Capítulo II
Como foi exposto no artigo precedente, tudo se encadeia e se harmoniza na imensa escala das forças. Cada vibração sonora desperta, na matéria, uma repercussão corres-pondente. É conhecido o fenómeno dos diapasões que vibram, em uníssono, quando se afinam e quando um só deles foi posto em movimento. Numa ordem mais subtil, a mesma lei se aplica às ondas eléctricas, que transmitem o pensamento a enormes distâncias e constituem a telegrafia sem fio; basta, para isso, que dois postos tenham seus “comprimentos de ondas” em relação de mesma identidade.
É assim que a Natureza nos mostra, em todos os graus e em
todas as coisas, a lei harmónica que imprime o seu ritmo à vida universal.
Encontramos os efeitos dessa lei, em um grau superior, em todas as relações que
unem os mundos visível e invisível, e em todas as relações que podem se
estabelecer entre os homens e os espíritos.
Nós já dissemos que o pensamento é a força por excelência
que comanda as outras forças e as impregna com suas qualidades ou com seus
defeitos. O magnetizador, o terapeuta cedem a seus fluidos um poder curativo, o
feiticeiro lhes imprime as propriedades maléficas. O pensamento puro e generoso
é uma luz. Dos espíritos superiores desprende-se uma claridade radiante que
ofusca e afasta os espíritos do abismo. É por isso que a presença de um
espírito protector, nas sessões, constitui uma salvaguarda, uma protecção
contra as fraudes e as obsessões.
Quem poderá negar a força do pensamento? Não é ela que
dirige a Humanidade na sua caminhada áspera e dolorosa? Não é ela que inspira o
génio e prepara as revoluções? Ora, o papel preponderante que essa força
desempenha na História do mundo, nós o reencontramos, num plano mais modesto,
nas reuniões espíritas.
O pensamento do Alto ultrapassa, em energia, todas as forças
da Terra, porém, para se comunicar com os humanos, é preciso oferecer-lhe
condições favoráveis. Assim como os postos de T.S.F. devem ajustar as suas
ondas para receber as mensagens transmitidas, é preciso que as almas dos
assistentes tenham os seus pensamentos e irradiações em harmonia, para perceber
o pensamento superior. Fora dessas condições, a actuação do espírito superior
será difícil, precária, muitas vezes impossível, e o ambiente ficará aberto aos
espíritos levianos e a todas as más influências do Além.
Através de que procedimento pode-se dar aos pensamentos, às
radiações fluídicas dos membros de um mesmo grupo dessa assembleia, esse carácter
elevado, essa espécie de sincronismo que cria um ambiente puro e que permite ao
espírito superior manifestar-se?
Respondemos sem hesitar: pela oração! Não, certamente, como
a prece praticada nas igrejas, essa recitação monótona, murmurada pelos lábios
e sem efeito sobre as vibrações da alma. Nós chamamos de prece o grito do coração,
o apelo ardente, a improvisação calorosa que comunica uma impulsão irresistível
às nossas energias ocultas. Como já vimos mais acima, pelas experiências da
placa sensível, essas energias profundas vibram com intensidade e se impregnam
das qualidades de nossa oração. Desde então, elas facilitam a intervenção dos
espíritos guias, a dos amigos, e afastam os espíritos das trevas. A música,
também, pelo seu ritmo, contribui para unificar os pensamentos e os fluidos.
Enfocados sob esses aspectos, a prece perde o pretenso carácter
místico que certos cépticos lhe atribuem, para tornar-se um meio prático e
positivo, quase científico, de unificar as forças activas e nos apresentar fenómenos
de alto valor. A prece é a expressão máxima do pensamento e da vontade. É nesse
sentido que Allan Kardec a recomendava a seus discípulos. A prece é, para as
religiões, uma fonte preciosa para elevar e melhorar o ser humano, mas a
prática torna-se banal, se ela deixa de ser esse impulso espontâneo da alma,
que lhe faz vibrar as cordas profundas.
/…
Léon Denis, O
Espiritismo e as Forças Radiantes, Capítulo II, 1 de 3, 4º fragmento da obra.
(imagem: Ascensão de Cristo, pintura de Salvador Dali, 1958)
(imagem: Ascensão de Cristo, pintura de Salvador Dali, 1958)
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