O Corpo-Bioplásmico
Quando falei pela primeira vez do corpo-bioplásmico na
televisão, uma cidadã estrangeira telefonou para o estúdio / Canal 13 (São
Paulo) para me fazer uma advertência. Entendia que a descoberta desse corpo do
homem, dos animais e das plantas, feita por físicos e biólogos soviéticos, não
passava de uma nova armadilha
dos materialistas russos na luta contra a religião, com objectivos
certamente políticos. Dizia que conhecera de perto a manha dos soviéticos,
sofrera na pele a sua crueldade e não queria ver-me enganado por eles, servindo
como inocente útil para propagar as suas mentiras no Brasil. Respondi-lhe
tentando explicar que se tratava de um problema científico e não político, que
por sinal nos chegava através de informações universitárias procedentes dos
Estados Unidos. Procurei mostrar-lhe que uma manobra dessa espécie seria hoje
impossível, diante da dinâmica actual da comunicação e da possibilidade de
comprovações ou desmentidos dos meios universitários de todo o mundo. Nada
disso convenceu a senhora, que insistiu de maneira angustiosa na sua
advertência. Depois dela, vários outros telespectadores, na maioria,
estrangeiros, me telefonaram e procuraram pessoalmente, para me fazer
advertências semelhantes. Isso equivale a uma demonstração da falência cultural
do nosso tempo. Não obstante todo o nosso avanço científico e tecnológico,
a praga da
mentira na religião, na política, na administração e em todos os sectores de
actividade públicas leva as pessoas a duvidarem de tudo, a verem por toda a
parte o perigo de manobras com intenções ocultas.
No programa de televisão que deu origem a este livro, no
mesmo Canal 13, a
apresentadora Xênia insistiu na necessidade de sermos francos ao tratar dos
assuntos em pauta. Chegou mesmo a declarar que alguém ali devia ter a coragem
de dizer a verdade sobre o motivo da crise religiosa dos nossos dias. Segundo
pensava, essa crise decorria simplesmente da mentira, como explicou num
programa posterior. Na verdade, a mentira é um dos motivos da crise, mas não o
motivo base. Se eu pensasse assim, não teria nenhuma motivação para contornar a
situação. É que as mentiras pregadas pelas religiões nem sempre são mentiras, mas, enganos decorrentes de falta de compreensão dos problemas essenciais do homem. Seria levar
muito longe a desconfiança na natureza humana, acreditar que pessoas
crentes em Deus organizassem as religiões com a finalidade de iludir o povo. Mas
essa é também uma prova do clima de desconfiança da nossa época. Encontramos
nas religiões muitas pessoas cultas, inteligentes, honestas, que acreditam
piamente nas coisas mais absurdas por
aceitarem a infalibilidade dos dogmas e das interpretações escriturísticas.
O problema da descoberta do corpo-bioplásmico situa-se de
tal maneira no quadro dos avanços actuais da Ciência, representando mesmo uma
consequência lógica desses progressos, que não deveria suscitar dúvidas a
ninguém medianamente informado. A descoberta da antimatéria, as
pesquisas parapsicológicas, o desenvolvimento da medicina psicossomática, as
sondagens cósmicas da astronáutica e outras prodigiosas conquistas do nosso
tempo conduziam naturalmente o homem à descoberta da sua própria natureza. Imagine-se
um mundo em que a Ciência houvesse provado a indestrutibilidade de todas as
coisas mas continuasse a aceitar o dogma materialista da destruição total e
absoluta do homem pela morte. Imagine-se a cultura aberta desse mundo
endossando o pessimismo doentio de Sartre que prega a
nadificação do homem, a sua frustração total na morte e considera a doutrina da
evolução, do pensamento de Heidegger, como uma
queda no misticismo vulgar. O espectáculo do pensamento sartreano, tão
rico em intuições filosóficas e tão decepcionante na sua conclusão ontológica,
esse espectáculo desnorteante da cultura contemporânea, seria
uma gota d’água, perante esse possível absurdo de âmbito universal.
O equívoco marxista do materialismo já foi ultrapassado pelo
desenvolvimento científico e filosófico do nosso tempo. Já não há lugar, na
cultura actual, para os dogmas religiosos e os dogmas materialistas. Entre os
cientistas soviéticos é evidente a existência de muitos dissidentes do
oficialismo tipo século XIX. O interesse actual da URSS pelas pesquisas
parapsicológicas é um indício claro, indício que a China Vermelha se incumbe de
confirmar, ao reagir violentamente contra ele. Todos sabemos que o Prof.
Raikov (Wladimir) e outros pesquisadores soviéticos, na Universidade
de Moscovo e em muitas outras da URSS, se entregam à pesquisa científica da reencarnação,
embora disfarçando-a em anomalia mental que tem de ser esclarecida no campo
psiquiátrico. A verdade revela-se em toda a parte e, mais hoje, mais amanhã,
tornar-se-há evidente.
As câmaras kirlian, de fotografias sobre campos imantados de
alta frequência eléctrica, foram descobertas por acaso pelo casal Kirlian e, os
cientistas soviéticos mais astutos logo lhes perceberam o alcance. Adaptando-as
a poderosos microscópios electrónicos, conseguiram descobrir, no interior dos
corpos vivos; vegetais, animais, homens, uma estrutura de plasma
físico, constituída de partículas atómicas, que se
apresentava como um corpo básico e sustentador da vida e das actividades vitais
e psíquicas do corpo material. A importância desta descoberta é de
tal dimensão que não poderia ser negligenciada, pois representa uma verdadeira
revolução copérnica na Física, na Biologia e na Antropologia, para só citarmos
três campos fundamentais. Mas é bom lembrar, de passagem, o que ela
representará para a Psicologia, a Medicina, a Psiquiatria e a Psicoterapia em
geral. Basta dizer que os soviéticos já descobriram que o
corpo-bioplásmico fornece elementos para a verificação do estado geral de saúde
do corpo físico, permitindo também a prevenção de doenças e dos distúrbios, nos
seres vivos, de qualquer natureza. Por outro lado, as pesquisas
realizadas nos Estados Unidos, confirmam a descoberta soviética.
Desde o século passado, vários cientistas se empenharam na
descoberta de meios, para provar a existência, no homem, do chamado corpo
espiritual ou duplo-etéreo. Em 1943, Raoul
Montandon, publicou, na Suíça, um curioso livro intitulado De
la Bête à l'Homme (Do Animal ao Homem) relatando pesquisas
psicológicas que mostram semelhanças significativas entre o reino animal e o
hominal e pesquisas científicas que provavam a existência nos animais de um
corpo energético.
Essas pesquisas são relatadas no capítulo intitulado Sobrevivência
Animal. Várias fotografias batidas com filmes sensíveis à luz infravermelha, de
grupos de gafanhotos e insectos mortos com éter, revelavam ao lado dos animais
mortos, uma sombra semelhante
ao corpo morto, enquanto, ao lado dos que não haviam morrido, mas estavam em
estado letárgico, não aparecia a mesma sombra. No capítulo das fotografias
psíquicas, batidas ocasionalmente ou em sessões mediúnicas experimentais, os
anais espíritas apresentam um volume impressionante de casos significativos,
cercados de todos os recursos de
garantia da autenticidade do fenómeno.
No caso actual das pesquisas soviéticas, com aparelhagem
técnica de precisão, a demonstração da existência desse corpo extrafísico (para
usarmos a expressão parapsicológica actual) foi decisiva. Os
soviéticos, operando em comissão científica oficial, na Universidade de
Alma-Ata, no Casaquestão, fizeram experiências com moribundos e
conseguiram verificar a retirada total
do corpo-bioplásmico dos mortos, cujos corpos materiais só então se
cadaverizavam. Não tendo sido possível fotografar esse corpo depois do seu
desprendimento do cadáver, empregaram a técnica de pesquisa por meio de
detectores de pulsações biológicas
e verificaram, surpreendidos, que as pulsações captadas indicavam a presença do
corpo-bioplásmico no ambiente.
Bastam estes dados sumários ao objecto deste livro. Dados
mais completos e minuciosos já foram divulgados entre nós com a edição da
tradução do livro de Sheila
Ostrander e Lynn
Schroeder, pesquisadoras norte-americanas que entrevistaram os cientistas
soviéticos na URSS, e cujo trabalho foi editado pela imprensa da Universidade
de Prentice Hall (USA) e posteriormente pela editora Bantam Books, de Nova
Iorque. A descoberta do corpo-bioplásmico constitui uma confirmação
científica, proveniente do campo materialista, da teoria do perispírito.
Segundo o Espiritismo,
o perispírito é o corpo espiritual de que tratou o Apóstolo Paulo na I
Epistola aos Corintos. A sua função é servir ao espírito como instrumento para
a sua manifestação nos planos materiais. É através dele que o espírito se liga
à matéria no processo da encarnação. Durante
a Vida terrena ele é o agente das actividades orgânicas. Mantém a vida do corpo
e serve de campo padronizador durante
o desenvolvimento deste, a partir da fecundação, regendo a formação do embrião. Na
morte, o perispírito desliga-se
progressivamente do corpo material, que só se cadaveriza com o seu desligamento
total. Na maioria das pessoas
o perispírito, após a morte, permanece nas proximidades do
cadáver por tempo mais ou menos longo, em virtude da atracção
que os despojos exercem ainda sobre o espírito. (*) Esse corpo é
considerado na doutrina espírita como semi-material, constituído de energias
materiais e espirituais em integração. É o corpo da ressurreição, conforme já
afirmava o Apóstolo Paulo.
Todas essas características do perispírito são
confirmadas pelas observações dos cientistas soviéticos, que consideraram esse
corpo como material, constituído por um plasma físico formado de partículas atómicas. Mas um facto
intrigante aparece nas pesquisas soviéticas: esse corpo só pode ser visto e
fotografado enquanto está ligado ao corpo material. Uma vez desprendido, já não
está ao alcance das câmaras kirlian.
Somente os detectores de
pulsações biológicas podem constatar a sua presença no ambiente. As câmaras
kirlian, coma já vimos, só podem agir sabre campos materiais imantados por
correntes eléctricas de alta frequência. Desligado do corpo material, o
corpo-bioplásmico ou perispírito, não
oferece condições para isso. Parece-me evidente o motivo por que ele,
então se torna inacessível. Já não está revestido de um campo material, embora contenha
na sua própria estrutura, energias materiais. O próprio nome
científico dado a esse corpo-bioplásmico, mostra a sua função vital e a sua
natureza plásmica. Esse problema entretanto, não é somente físico. Na proporção
em que o espírito, liberto da matéria, se vai integrando no mundo espiritual, o
seu perispírito se vai libertando dos elementos materiais.
A descoberta deste corpo pelos materialistas,
representa a maior vitória do Espiritismo e ao mesmo
tempo a conquista mais importante da nossa era científica, pois com ela, a
Ciência terrena, dá o primeiro passo para a sua fusão futura com a Ciência
espiritual. Este é o sinal mais significativo de que estamos entrando na Era do
Espírito. Oliver
Lodge referiu-se ao túnel mediúnico,
uma via de ligação do mundo material com o mundo espiritual, acentuando que
esse túnel vem sendo cavado dos dois lados, pelos homens e pelos espíritos.
Quando os trabalhadores daqui e do além se encontrarem, o túnel
estará aberto e a comunicação entre os dois planos se tornará tão fácil
como as comunicações entre as várias regiões da Terra. Até agora
somente os espíritas trabalhavam do lado de cá. De agora por diante, os
cientistas também darão a sua cota parte a esse serviço.
A descoberta do corpo-bioplásmico e os estudos sobre as suas
funções e a sua estrutura vêm também contribuir para que os enganos das religiões
cristãs sejam corrigidos. Pouco a pouco a verdade se impõe e a mentira vai
sendo afastada. A Religião, que constitui, como a Filosofia e a
Ciência, uma das grandes províncias do Conhecimento, está prestes a retomar o
seu lugar no plano cultural. Mas para isso as religiões sectárias deverão
seguir aquela advertência de Jesus:
perder a sua vida individual para
fundir-se na vida colectiva,
num processo livre de religiosidade universal que nos dará a Religião em
Espírito e Verdade. Foi essa a profecia de Jesus à mulher samaritana.
Não há nenhuma outra saída para a crise religiosa do nosso
tempo. As teologias artificiais, como a da Morte de Deus, são ensaios de voo
cego num céu vazio, nublado pela dúvida. A realidade é só uma. A confirmação
positiva da existência do espírito, através da Ciência em desenvolvimento
acelerado, porá um ponto final nas especulações religiosas. E não há nenhuma
outra plataforma, na Terra, para a execução dessa reintegração da Religião no
campo cultural, além da obra de Kardec. Os homens do
futuro, ficarão estarrecidos, ao verem que tivemos todos os dados nas mãos para
fazer essa integração no nosso tempo e não conseguimos fazê-la. Perguntarão a
si mesmos o que nos faltou e talvez alguém lhes diga: a humildade.
/…
José Herculano Pires, Agonia das Religiões / Capítulo 8 – O Corpo-Bioplásmico, 9º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Paraíso Perdido, estudo
do Anjo, lápis e giz de Alexandre Cabanel).
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