Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nas garras do pensamento crítico ~


Mais vale um pássaro na mão

   Essas fugas pela tangente representam o método mais frequente de combate ao Espiritismo, inclusive por parte dos materialistas dialécticos. Para os observadores serenos e sensatos, bastaria essa insistência na deturpação dos factos e na distorção do raciocínio, para comprovar a seriedade e a importância desses mesmos factos. Aliás, ainda com Engels, encontraremos o argumento mais apropriado: “A única questão consiste em saber se o pensamento está ou não certo, e o desprezo pela teoria é, evidentemente, a maneira mais segura de se pensar de maneira naturalista, e, consequentemente, de modo errado.”

   Engels não ficaria mal nas fileiras espíritas. De facto, ele via bem estes problemas. O desprezo pela teoria espírita, única que pode explicar os fenómenos, tem levado esses homens a trair a dialéctica a todo momento, entrando a fundo e às cegas pela Sofisticaria. A punição da dialéctica, porém, não se faz tardar. Os que pensam de maneira naturalista, voltando as costas à teoria, terminam de encontro à parede, com a espada do ridículo no peito. Porque a “maneira naturalista de pensar”, a que Engels se refere, é a do pensamento a priori, instintivo, que não provém da razão orientada pelo processo da civilização, mas da herança comum e obscura do passado biológico da espécie. Age por meio de impulsos mecânicos, é um automatismo inconsciente. Dir-se-ia, diante das suas manifestações, que o homem tem a vocação da fuga. Como a lebre, colhida de surpresa na beira da estrada, precipita-se no mato, assim o homem, colhido na sua posição materialista pela surpresa dos factos supranormais, precipita-se no matagal das lembranças ancestrais. Improvisa teorias e fabrica rótulos com a desenvoltura inconsequente da avestruz ao enterrar a cabeça na areia. Comete, com uma confiança absurda na impunidade, o crime da desfiguração da verdade, ou passa apenas a negar, indiferente a todas as provas e argumentos, como a criança teimosa que não quer ver a louça quebrada. É o outro lado da crendice, o reverso do fanatismo religioso.

   Por isso, o médico Sérgio Valle nos lembra, no livro Silva Mello e os Seus Mistérios, recentemente publicado: “Enquanto não se realize o fiat da ciência (que se mantém, teimosamente, orgulhosa e cega), para iluminar os factos que possuímos, não é justo que uma criatura sensata despreze o que se acha detido, seguramente detido nas suas mãos, por mínimo que seja, pelo que voeja no espaço do fanatismo religioso ou do fanatismo científico”.
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José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico, Mais vale um pássaro na mão, 9º fragmento da obra.
(imagem: Vi o caçador levantar o arco-íris, pintura em acrílico de Costa Brites)

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