Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O Espiritismo na Arte ~



Parte XI

Quinta e última lição

– O espírito e as sensações harmónicas
– As fileiras ou correntes de ondas harmónicas
– A música terrestre e a música do espaço

(Dezembro de 1922)

“Como forma de conclusão à minha exposição da arte musical no espaço, vou tentar fazer-vos compreender as sensações harmónicas sentidas pelos espíritos nas esferas em que vivemos.

Na nossa última conversa, falámos das correntes provocadas por seres angélicos. Resta-nos falar agora das fileiras de onda (expressão recolhida no cérebro do médium, que tem algum conhecimento de transmissão de rádio). Tomamos, então, como meio de comparação, essa transmissão que vos dá uma primeira ideia dessas fileiras de ondas harmónicas das quais vou falar.

Vós me interrogáveis ultimamente a respeito da música das esferas. Eis aqui a explicação: forças dirigidas por vontades superiores produzem uma corrente fluídica cujo poder vibratório é considerável, porém uniforme. Essas ondas vão percorrer um espaço imenso e impressionarão espíritos menos adiantados que aqueles que podem alcançar as esferas musicais das quais vos falámos; esses espíritos menos adiantados têm, ao menos pelo seu perispírito, a faculdade de sentir certas ondulações.

Ao tocarem esses seres, que são em grande número, as ondas, de acordo com a sua velocidade, produzem uma vibração que se traduz em todos os perispíritos por uma iluminação repentina. Qualquer espírito ao encontrar essa corrente no espaço sentirá o seu perispírito colorir-se de uma tonalidade mais viva, segundo a intensidade da corrente emitida e, por ela, sentirá uma satisfação adequada à coloração. Como, geralmente, essas fileiras ou correntes de onda são provocadas por sentimentos que emanam de seres quase angélicos ou divinos, é fácil compreender que os podemos comparar a banhos de azul-celeste que apagam, tanto quanto possível, as paixões que ainda são um vestígio de matéria. Se a vontade do espírito que as percebe for suficiente, ele pode beneficiar-se amplamente com elas, porquanto essas ondas constituem uma espécie de transmissão que os pode ajudar na sua elevação, uma vez que emanam de regiões divinas.

Essas correntes, frequentemente, giram em volta dos mundos e purificam-lhes a atmosfera. Quando partem de um ponto diferente, essas correntes revestem cores distintas que podem confundir-se e determinar uma dupla sensação. É assim que se explica, aquilo que certos espíritos vos disseram, que no espaço ‘se escutam vibrar as liras’.

A tonalidade normalmente permanece a mesma, tomando-se a palavra tonalidade no sentido de cor. Para nós, a cor exprime as sensações recolhidas pelo pensamento. No entanto, muitos seres, devido ao seu pequeno adiantamento, permanecem insensíveis a essas correntes. Existem aqueles que preferem as sensações produzidas por antigas paixões carnais e as procuram; outros, tocados por essas correntes, procuram, através da prece, penetrar nas esferas em que o êxtase é mais habitual.

Vós sabeis que no espaço os planos são diversos, mas Deus permitiu que todos os seres tenham consciência dos seus benefícios. Os prazeres experimentados não são comparáveis àqueles que poderíeis sentir olhando um belo quadro ou ouvindo um trecho de música: as sensações são muito mais completas e de forma alguma mecânicas como o são as vossas. A música terrestre é o resultado do choques mais ou menos violentos sobre um metal, ou da passagem do ar sobre uma substância sonora, enquanto que a música do espaço se traduz por sensações cuja gama se escalona em graus coloridos! Cada cor, cada feixe colorido vindo incidir sobre o perispírito, transmite-lhe impressões mais ou menos elevadas e puras, de acordo com a natureza elevada do espírito que as recebe e segundo a intensidade das ondas fluídicas.

A música terrestre, portanto, não é comparável à música do espaço. A primeira dá uma satisfação da qual a vossa sensibilidade nervosa se aproveita; a segunda, que é de essência divina, proporciona alegrias morais, sensações de bem-estar, êxtases tão mais profundos quanto mais puro seja o receptáculo, isto é, o ser privado do envoltório carnal.”

Espírito Massenet (i)

 Comentário Final

O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte incide com os mais vastos problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direcção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo. Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, se desenvolvem ao mesmo tempo em que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.

A alma chega a executar a sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; ela penetra-se da harmonia sublime que sintetiza a acção de viver e interpreta-a segundo o seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever. Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos e, todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos e, conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.

A lei soberana, o supremo objectivo do Universo é, por conseguinte, o belo. Todos os problemas do ser e do destino se resumem em poucas palavras. Cada vida deve ser a consecução, a realização do belo, o cumprimento da lei.

ser que alcança uma concepção elevada dessa lei e, das suas aplicações, deve ajudar todos aqueles que, abaixo dele, sobem com esforço a escala grandiosa das ascensões. Por sua vez, os seres inferiores devem trabalhar para assegurar a vida material e, em seguida, tornar possível a liberdade de espírito necessária aos pensadores e aos pesquisadores. Assim, se consolida a imensa solidariedade dos seres, unidos numa acção comum.

Toda a ascensão da vida em direcção aos fastígios eternos, todo o esplendor das leis universais se resumem em três palavras: beleza, sabedoria e amor!

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LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte XI Quinta e última lição de O Espírito Massenet; – O espírito e as sensações harmónicas, – As fileiras ou correntes de ondas harmónicas, – A música terrestre e a música do espaço, – Comentário Final; 29º fragmento e o último desta obra.
(imagem de contextualização: O Concerto dos Anjos (1897), óleo sobre tela de Edgard Maxence)

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