Sursum Corda
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~~ 8 de Junho de 1918 ~
Espíritas, elevemos as nossas almas à altura dos males que
ameaçam a pátria e a humanidade, porque é nos tempos de provações que as nobres
virtudes e a coragem viril se revelam.
Faz pouco tempo, naquelas horas de paz e de bem-estar que
parecem já tão distantes, muitos, dentre nós, dirigiam os pensamentos e a
vontade para uma vida fácil e até mesmo de sensualidade, mas ao golpe dos
acontecimentos, importa que as energias enfrentem o perigo, a fim de alentar e
fortificar os que, na trincheira, combatem pela salvação nacional.
Como todos os adeptos sabem, o pensamento e a
vontade são forças que, operando de modo constante no mundo dos
fluidos, podem adquirir um poder irresistível. Ao mesmo tempo, servirão de
apoio às legiões de espíritos que, nestes últimos quatro anos, nas horas de
perigo, não se cansaram de amparar e encorajar os nossos defensores,
transmitindo-lhes a impetuosa coragem que o mundo admira.
Os nossos protectores invisíveis repetem constantemente:
“Uni os vossos pensamentos e os vossos corações! Se todas as vontades,
amparadas pela oração, de um ao outro ponto do país, convergissem
para um fim único, a vitória estaria garantida.”
Nos mais terríveis momentos da sua história, a França tem
comprovado toda a sua grandeza, pois, diante do perigo iminente, em 1429, em
1792, em 1870 e em 1914, se reergueu firme, resoluta e inquebrantável.
Conservemo-nos leais às tradições de nossa raça, que são as
do nosso próprio passado, porque muitos de nós viveram naqueles tempos de
crises e de provações. A história da França é a nossa própria história.
Compartilhamos, então, das suas alegrias e das suas dores,
participando dos seus prolongados esforços, comungando da sua alma e da sua
genialidade. Se tornámos a nascer (i) nesta
terra da França, é porque mil laços e mil recordações nos prendem a esta doce
região.
Assim, ao contacto com os acontecimentos, muitas impressões
despertam em nós, e sentimos que as nossas almas vibram e palpitam em uníssono
com a grande alma da pátria.
A gigantesca luta que se está a travar não tem igual na
História. Desde Maratona (i) e
Salónica (i), de
Átila (i) até
hoje, não via o mundo lançar-se para os centros civilizados semelhante onda de
barbárie. Hoje esse quadro se ampliou, tornando-se inumeráveis as massas de
soldados em movimento.
É a luta simbólica da “besta” contra o Arcanjo, isto
é, da matéria contra o espírito, que se torna realidade. Aqui a
matéria se apresenta com a mais repugnante forma: a força brutal, ao serviço da
mentira, da traição, da prática habitual da emboscada, com os mais requintados
e cruéis processos de destruição.
Todos os poderes do mal foram desencadeados contra
o pensamento livre e alado; procuram
aniquilar os seus impulsos para o direito e para a justiça, obrigá-lo a
rastejar, mutilado e humilhado. Porém, o espírito pode morrer, o pensamento pode perecer? Apresentar a pergunta
é resolvê-la. A Alemanha, por muitas vezes, pensou ter a vitória nas mãos e
esta lhe escapou e haverá de lhe escapar até ao final...
Nessa guerra terrível, o nosso país se firmou como campeão
do mundo, a favor da liberdade, assumindo carácter épico; o
seu papel.
A França resgata todos os seus crimes, todos os seus erros e
todas as suas fraquezas com o seu holocausto, o seu sacrifício voluntário em
prol do que há de mais grandioso e de mais sagrado na consciência humana. Eis a
razão pela qual as legiões invisíveis pelejam (i) com ela e por ela.
Nos nossos artigos anteriores já falámos do grande
Conselho de Espíritos e, à frente dele, os nossos médiuns (i) viram,
distintamente: Vercingétorix (que
foi Desaix), Jeanne d’Arc, Henrique IV (i),
Napoleão (i) e
junto com eles muitos dos que participaram dos seus perigos e de sua glória.
Do outro lado, sobre as linhas inimigas, paira a legião
negra dos espíritos das trevas, instigando maquinações infames nos cérebros
alemães. Se, algumas vezes, parecia que eles tinham superioridade na luta, foi
por meio de processos que repugnam aos espíritos elevados, contudo as forças do
mal não poderiam prevalecer, por muito tempo, contra as do bem.
No meio de tão trágica batalha, a emoção frequentemente
domina os corações.
Prossigamos inabaláveis e confiantes no bom êxito
final, com o impulso dos nossos pensamentos e a força das nossas almas
sustentando os nossos defensores visíveis e invisíveis. Um poderoso
sopro passa pelas terras da França, reavivando as energias, exaltando os ânimos
e despertando por toda a parte o espírito de heroísmo e de sacrifício.
Oremos e saibamos esperar a hora da divina justiça.
Por mais penosas que sejam as provações que nos aguardam,
mantenhamos as nossas firmes esperanças, pois a grandeza da causa que
servimos e o fim que almejamos atingir nos ajudarão a tudo suportar.
Muito em breve as nações, livres do jugo alemão, entoarão o
hino da vitória: Sursum corda!
/…
(*) Este apelo foi publicado nas revistas
espíritas da época, por ocasião da grande ofensiva. Sursum corda –
frase latina, que significa “elevai os corações”, cita-se como exortação a
sentimentos elevados. (N.R.)
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, XIV
”Sursum Corda”, 8 de Junho de 1918, 31º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: A Apoteose dos heróis franceses que
morreram pelo seu país durante a guerra da liberdade, Ossian, Desaix, Kléber, Marceau, Hoche, Championnet,
pintura de Anne-Louis
Girodet-Trioson)
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