Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Victor Hugo e o invisível ~


Em torno do ser profundo de Victor Hugo

   Por mais profunda que seja a crítica em relação à personalidade de Victor Hugo, nela não penetrará enquanto não medir a sua existência com o critério palingenésico ou "sentido" de reencarnação do ser. Se Hugo teve inúmeras alternativas morais foi porque o seu ser penetrava nas misteriosas zonas de uma realidade pré-existencial. A crítica comum, quando se trata de grandes espíritos, opina sempre ignorando a natureza profunda que os conforma. Enquanto a crítica desconhecer que génio e mediunidade são uma mesma essência, não poderá nunca penetrar nesses "mundos" que se movem no infinito das almas.

   Victor Hugo sabia que em seu ser se entrecruzavam incontáveis existências por ele vividas; daí suas variações de carácter, suas angústias e tristezas, suas aproximações repentinas dos mais variados climas espirituais. Seu espírito projectava no circundante as suas sondas psíquicas até extrair da essência das coisas a sua substância infinita.

   Assim se relacionava com a alma verdadeira dos seres e das coisas; desse modo seu ser se colocava em comunicação com o outro Eu das pessoas, que é onde se encontra o verdadeiro espírito encarnado.

   Seu génio, logicamente, não pôde revelar a seus íntimos e amigos a realidade profunda que percebia no todo existente. Ocultava sempre segredos espirituais, falava de temas eternos de acordo com o sentir comum, pois sabia ser inoportuno revelar o que acontecia por esse sentido palingenésico de seu Ser, que o acompanhou em toda a sua vida. Ateve-se sempre à medida evolutiva dos espíritos, compreendendo que a realidade espiritual do homem não pode estar ao alcance de todos.

   Os filósofos quiseram perguntar sobre a origem de seu génio penetrando nas circunvoluções de seu cérebro. Pretenderam estimar sua inteligência conforme o peso desse órgão. O próprio Victor Hugo doou à ciência o seu organismo cerebral para que, não existindo nenhuma diferença substancial nos cérebros, fosse investigado, depois de sua morte, se havia qualquer disparidade entre a organização dele e da massa cerebral dos animais. Por essa razão, resolveu que a investigação deveria ser praticada no cérebro de seu próprio cão, "com a finalidade de descobrir se haveria algo diferente na substância ou organização de algum dos órgãos cerebrais que pudesse servir de base para apreciar os vários graus de inteligências".

(1) - Doutor Franco Ponte: Los cérebros de Victor Hugo y Alberto Einstein, Revista Cosmo, 1995, Ponce, Puerto Rico.

   A informação dada pela comissão médica examinadora foi a seguinte: "Não encontramos nenhuma molécula a mais de matéria cinzenta no cérebro de Victor Hugo que na do cão. Achamos diferença de volume e peso somente, que acreditamos não afectarem nada as manifestações intelectuais, pois é sabido que existem entidades de escassa inteligência com cérebros volumosos e vice-versa, entidades de vastos conhecimentos em cérebros muito pequenos".

   Ocorreu o mesmo quando se examinou o cérebro de Alberto Einstein, este outro ser que comoveu as bases da ciência oficial. O parecer assinalava: "Nada encontramos que nos conduza ao caminho da verdade", ao que se ajuntou: "Nada foi encontrado e estamos certos de que o cérebro de Einstein é igual em sua estrutura e forma física a todos os cérebros dos seres comuns".

   Estas conclusões demonstram que a caixa craniana não encerra e não gera a inteligência do ser. Dá-se conta que os lóbulos cerebrais não segregam as ideias como os rins e a urina e que o materialismo está assente sobre bases irreais no que se refere à espiritualidade do homem.

   A concepção espírita, que vai além do espiritualismo clássico, tem demonstrado mediante a observação de numerosos factos, que os lóbulos cerebrais não são mais que órgãos pelos quais se manifesta o ser e o pensamento. Consequentemente, o génio de Victor Hugo não esteve radicado na fisiologia especial de seu cérebro, ou seja, o grande poeta de Raios e Sombras, não possuía um cérebro extraordinariamente desenvolvido, pelo contrário, o génio é que foi a causa de seu grande desenvolvimento espiritual.

   O homem Victor Hugo não era igual ao homem comum, sujeito às limitadas percepções dos cinco sentidos corporais. O grande poeta francês foi um exemplo de homem palingenésico dotado, por essa mesma razão, do sexto sentido ou da mediunidade altamente desenvolvida. Assim é que foi vidente, profeta e poeta e pôde compreender o que significam espiritualmente as grandes epopeias da humanidade. Compreendeu assim que a Revolução Francesa sem uma revolução espiritual não seria mais que um fenómeno político de ordem local.  

   Descobriu também que em cada homem pode estar reencarnado um rei, um mendigo, um santo ou um malfeitor; por isso o poeta conseguiu perceber que as verdadeiras raízes da história estão no espírito. Para Hugo os processos sociais eram o resultado de impulsos morais provenientes de espíritos reencarnados e não cegos tumultos políticos. O próprio Jean Valjean, condenado por roubar um pão, pôde ser, de acordo com as visões espíritas do poeta, um espírito reencarnado com a missão de obrigar os poderosos a não serem, impiedosos para com os miseráveis da terra.

   Mas, por que se ocultam e dissimulam as ideias espíritas de Victor Hugo? Será que o génio é grande somente quando apoia a cultura materialista?

   A única coisa que nos atrevemos a responder é que Victor Hugo havia sobrepujado as velhas concepções espirituais e que o seu génio pôde abrir as suas asas mercê do que as revelações mediúnicas da Ilha de Jersey tão objectivamente demonstraram. Eis o que tentaremos ver nos próximos capítulos.
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Humberto MariottiVictor Hugo Espírita, Em torno do ser profundo de Victor Hugo, 4º fragmento da obra.
(imagem: Criança com uma boneca, pintura de Anne-Louis GIRODET-TRIOSON)

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