Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Espiritismo na Arte ~


Sétima lição

(Acção do pensamento na literatura e na oratória)

|27 de Janeiro de 1922|

“Esta noite vamos abordar o domínio artístico, que tem por veículo puro o pensamento, o pensamento na literatura e na oratória. Na nossa última conversa mostramos como, sob o ponto de vista artístico, o reflexo do pensamento podia, graças a meios maravilhosamente subtis, ligar-se a moléculas fluídicas e, por meio de cores variadas, representando ideias, compor quadros nos quais a arte da cor reproduz cenas tendo o belo por símbolo; isso dito em forma de transição. E agora, qual será a acção do pensamento na arte?

O pensamento é, antes de tudo, um dom de observação. O ser humano, encarnado ou desencarnado, pode explorar, em pensamento, todos os meios. Deixaremos de lado os seres que têm o carácter essencialmente material e levam os seus pensamentos para mundos onde reina o espírito do lucro ou da luxúria.

Porém, no ser evoluído, o pensamento se elevará muito mais alto.

Vós sabeis que, na vossa Terra, esse pensamento se liga à pintura dos costumes, à análise dos caracteres, e se traduz em escritos que revestem formas mais ou menos simbólicas. No espaço, o pensamento torna-se naturalmente muito mais livre; ele possui em si mesmo o reflexo exacto de todos os sentimentos que, anteriormente, nele puderam imprimir-se e impressioná-lo em graus diversos. O espírito, quando está liberto da matéria e chegou a uma certa elevação, pode transmitir o seu pensamento directamente a seres ainda encarnados. Daí os fenómenos da inspiração.

Tomemos, por exemplo, um ser espiritual muito evoluído e que professe o culto da beleza perfeita. Ele reconhecerá na Terra os seres humanos cujo pensamento já se traduz em feixes luminosos. Ele sentir-se-á atraído para esses seres e o seu próprio pensamento irá misturar-se ao deles; as suas moléculas fluídicas vivificarão, de uma forma intensa, as moléculas materiais geradoras que brotam do cérebro do ser que vive no vosso mundo.

Os espíritos escritores se aproximarão dos artistas da pena; os antigos oradores sentir-se-ão atraídos para os mestres da palavra.

Eis a transmissão do espaço para um mundo. Porém, no ser evoluído, o desejo de fazer irradiar o seu pensamento através do espaço não é menor que aquele que o atrai em direcção aos mundos habitados. Tomemos, por exemplo, um grande pensador da Terra; de regresso ao espaço, ele revelará aos espíritos que o cercam a própria essência das virtudes adquiridas. Depois, lendo nos cérebros dos seres encarnados, ali projectará ondas impregnadas de todas as qualidades do seu pensamento.

É uma obra imperecível esta transmissão através dos corpos fluídicos, porque quando a irradiação do pensamento é intensa, ela impressiona os cérebros de tal maneira que estes guardam sempre a marca da impressão recebida.

Existe uma estreita correlação entre os pensadores da Terra e os do espaço. Certos espíritos passam a sua existência no espaço recolhendo essas impressões. Quando, por sua vez, se sentem capazes de fazer os seres menos evoluídos aproveitarem essas impressões, eles retornam à Terra e então vêm a ser esses grandes escritores, esses grandes poetas e essas pessoas ilustres que ganham a respectiva admiração daqueles que os cercam.

A arte da eloquência forma-se da mesma maneira, porém com mais subtileza. No orador, as vibrações do espaço são poderosamente sentidas através do organismo, em consequência de um trabalho mais intenso, efectuado antes do nascimento, e pela acção de uma vontade muito mais forte. Cada orador, em graus diferentes, possui o dom da intuição, mais ou menos desenvolvido. Em geral, as qualidades de um mestre da eloquência resultam de uma preparação realizada no espaço, graças à soma das impressões recebidas nesse meio.

Segundo a disposição das moléculas materiais, a arte, no homem de letras ou no orador, é mais ou menos pura. Tendes a prova desse facto considerando-se as diferentes classes de escritores, de poetas, de oradores. No escritor comum, o pensamento ainda é carregado de um materialismo grosseiro. No poeta, o ideal, o símbolo, distinguem-se mais e quanto mais puros mais admiráveis eles são. O mesmo acontece com o orador que, profano ou sacro, consagra o seu órgão físico à defesa e à difusão das máximas e dos preceitos que emanam quase de Deus.

As formas de exteriorização do pensamento são tão múltiplas quanto os indivíduos. As categorias de pensadores podem distinguir-se no espaço pela intensidade luminosa que se desprende do seu ser fluídico. A vossa palavra, de natureza absolutamente material, é algo desconhecido no espaço; assim sendo, quando um ser retorna a essa vida, ele deve submeter-se a uma nova adaptação e a sua linguagem tornar-se-á a da interpretação das cores. Na cor há uma gama de tal modo subtil e variada que as menores modulações podem representar as menores flutuações do pensamento.

Um ser apaixonado pela arte poderá receber e transmitir pensamentos de uma delicadeza infinita e eu vos asseguro que, em minha opinião, a arte no pensamento se aproxima mais de Deus do que as outras artes.

Que delícia é para nós, no espaço, sentir as vibrações de um ser tendo o carácter de uma pureza, de uma elevação notáveis e que se traduzem por radiações de uma tonalidade maravilhosamente rica em átomos fluídicos.

Não retornarei aqui à análise de todos os domínios do pensamento. Eu quis simplesmente dar-vos o mecanismo da transferência da arte da Terra ao espaço e o seu princípio fundamental no meio das camadas fluídicas. Acrescentarei, e insisto em vos dizer, que o pensamento é, para nós, a coisa mais fácil de se transmitir, porque temos uma verdadeira alegria em ajudar na iluminação moral dos seres que vos cercam.

Os vossos cérebros humanos, fechados às sublimes ideias emanadas do Ser Divino, não podem, actualmente, compreender o encadeamento das forças em acção no Universo. Que vos baste saber que o pensamento de Deus atinge todos os seres e todas as coisas, que nenhuma das suas radiações é perdida, e que o nosso papel, de nós, pobres libélulas, é transmitir o melhor de nós mesmos àqueles que nos podem compreender. A arte vem ajudar-nos nisso. Portanto, dediquem-se a pensar com arte. Amai aqueles que pensam bem. Porque, estejam certos disto, a própria essência desse pensamento é um reflexo da vida no espaço; lamentem aqueles que não sabem pensar. A arte é uma das formas da beleza e, como o pensamento, ela deve ser o seu veículo, porque a beleza encerra em si mesma os princípios da bondade, da grandeza e da justiça.
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LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte IV – Sétima lição / Acção do pensamento na literatura e na oratória, 18º fragmento da obra.
(imagem: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)

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