Parte IV
(Escritores
e oradores, o verdadeiro mérito; A influência da música)
|Abril de 1922|
O verdadeiro mérito, seja do escritor, seja do orador,
consiste em fazer pensar, em provocar nas almas as nobres e santas exaltações,
em elevá-las em direcção às alturas radiosas onde elas percebem as vibrações do
pensamento divino, numa comunhão suprema.
No entanto, para que a alma se desenvolva e desabroche no
êxtase das alegrias superiores é bom que a harmonia venha se juntar à palavra e
ao estilo; é preciso que a música venha abrir, para a inteligência, os caminhos
que levam à compreensão das leis divinas, à posse da eterna beleza.
A influência da música é imensa e, segundo os indivíduos,
reveste-se das mais diferentes formas. Os sons graves e profundos agem sobre
nós de tal maneira que o melhor de nós mesmos se exterioriza. A alma se
desprende e sobe até às fontes vivas da inspiração.
Quando eu tinha que fazer uma conferência numa grande
cidade, por mais de uma vez aconteceu dirigir-me, na véspera, à noite, a algum dos teatros líricos. Lá, escondido no fundo de um camarote, completamente isolado, eu
me desinteressava de tudo o que se passava na sala ou no palco, para me deixar
embalar pela obra musical. Sob a acção combinada dos instrumentos e das vozes,
uma onda de ideias crescia no meu cérebro, um desabrochar de pensamentos e de
imagens surgia das profundezas do meu ser. E, nesses momentos, eu determinava o
meu tema com uma riqueza de matérias, uma profusão de argumentos, uma
abundância de formas e de expressões que eu não poderia ter encontrado no
silêncio e que nem sempre se apresentavam na minha memória no momento oportuno.
O som dos grandes órgãos e os cantos sacros produzem em mim
impressões ainda mais profundas. Durante os momentos em que posso ouvir boa
música, o poder da arte abre, para meu benefício, o domínio dos tesouros
escondidos das mais belas faculdades psíquicas, para, em seguida, deixar-me
recair pesadamente na corrente habitual do pensamento e da vida.
Na Terra, é pelo pensamento, oral ou escrito, que se comunica
a fé e que se instruem os homens. Porém, no espaço, nos dizem os nossos guias,
a música é a expressão sublime do pensamento divino.
Já aqui na Terra, pode observar-se que um escritor ou um orador
que estude a harmonia vê crescer, em proporção, os recursos da sua imaginação,
sua penetração das coisas e sua facilidade em exprimi-las. Certos homens
talentosos não têm declarado que as suas mais belas obras tinham sido concebidas
em horas de êxtase, provocadas pela audição de ecos longínquos de algumas notas
desprendidas dos concertos celestes, quer dizer, da orquestra infinita dos
mundos?
/…
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte IV
–
Escritores e oradores, o verdadeiro mérito; A influência da música,
17º fragmento da obra.
(imagem: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre,
pintura de Leonardo
da Vinci)
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