Notas Bibliográficas
A RAZÃO DO ESPIRITISMO (*)
POR MICHEL BONNAMY
POR MICHEL BONNAMY
Juiz de instrução; membro dos congressos científicos de
França; antigo membro do conselho geral de Tarn-et-Garonne.
Quando apareceu o romance Mirette, os Espíritos
disseram estas palavras notáveis na Sociedade de Paris:
“O ano de 1866 apresenta a filosofia nova sob todas as
formas; mas ainda é a haste verde que contém a espiga de trigo e, para a
mostrar, espera que o calor da primavera a tenha amadurecido e feito
desabrochar. 1866 preparou, 1867 amadurecerá e realizará. O ano vai
abrir sob os auspícios de "Mirette" e não se esvairá sem ver
aparecerem novas publicações do mesmo género e mais sérias ainda, no sentido em
que o romance há de tornar-se filosofia e a filosofia se fará história.” (Revista
de Fevereiro de 1867).
Anteriormente eles já haviam dito que se preparavam diversas
obras sérias sobre a filosofia do Espiritismo, nas quais o nome da doutrina não
seria timidamente dissimulado, mas confessado e proclamado em voz alta por
homens cujo nome e posição social dariam peso à sua opinião e; acrescentáram
que o primeiro apareceria provavelmente no fim do presente
ano.
A obra que anunciamos realiza completamente esta previsão. É
a primeira publicação deste género na qual a questão é encarada em todas as
suas partes e em toda a sua grandeza. Pode, pois, dizer-se que inaugura
uma das fases da existência do Espiritismo. O que a caracteriza é que
não é uma adesão banal aos princípios da doutrina, uma simples profissão de fé,
mas uma demonstração rigorosa, onde os próprios adeptos encontrarão novas
ideias. Lendo esta argumentação cerrada, levada, a bem dizer, até a minúcia e, por um encadeamento lógico das ideias, perguntar-se-á, certamente, por que
singular extensão do vocábulo se poderia aplicar ao autor o epíteto de louco.
Se é um louco que assim discute, poder-se-á dizer que às vezes os loucos tapam
a boca de gente que se diz sensata. É uma defesa exemplar, onde se reconhece o
advogado que quer reduzir a réplica aos seus últimos limites; mas aí se
reconhece, também, aquele que estudou a causa seriamente e a perscrutou nos
seus mais minuciosos detalhes. O autor não se limita a emitir a sua opinião:
ele a motiva e dá a razão de ser de cada coisa. É por isso que, com toda a
justiça, intitulou o seu livro de A Razão do Espiritismo.
Ao publicar esta obra, sem esconder a sua personalidade nem
com o mais pequeno véu, o autor prova que tem a verdadeira coragem da sua
opinião e, o exemplo que dá é um título ao reconhecimento de todos os
espíritas. O ponto de vista em que se colocou é principalmente o das
consequências filosóficas, morais e religiosas, as que constituem o objectivo
essencial do Espiritismo e dele faz uma obra humanitária.
Aliás, eis como ele se expressa no prefácio.
“Está nas vicissitudes das coisas humanas, ou, melhor
dizendo, parece fatalmente reservado a toda a ideia nova ser mal
acolhida no seu aparecimento. Como, a maior parte das vezes, tem por
missão derrubar ideias que a precederam, encontra muito grande resistência da
parte do entendimento humano.
“O homem que viveu com preconceitos não acolhe senão com
desconfiança a recém-chegada, que tende a modificar, a destruir mesmo
combinações e ideias fixas no seu espírito, a forçá-lo, numa
palavra, a meter mãos à obra, para correr atrás da verdade. Aliás, sente-se
humilhado no seu orgulho, por ter vivido no erro.
“A repulsa que inspira a ideia nova é muito mais acentuada
ainda quando traz consigo obrigações, deveres; quando impõe uma linha de
conduta mais severa.
“Ela encontra enfim ataques sistemáticos, ardentes,
obstinados, quando ameaça posições conquistadas e, sobretudo quando se defronta
com o fanatismo ou com opiniões profundamente arraigadas na tradição dos
séculos.
“As doutrinas novas, pois, têm sempre numerosos detractores;
muitas vezes elas têm mesmo que sofrer perseguição, o que levou Fontenelle a
dizer: ‘Que se tivesse todas as verdades na mão, teria o cuidado de não a
abrir.’
“Tais eram o desfavor e os perigos que esperavam o
Espiritismo aquando do seu aparecimento no mundo das ideias. Os insultos, a
zombaria, a calúnia não lhe foram poupados e; talvez, também venha o dia da
perseguição. Os adeptos do Espiritismo foram tratados por iluminados,
alucinados, patetas e loucos e, a essa enxurrada de epítetos que, todavia,
pareciam contradizer-se e excluir-se, acrescentaram os de impostores,
charlatães e, finalmente, de partidários de Satã.
“A qualificação de louco é a que parece mais
especialmente reservada a todo o promotor ou propagador de ideias novas. É
assim que trataram de louco o primeiro que se atreveu a dizer que a Terra
girava em volta do Sol.
“Também era louco o célebre navegador que descobriu um novo
mundo. Ainda era louco, para o areópago (i) da Ciência, o
que descobriu a força do vapor. E a douta assembleia acolheu, com sorriso desdenhoso,
a sábia dissertação de Franklin sobre as
propriedades da electricidade e a teoria do pára-raios.
“Ele também, o divino regenerador da Humanidade, o
reformador autorizado da lei de Moisés, não foi tratado de louco? Não expiou
por um suplício ignominioso a propagação dos benefícios da moral divina na
Terra?
“Galileu não
expiou como herético, num sequestro cruel e em amargas perseguições morais, a
glória de ter sido o primeiro a ter a iniciativa do sistema planetário cujas
leis Newton haveria
de promulgar?
“São João Baptista (i), o precursor do
Cristo, também tinha sido sacrificado à vingança dos culpados, cujos crimes
condenara.
“Os apóstolos, depositários dos ensinamentos do divino
Messias, tiveram que selar com sangue a santidade de sua missão. E a religião
reformada por sua vez não foi perseguida e, depois dos massacres de São
Bartolomeu, não teve que sofrer as dragonadas?
"Enfim, remontando até ao ostracismo inspirado por outras paixões, vemos Aristides exilado e Sócrates condenado a beber cicuta.
"Enfim, remontando até ao ostracismo inspirado por outras paixões, vemos Aristides exilado e Sócrates condenado a beber cicuta.
“Sem dúvida, graças aos costumes suaves que
caracterizam o nosso século, sob o império das nossas instituições e das luzes
que põem um freio à intolerância fanática; as fogueiras já não se erguerão para
purificar com as suas chamas as doutrinas espíritas, cuja paternidade pretendem
fazer remontar a Satã. Mas elas também devem esperar um levante dos
mais hostis e o ataque de ardentes adversários.
“Entretanto, este estado militante não poderia debilitar a
coragem dos que estão animados de uma convicção profunda, dos que têm
a certeza de ter nas mãos uma dessas verdades fecundas, que constituem, nos
seus desdobramentos, um grande benefício para a Humanidade.
“Mas, seja como for o antagonismo das ideias ou das
doutrinas que o Espiritismo suscitar; sejam quais forem os perigos que
devam abrir-se debaixo dos pés dos adeptos, o espírita não poderia deixar esta
luz debaixo do alqueire e recusar-se a dar-lhe todo o brilho que ela comporta, o
apoio das suas convicções e o testemunho sincero de sua consciência.
“O Espiritismo, revelando ao homem a economia da sua
organização, iniciando-o no conhecimento dos seus destinos, abre um campo
imenso às suas meditações. Assim o filósofo espírita, chamado a levar as suas
investigações a esses novos e esplêndidos horizontes só tem por limites o
infinito. Assiste, de certo modo, ao conselho supremo do Criador. Mas
o entusiasmo é o escolho que deve evitar, sobretudo quando lança as suas vistas
sobre o homem, tornado tão grande e que, no entanto, por orgulho se faz tão
pequeno. Não é senão quando esclarecido pelas luzes de uma
prudente razão e, tomando por guia a fria e severa lógica, que deve dirigir as
suas peregrinações no domínio da ciência divina, cujo véu foi erguido pelos
Espíritos.
“Este livro é o resultado dos nossos próprios estudos e das
nossas meditações sobre este assunto que, desde o início, nos pareceu
de importância capital e ter consequências da mais alta gravidade. Reconhecemos
que estas ideias têm raízes profundas e nelas entrevimos a aurora de uma nova
era para a sociedade. A rapidez com que se propagam é um indício de sua próxima
admissão no número das crenças aceites. Na razão da sua importância, não nos
contentámos com afirmações e argumentos da doutrina; não só nos
assegurámos da realidade dos factos, mas perscrutámos com minuciosa atenção os
princípios deles decorrentes; buscámos a sua razão com fria imparcialidade, sem
negligenciar o estudo não menos consciencioso das objecções que os antagonistas opõem; como um juiz que escuta as duas partes contrárias,
pesámos maduramente os prós e os contras. Só depois de haver adquirido a
convicção de que as alegações contrárias nada destroem; que a doutrina repousa
sobre bases sérias, numa lógica rigorosa e, não em devaneios quiméricos; que
contém o gérmen de
uma renovação salutar do estado social, minado secretamente pela incredulidade;
que é, enfim, uma poderosa barreira contra a invasão do materialismo e da
desmoralização é, que julgámos dever dar a nossa apreciação pessoal e, as
deduções que tirámos de um estudo atento.
“Assim, tendo encontrado uma razão de ser nos
princípios desta nova ciência, que tem lugar reservado entre os conhecimentos
humanos, intitulámos o nosso livro A Razão do Espiritismo.
Este título é justificado pelo ponto de vista sob o qual encaramos o assunto e, os que nos lerem reconhecerão sem dificuldade que este trabalho não é produto
de um entusiasmo leviano, mas de um exame maduro e friamente reflexivo.
“Estamos convictos de que, quem quer que, sem partido
preconcebido de oposição sistemática, fizer, como nós fizemos, um estudo
consciencioso da Doutrina Espírita, a considerará como uma das
coisas que interessam no mais alto grau ao futuro da Humanidade.
“Dando a nossa adesão a esta doutrina, usamos do direito de
liberdade de consciência, que a ninguém pode ser contestado, seja qual for a
sua crença. Com mais forte razão esta liberdade deve ser respeitada, quando tem
por objectivo princípios da mais alta moralidade, que conduzem os homens à
prática dos ensinamentos do Cristo e, por isso mesmo, são a salvaguarda da
ordem social.
“O escritor que consagra a sua pena a traçar as impressões
que tais ensinamentos deixaram no santuário da sua consciência, deve
guardar-se bem de confundir as elucubrações brotadas no seu horizonte terrestre
com os raios luminosos partidos do céu. Se ele se limitar aos pontos
obscuros ou ocultos às suas explicações, pontos que ainda não lhe é dado
conhecer é, que, aos olhos da sabedoria divina, ficam reservados para um grau
superior na escala ascendente de sua depuração progressiva e de sua
perfectibilidade.
“Todavia, apressemo-nos a dizê-lo, todo o homem convicto
e consciencioso, consagrando as suas meditações à difusão de uma verdade
fecunda para a felicidade da Humanidade, mergulha a sua pena na atmosfera
celeste, onde o nosso globo está imerso e, recebe incontestavelmente a centelha da inspiração.”
A indicação do título dos capítulos dará a conhecer o quadro
abarcado pelo autor.
1. Definição do Espiritismo. – 2. Princípio do bem e do mal.
– 3. União da alma com o corpo. – 4. Reencarnação. – 5. Frenologia. (i) – 6. Pecado
original. – 7. O inferno. – 8. Missão do Cristo. – 9. O purgatório. – 10. O
céu. – 11. Pluralidade dos globos habitados. – 12. – A caridade. – 13. –
Deveres do homem. – 14. Perispírito. (i) – 15.
Necessidade da revelação. – 16. Oportunidade da revelação. – 17. Os anjos e os
demónios. – 18. Os tempos preditos. – 19. A prece. – 20. A fé.
– 21. Resposta aos insultadores. – 22. Resposta aos incrédulos, ateus ou
materialistas. – 23. Apelo ao clero.
Lamentamos que a falta de espaço não nos permita reproduzir
tantas passagens quanto desejaríamos. Limitar-nos-emos a algumas citações.
Cap. III, pág. 41. – “A utilidade recíproca e
indispensável da alma e do corpo para a sua cooperação respectiva constitui,
pois, a razão de ser de sua união. Ela constitui, a mais, para o
Espírito, as condições militantes na via do progresso, onde é chamado a
conquistar a sua personalidade intelectual e moral.
“Como é que esses dois princípios realizam normalmente, no
homem, o fim de sua destinação? Quando o Espírito é fiel às suas
aspirações divinas, restringe os instintos animais e sensuais do corpo e os
reduz à sua acção providencial na obra do Criador; desenvolve-se, cresce. É
a perfeição da obra que se realiza. Chega à felicidade, cujo último termo é
inerente ao grau supremo
da perfectibilidade.
“Se, ao contrário, abdicando da soberania que é chamado a
exercer no corpo, cede ao arrastamento dos sentidos e, se aceita as
suas condições de prazeres terrestres como único objectivo de suas
aspirações, falseia a razão de ser de sua existência e, longe de
realizar os seus destinos, fica estacionário; ligado a esta vida
terrestre que, entretanto, não deveria ter sido para ele senão uma condição
acessória, pois não poderia ser o seu fim, o Espírito, de chefe que era,
torna-se subordinado; como insensato, aceita a felicidade terrena que os
sentidos lhe fazem experimentar e que lhe propõem satisfazer, assim abafando
nele a intuição da
verdadeira felicidade que lhe está reservada. Eis a sua primeira punição.”
No capítulo XII, do inferno, pág. 99, encontramos esta
notável apreciação da morte e dos flagelos destruidores:
“Seria enumerando os flagelos que espalham sobre a Terra o
terror e o pânico, o sofrimento e a morte, que acreditariam poder dar a prova
das manifestações da cólera divina?
“Sabei, pois, temerários evocadores das
vinganças celestes, que os cataclismos que assinalais, longe de terem o
carácter exclusivo de um castigo infligido à Humanidade, são, ao
contrário, um acto da misericórdia divina, que fecha a esta o
abismo onde a precipitavam as suas desordens e, lhe abre as vias do progresso,
que a levarão ao caminho que deve seguir para assegurar a sua regeneração.
“Que são esses cataclismos, senão uma nova fase na
existência do homem, uma era feliz, marcando para os povos e a Humanidade
inteira o ponto providencial do seu adiantamento?
“Sabei, pois, que a morte não é um mal. Farol da
existência do Espírito, ela é sempre, quando vem de Deus o, sinal de sua
misericórdia e de sua assistência benfazeja. A morte é apenas o fim do
corpo, o termo de uma encarnação e,
nas mãos de Deus é, o aniquilamento de um meio corruptor e vicioso, a interrupção de uma corrente funesta, à qual, num momento solene, a Providência
arranca o homem e os povos.
“A morte não é senão uma interrupção na prova
terrestre. Longe de prejudicar o homem, ou antes, o Espírito, ela o
chama a recolher-se no mundo invisível, seja para reconhecer as suas faltas e
as lamentar, seja para se esclarecer e se preparar, por firmes e
salutares resoluções, para retomar as provas da vida terrestre.
“A morte só gela o homem de pavor porque, muito identificado
com a Terra, não tem fé no seu augusto destino, do qual este globo não passa de
dolorosa oficina, na
qual se deve realizar a sua depuração.
“Cessai, pois, de crer que a morte seja um instrumento de
cólera e de vingança nas mãos de Deus; sabei, ao contrário, que ela é ao mesmo
tempo a expressão de sua misericórdia e de sua justiça, seja detendo o
mau na vida da iniquidade, seja abreviando o tempo de provas ou de
exílio do justo sobre a Terra.
“E vós, ministros do Cristo, que do alto do púlpito
da verdade proclamais a cólera e a vingança de Deus e, pareceis, por vossas
eloquentes descrições da fantástica fornalha, atiçar as chamas inextinguíveis
para devorar o infeliz pecador; vós que, dos vossos lábios tão autorizados,
deixais cair esta aterradora epígrafe: ‘Jamais! – Sempre!’ então
esquecestes as instruções de vosso divino Mestre?
Ainda citaremos as seguintes passagens, extraídas do
capítulo sobre o pecado original.
“Em vez de criar a alma perfeita, quis Deus que não fosse
senão por longos e constantes esforços que ela chegaria a desprender-se deste
estado de inferioridade nativa e gravitar para os seus augustos destinos.
“Para chegar a esses fins, deve ela, pois, romper os laços
que a prendem à matéria, resistir ao arrastamento dos sentidos, com a
alternativa de sua supremacia sobre o corpo, ou da obsessão exercida
sobre ela pelos instintos animais.
“É destes laços terrestres que lhe importa libertar-se e
que nela constituem, eles mesmo, as condições de sua inferioridade; eles não
são outros senão o suposto pecado original, o alvéolo que cobre a sua essência
divina. O pecado original constitui, assim, o ascendente primitivo que os
instintos animais devem ter exercido, inicialmente, sobre as aspirações da
alma. Tal é o estado do homem que o Génesis quis representar
sob a figura simples da árvore da ciência do bem e do mal. A intervenção da
serpente tentadora não é outra coisa senão os desejos da carne e a solicitação
dos sentidos; o Cristianismo consagrou esta alegoria como um facto real,
ligando-se à existência do primeiro homem; e, é sobre este facto que baseou o dogma da redenção.
“Colocado deste ponto de vista, é preciso reconhecê-lo, o
pecado original deve ter sido, com efeito e, realmente foi, o de toda a
posteridade do primeiro homem e, assim o será durante uma longa
sucessão de séculos, até à libertação completa do Espírito das opressões da
matéria, libertação que, sem dúvida, tende a realizar-se, mas que
ainda não se fez nos nossos dias.
“Numa palavra, o pecado original constitui as condições da
natureza humana trazendo os primeiros elementos de sua existência, com
todos os vícios que ela gerou.
“O pecado original é o egoísmo, é o orgulho que
presidem a todos os actos da vida do homem;
“É o demónio da inveja e do ciúme que
roem o seu coração;
“É a ambição que perturba o seu sono;
“É a cupidez, que não pode saciar a avidez do
lucro;
“É o amor e a sede de ouro, este elemento
indispensável para dar satisfação a todas as exigências do luxo,
do conforto e do bem-estar, que persegue o século com
tanto ardor.
“Eis o pecado original proclamado pelo Génesis e, que o homem sempre ocultou em si; ele só será apagado no dia em que,
compenetrado dos seus altos destinos, o homem abandonar, conforme a lição do
bom La Fontaine,
a sombra pela presa; o dia em que renunciar à miragem da felicidade terrena,
para voltar todas as suas aspirações para a felicidade real, que lhe está
reservada.
“Que o homem aprenda, pois, a tornar-se digno do seu título
de chefe entre todos os seres criados e, da essência etérea emanada do próprio
seio do seu Criador e de que está repleto. Que seja forte para lutar contra as
tendências do seu envoltório terrestre, cujos instintos são estranhos às suas
aspirações divinas e não poderiam constituir a sua personalidade espiritual;
que o seu único objectivo seja sempre gravitar para a perfeição do seu fim
último e, o pecado original já não existirá para ele.”
O Sr. Bonnamy já é conhecido dos nossos
leitores, que puderam apreciar a firmeza, a independência do seu carácter e a
elevação dos seus sentimentos, pela notável carta que publicámos na Revista de
Março de 1866, no artigo intitulado: O Espiritismo e
a Magistratura. Ele vem hoje, por um trabalho de alto alcance,
emprestar resolutamente o apoio e a autoridade do seu nome a uma causa que, na
sua consciência, considera como a da Humanidade.
Entre os adeptos já numerosos que o Espiritismo conta na
magistratura, o Sr. Jaubert, vice-presidente do tribunal de Carcassonne e, o
Sr. Bonnamy, juiz de instrução em Villeneuve-sur-Lot, são os primeiros que
abertamente arvoraram a bandeira. E o fizeram, não no dia seguinte à
vitória, mas no momento da luta, quando a doutrina é alvo dos ataques dos seus
adversários e, quando os seus aderentes ainda estão sob o golpe da perseguição. Os
espíritas actuais e os do futuro saberão apreciá-lo e não o esquecerão. Quando
uma doutrina recebe os sufrágios de homens tão justamente considerados é, a
melhor resposta às diatribes (i) de que ela possa
ser objecto.
A obra do Sr. Bonnamy marcará os anais do Espiritismo, não
só como a primeira à data no seu género, mas, sobretudo, pela sua importância
filosófica. O autor aí examina a doutrina em si mesma, discute os seus
princípios, dos quais tira a quintessência (i), fazendo
abstracção completa de todo o personalismo o, que exclui qualquer pensamento
corporativista.
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"Aceder ao original francês (i). Nota desta plublicação.
Nota desta publicação: "Julgamos, estas duas
notícias terem interesse actualmente. Foram publicadas na Revue, de
Novembro de 1867. Através delas – viajamos na sustentação das ideias
emancipadoras coligidas por Kardec – aquando, também, de levar ao prelo a sua
obra A Génese. No que contou, na primeira notícia, com a
colaboração de uma figura maior a, do providencial Sr. Bonnamy (**),
que aqui nos concedeu o seu vivo testemunho e muitas palavras honrosas de
gratidão ao Espiritismo e, que realizou uma obra notável de índole espírita; da
qual a primeira notícia é exemplo e nela nos deixou exímios recados
concernentes às boas práticas de orientação no estudo e na divulgação da
doutrina e, um rol inumerável de alertas (muito sérios!) aos párias em redenção
no planeta Terra.
Allan Kardec (i),
aliás, Hippolyte Léon Denisard Rivail, A RAZÃO DO ESPIRITISMO, POR
MICHEL BONNAMY (**) / Juiz de instrução; membro dos congressos
científicos de França; antigo membro do conselho geral de Tarn-et-Garonne, No
Prelo... | Jornal de Estudos Psicológicos de Novembro de
1867, Publicação sob a direcção de Allan Kardec, 5º fragmento
da Revista objecto do presente titulo desta publicação.
(imagem de contextualização: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)
(imagem de contextualização: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)
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