Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

domingo, 16 de dezembro de 2012

O Mundo Invisível e a Guerra~


V
A Justiça Divina e a Atual Guerra

|14 de julho de 1915|

   Soldados que, na linha de batalha, mostrais ao inimigo a trincheira de vossos peitos e de vossos valentes corações, sois a carne de nossa carne, o sangue de nosso sangue, a força e a esperança de nossa raça.

   As irradiações de nossos pensamentos e de nossas vontades se dirigem a vós, para vos sustentar na luta ardente em que estais empenhados.

   Escutai, vós também, a harmonia que neste dia sobe das planícies, dos vales e dos bosques, das cidades populosas e dos campos modestos, unidos aos toques marciais do clarim e aos vibrantes acordes da Marseillaise! É a voz da pátria que vos diz:

   “Velai e lutai. Combateis pelo que há de mais sagrado neste mundo, pelo princípio de liberdade que Deus colocou no homem e que ele próprio respeita: a liberdade de pensar e de agir sem precisar prestar contas ao estrangeiro.

   Combateis pela manutenção do património que os séculos nos legaram, pelo cemitério onde jazem nossos antepassados, pelos campos que nos alimentaram e por todos os tesouros da arte e da beleza acumulados pelo trabalho lento das gerações em nossas bibliotecas, museus e catedrais.

   Combateis para conservar a nossa língua, esse idioma tão meigo que o mundo todo considera como a expressão mais nítida e mais clara do pensamento humano.

   Defendeis o lar da família, onde gostais de repousar o vosso espírito e a vossa alma, o berço de vossos filhos e os túmulos de vossos pais!

   Soldados, vós crescestes do ponto de vista terreno. Por vossa firmeza na provação e por vosso heroísmo nos combates, elevastes o prestígio da França aos olhos do mundo e tornastes mais brilhante a auréola de glória que lhes ornamenta a fronte.

   É bom, agora, aspirar aos céus, cumprindo erguer os pensamentos para Deus, que é a fonte de toda a força e de toda vida!”

   Para vencer, não bastam armas aperfeiçoadas e um poderoso instrumental material; é preciso também ter ideal e disciplina. É necessário que as almas tenham confiança num futuro infinito, a fé esclarecida e a certeza de que uma justiça infalível preside os destinos de todos nós.

   Tomai cuidado com os negadores de verdades evidentes e com os que dizem que a morte é o fim de tudo, que o ser perece completamente, que os esforços, as lutas e os sofrimentos do ser humano só obtêm como recompensa o nada.

   Acostumai-vos a orar antes da batalha e a suplicar o socorro do Alto, porque, abrindo-lhes os vossos corações, ele se tornará mais intenso e mais poderoso.

   Desconfiai de quem vos diz: “Não há fronteiras, a pátria é apenas uma palavra e todos os povos são irmãos.” Reims, Soissons, Arras e tantas outras cidades podem falar, eloquentemente, sobre essas teorias. Não foi com elas que nossos antepassados constituíram a França, através dos séculos, tornando-a grande, forte e respeitada.

   Cada povo tem seu talento particular, mas para manifestá-lo, precisa de independência e é dessa diversificação e desses mesmos contrastes que surge o incentivo e nascem o progresso e a harmonia.

   Soldados, escutai a sinfonia que sobe das planícies, dos vales e dos bosques, misturada aos rumores das cidades, aos cânticos patrióticos e às fanfarras guerreiras.

   Das florestas de Argonne aos desfiladeiros dos Pirenéus, das margens floridas da Côte d’Azur aos jardins da Touraine e às praias da Normandia, dos promontórios bretões, banhados pelas ondas, até aos Alpes majestosos, a grande voz da França entoa o seu hino eterno!

   Sua prece se ergue ainda mais alto, a prece dos vivos e a dos mortos, a prece de um povo que não está disposto a morrer e que, em meio a sua angústia, volta-se para Deus e invoca socorro, a fim de salvar sua independência e manter intactas sua glória e sua grandeza!
/…


LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, V – A Justiça Divina e a Atual Guerra, 4 de 4, 17º fragmento da obra.
(imagem: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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