Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

pensamento crítico ~


A tese das “materia-lizações românticas”

   Não se pense, porém, que o desprezo ficou no que dissemos. Longe disso, ele foi e vai muito além. Quando se trata de contradizer o Espiritismo e de factos espíritas, tudo parece permitido aos homens de ciência e aos homens de letras. Não há fronteiras para a imaginação, nem limites para o raciocínio.

   É assim que, ilustrando o volume com várias fotografias espíritas, os autores reproduzem um quadro de Tissot e o comparam à famosa fotografia da “cabeça materializada”, obtida por Notzing e madame Bisson, com a médium Eva Carriere. Para concluírem: “Antes da época dos flagrantes fotográficos, o grande pintor Tissot mostrou-nos o que acreditava ser a reencarnação de uma mulher amiga, acompanhada do seu Espírito-guia; é uma bela pintura, onde ele reproduziu a impressão de verdadeira beleza, recebida numa sessão espírita. Os métodos mais rigorosos, que hoje se usam, já não permitem essas sublimações do testemunho visual: as câmaras fotográficas mostram as coisas como elas se passam. E vemos que essas figuras e rostos materializados começam pequenos e às vezes desproporcionalmente. Quaisquer que possam ser essas figuras e faces achatadas e amarfanhadas, não são, certamente, materializações em carne e sangue humano”.

   Richet escreveu o Traité sem aceitar a tese espírita, mas contudo jamais cometeu a heresia de dizer que as materializações eram fantoches amarfanhados. Encontramos no Traité essa mesma cabeça de que se servem os Wells e Huxley, mas apresentada em outro sentido, ou seja, no bom e verdadeiro sentido que se lhe deve dar: como uma das mais belas fotografias já obtidas, revelando e documentando, de maneira insofismável, uma das fases do processo de materialização. Não tivéssemos essa e outras fotografias obtidas por Notzing e madame Bisson, e esses mesmos ilustres cavalheiros nos acusariam de não havermos surpreendido jamais uma das fases daquilo que chamamos “processo de materialização”. Não teriam dúvidas em utilizar esse facto como argumento “poderoso” contra a teoria da formação progressiva do fantasma, com a matéria plástica do ectoplasma ou teleplasma.

   Perguntaremos, porém, a esses ilustres divulgadores do conhecimento, se não tiveram a oportunidade de ver outras fotografias, como a médium Linda Gazzera, constantes do seu livro Fotografias de Fantasmas, no qual elas figuram, não através de clichês, mas nas próprias cópias fotográficas, para que não haja dúvidas.
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José Herculano Pires, Espiritismo Dialéctico, A tese das “materializações românticas”, 8º fragmento da obra.
(imagem: Diógenes, pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio, 1509)

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