V
A Justiça Divina e a Atual Guerra
|14 de julho de 1915|
Soldados que, na linha de batalha, mostrais ao inimigo a
trincheira de vossos peitos e de vossos valentes corações, sois a carne de
nossa carne, o sangue de nosso sangue, a força e a esperança de nossa raça.
As irradiações de nossos pensamentos e de nossas vontades se
dirigem a vós, para vos sustentar na luta ardente em que estais empenhados.
Escutai, vós também, a harmonia que neste dia sobe das
planícies, dos vales e dos bosques, das cidades populosas e dos campos
modestos, unidos aos toques marciais do clarim e aos vibrantes acordes da Marseillaise! É a voz da pátria que vos
diz:
“Velai e lutai. Combateis pelo que há de mais sagrado neste
mundo, pelo princípio de liberdade que Deus colocou no homem e que ele próprio
respeita: a liberdade de pensar e de agir sem precisar prestar contas ao
estrangeiro.
Combateis pela manutenção do património que os séculos nos
legaram, pelo cemitério onde jazem nossos antepassados, pelos campos que nos
alimentaram e por todos os tesouros da arte e da beleza acumulados pelo
trabalho lento das gerações em nossas bibliotecas, museus e catedrais.
Combateis para conservar a nossa língua, esse idioma tão
meigo que o mundo todo considera como a expressão mais nítida e mais clara do
pensamento humano.
Defendeis o lar da família, onde gostais de repousar o vosso
espírito e a vossa alma, o berço de vossos filhos e os túmulos de vossos pais!
Soldados, vós crescestes do ponto de vista terreno. Por
vossa firmeza na provação e por vosso heroísmo nos combates, elevastes o
prestígio da França aos olhos do mundo e tornastes mais brilhante a auréola de
glória que lhes ornamenta a fronte.
É bom, agora, aspirar aos céus, cumprindo erguer os
pensamentos para Deus, que é a fonte de toda a força e de toda vida!”
Para vencer, não bastam armas aperfeiçoadas e um poderoso
instrumental material; é preciso também ter ideal e disciplina. É necessário
que as almas tenham confiança num futuro infinito, a fé esclarecida e a certeza
de que uma justiça infalível preside os destinos de todos nós.
Tomai cuidado com os negadores de verdades evidentes e com
os que dizem que a morte é o fim de tudo, que o ser perece completamente, que
os esforços, as lutas e os sofrimentos do ser humano só obtêm como recompensa o
nada.
Acostumai-vos a orar antes da batalha e a suplicar o socorro
do Alto, porque, abrindo-lhes os vossos corações, ele se tornará mais intenso e
mais poderoso.
Desconfiai de quem vos diz: “Não há fronteiras, a pátria é
apenas uma palavra e todos os povos são irmãos.” Reims, Soissons, Arras e
tantas outras cidades podem falar, eloquentemente, sobre essas teorias. Não foi
com elas que nossos antepassados constituíram a França, através dos séculos,
tornando-a grande, forte e respeitada.
Cada povo tem seu talento particular, mas para manifestá-lo,
precisa de independência e é dessa diversificação e desses mesmos contrastes
que surge o incentivo e nascem o progresso e a harmonia.
Soldados, escutai a sinfonia que sobe das planícies, dos
vales e dos bosques, misturada aos rumores das cidades, aos cânticos
patrióticos e às fanfarras guerreiras.
Das florestas de Argonne aos desfiladeiros dos Pirenéus, das
margens floridas da Côte d’Azur aos jardins da Touraine e às praias da
Normandia, dos promontórios bretões, banhados pelas ondas, até aos Alpes majestosos,
a grande voz da França entoa o seu hino eterno!
Sua prece se ergue ainda mais alto, a prece dos vivos e a
dos mortos, a prece de um povo que não está disposto a morrer e que, em meio a
sua angústia, volta-se para Deus e invoca socorro, a fim de salvar sua independência
e manter intactas sua glória e sua grandeza!
/…
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, V – A Justiça
Divina e a Atual Guerra, 4 de 4, 17º fragmento da obra.
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos
Alemães, durante a Primeira Guerra
Mundial)
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