)
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