§ VI – DOS MÉDIUNS
33. Médiuns são pessoas aptas a sentir a
influência dos Espíritos e a transmitir os pensamentos destes.
Toda a pessoa que, num grau qualquer, experimente a
influência dos Espíritos é, por esse simples facto, médium. Essa faculdade é
inerente ao homem e, por conseguinte, não constitui privilégio exclusivo, donde
se segue que poucos são os que não possuam um rudimento de tal faculdade. Pode,
pois, dizer-se que toda a gente, mais ou menos, é médium. Contudo, segundo o
uso, esse qualificativo só se aplica àqueles em quem a faculdade mediúnica se manifesta
por efeitos ostensivos, de certa intensidade.
34. O fluido perispirítico é o agente de todos
os fenómenos espíritas, que só se podem produzir pela acção recíproca dos
fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da
natureza mais ou menos expansiva do perispírito do médium e da maior ou menor
facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, portanto, do
organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém,
ser adquirida quando o princípio não exista. A predisposição mediúnica
independe do sexo, da idade e do temperamento. Há médiuns em todas as
categorias de indivíduos, desde a mais tenra idade, até a mais avançada.
35. As relações entre os Espíritos e os médiuns estabelecem-se
por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas
relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns
há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que
não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos
os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com
Espíritos de certas categorias e, outros que não o podem a não ser pela
transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior.
36. Por meio da combinação dos fluidos
perispiríticos o Espírito, por assim dizer, se identifica com a pessoa que ele
deseja influenciar; não só lhe transmite o seu pensamento, como também chega a
exercer sobre ela uma influência física, fazê-la agir ou falar à sua vontade,
obrigá-la a dizer o que ele queira, servir-se, numa palavra, dos órgãos do médium, como se seus
próprios fossem. Pode, enfim, neutralizar a acção do próprio Espírito da pessoa
influenciada e paralisar-lhe o livre-arbítrio. Os bons Espíritos se servem
dessa influência para o bem, e os maus para o mal.
37. Podem os Espíritos manifestar-se de uma
infinidade de maneiras, mas não o podem senão com a condição de encontrarem uma
pessoa apta a receber e transmitir impressões deste ou daquele género, segundo
as aptidões que possua. Ora, como não há nenhuma que possua no mesmo grau todas
as aptidões, resulta que umas obtêm efeitos que a outras são impossíveis. Dessa
diversidade de aptidões decorre que há diferentes espécies.
38. Nem sempre é necessária a intervenção da
vontade do médium. O
Espírito que quer manifestar-se procura o indivíduo apto a receber-lhe a
impressão e dele se serve, muitas vezes a seu mau grado. Outras
pessoas, ao contrário, conscientes de suas faculdades, podem provocar certas
manifestações. Daí duas categorias de médiuns: médiuns inconscientes e médiuns
facultativos.
No caso dos primeiros, a iniciativa é dos Espíritos; no
segundo, é dos médiuns.
39. Os médiuns facultativos só
se encontram entre pessoas que têm conhecimento mais ou menos completo dos
meios de comunicação com os Espíritos, o que lhes possibilita servir-se, por
vontade própria, de suas faculdades; os médiuns inconscientes, ao
contrário, existem entre as que nenhuma ideia fazem do Espiritismo, nem
dos Espíritos, até mesmo entre as mais incrédulas e que servem de instrumento,
sem o saberem e sem o quererem. Os fenómenos espíritas de todos os
géneros podem operar-se por influência destes últimos, que sempre existiram, em
todas as épocas e no meio de todos os povos. A ignorância e a credulidade lhes
atribuíram um poder sobrenatural e, conforme os tempos e os lugares, fizeram
deles santos, feiticeiros, loucos ou visionários. O Espiritismo mostra
que com eles apenas se dá a manifestação espontânea de uma faculdade natural.
40. Entre as diferentes espécies de médiuns, distinguem-se
principalmente: os de efeitos físicos; os sensitivos ou
impressivos; os audientes, falantes, videntes, inspirados, sonambúlicos,
curadores, escreventes ou psicógrafos. Aqui unicamente
trataremos das espécies essenciais. (i)
(i) Para esclarecimentos completos, consulte-se O
Livro dos Médiuns.
41. Médiuns de
efeitos físicos – São os mais aptos, especialmente, à produção de
fenómenos materiais, como o movimento de corpos inertes, os ruídos, a
deslocação, o levantamento e a translação de objectos, etc. Estes fenómenos
podem ser espontâneos ou provocados. Em todos os casos, exigem o concurso
voluntário ou involuntário de médiuns dotados de faculdades especiais. Em
geral, têm por agentes Espíritos de ordem inferior, uma vez que os espíritos
elevados só se preocupam com comunicações inteligentes e instrutivas.
42. Médiuns sensitivos ou impressivos –
Dá-se esta denominação às pessoas susceptíveis de pressentir a presença dos
Espíritos, por impressão vaga, um como ligeiro atrito em todos os
membros, facto que não logram explicar. Tal subtileza pode essa
faculdade adquirir, que aquele que a possui reconhece, pela impressão que
experimenta, não só a natureza, boa ou má, do Espírito que lhe está ao
lado, mas também a sua individualidade, como o cego reconhece instintivamente a
aproximação de tal ou tal pessoa. Um Espírito bom causa sempre uma
impressão branda e agradável; a de um Espírito mau, ao contrário, é penosa,
aflitiva e desagradável: há como que um cheiro de impureza.
43. Médiuns audientes –
Esses ouvem os Espíritos; é, algumas vezes, como se escutassem uma voz interna
que lhes ressoasse no foro íntimo; doutras vezes é uma voz exterior, clara e
distinta, qual a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes também podem
conversar com os Espíritos. Quando se habituam a comunicar-se com certos
Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pelo som da voz. Aquele que não é
médium audiente pode comunicar-se com um Espírito por via de um médium audiente
que lhe transmite as palavras.
44. Médiuns falantes – Os médiuns audientes, que
nada mais fazem do que transmitir o que ouvem, não são propriamente médiuns
falantes, os quais, as mais das vezes, nada ouvem. Com eles, o
Espírito actua sobre os órgãos da palavra, como actuam sobre a mão dos médiuns
escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que
acha mais maleável: de um, utiliza-se da mão, de outro da palavra, de um
terceiro da audição. Em geral, o médium falante se exprime sem ter
consciência do que diz e diz amiúde coisas inteiramente fora do âmbito de suas
ideias habituais, de seus conhecimentos e, até, fora do alcance da sua
inteligência. Não é raro verem-se pessoas iletradas e de inteligência
vulgar expressar-se, em tais momentos, com verdadeira eloquência e tratar, com
incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de
emitir, no estado ordinário, uma opinião.
Se bem esteja perfeitamente acordado quando exerce a sua
faculdade, raro é que o médium falante
guarde lembrança do que disse. Nem sempre, porém, é integral a sua passividade.
Alguns há que têm intuição do que dizem, no próprio instante em que proferem as
palavras.
Estas, no médium falante, são o
instrumento de que se serve o Espírito com quem uma pessoa estranha pode entrar
em comunicação, do mesmo modo que o pode fazer com o concurso de um médium
audiente. Entre o médium falante e o médium audiente, há a diferença de
que este fala voluntariamente para repetir o que ouve, ao passo que o outro
fala involuntariamente.
45. Médiuns videntes –
Dá-se esta qualificação às pessoas que, em estado normal e perfeitamente
despertas, gozam da faculdade de ver os Espíritos. A possibilidade de vê-los em
sonho resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade, mas não são
médiuns videntes, propriamente ditos. Expusemos a teoria deste fenómeno no
capítulo: “Visões e Aparições” de O Livro dos Médiuns.
São muito frequentes as aparições dos Espíritos às pessoas
que os amaram, ou os conheceram na Terra. Conquanto os que costumam tê-las
possam ser considerados médiuns videntes, esta
denominação, em regra, só é dada aos que gozam, de modo mais ou menos
permanente, da faculdade de ver quase que todos os Espíritos. Nesse
número, há os que apenas vêem os Espíritos que são evocados e que eles
conseguem descrever com minuciosa exactidão. Descrevem-lhes os gestos com todos
os pormenores, os traços fisionómicos, o vestuário e até os sentimentos de que
parecem animados. Há outros em quem essa faculdade revela carácter
ainda mais geral: são os que vêem toda a população espírita ambiente a
movimentar-se, como se tratasse, poder-se-ia dizer, de seus negócios. Esses
médiuns nunca estão sós; cerca-os sempre uma sociedade a cuja escolha podem
proceder, livremente, porquanto podem, pela acção da vontade própria, afastar
os Espíritos que lhes não convenha ter próximos de si, ou atrair os que lhes
são simpáticos.
46. Médiuns sonambúlicos – Pode
considerar-se o sonambulismo como
uma variedade da faculdade mediúnica ou, antes, são duas ordens de fenómenos
que frequentemente se encontram ligados. O sonâmbulo age sob a
influência do seu próprio Espírito; a sua própria alma é que, em momentos de
emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que
ele exprime haure-o de si mesmo; as suas ideias são, em geral, mais justas do
que no estado normal, mais extensos os seus conhecimentos, porque livre se lhe encontra
a alma. Em suma, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é o
instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem do seu
próprio eu.
Em resumo: o sonâmbulo externa os
seus próprios pensamentos e o médium exprime os de
outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium qualquer também pode
comunicar-se com um sonambúlico. É até frequente o estado de emancipação da
alma, durante o sonambulismo, tornar mais fácil essa comunicação. Muitos
sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão,
como os médiuns videntes; podem conversar com eles e transmitir-nos os
seus pensamentos; se o que dizem está fora do âmbito de seus conhecimentos
pessoais, é porque outros Espíritos lho sugerem.
47. Médiuns inspirados – Nestes médiuns, muito menos
aparentes são do que nos outros os sinais exteriores da mediunidade; é toda
intelectual e moral a acção que os Espíritos exercem sobre eles e se revela nas
menores circunstâncias da vida, como nas maiores concepções. Sobretudo
debaixo desse aspecto é que se pode dizer que todos são médiuns, porquanto
ninguém há que não tenha Espíritos protectores e familiares a empregar todos os
esforços para lhe sugerir salutares ideias. No inspirado, difícil
muitas vezes se torna distinguir as ideias que lhe são próprias do que lhe é
sugerido. A espontaneidade é principalmente o que caracteriza esta última.
Nos grandes trabalhos da inteligência é onde mais se
evidencia a inspiração. Os homens de génio, de todas as categorias, artistas,
sábios, literatos, oradores, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes, por
si mesmos, de compreender e conhecer grandes coisas; ora, precisamente
porque são considerados capazes, é que os Espíritos que visam à execução de
certos trabalhos lhes sugerem as ideias necessárias, de sorte que na maioria
dos casos eles são médiuns sem o saberem. Têm, contudo,
vaga intuição de uma assistência estranha, porquanto aquele que apela para a
inspiração nada mais faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido,
por que exclamaria, como tão amiúde sucede: Meu bom génio, vem em meu auxílio!
48. Médiuns de
pressentimentos – Pessoas há que, em dadas circunstâncias, têm uma
imprecisa intuição das coisas futuras. Essa intuição pode provir de uma
espécie de dupla vista, que faculta se entrevejam as consequências das coisas
presentes; mas, doutras vezes, resulta de comunicações ocultas, que
fazem de tais pessoas uma variedade dos médiuns inspirados.
49. Médiuns proféticos – É igualmente uma
variedade dos médiuns inspirados.
Recebem, com a permissão de Deus e com mais precisão do que os médiuns de
pressentimentos, a revelação das coisas futuras, de interesse geral,
que eles recebem o encargo de tornar conhecidas aos homens, para lhes servir de
ensinamento.
De certo modo, o pressentimento é dado à maioria dos homens,
para uso pessoal deles; o dom de profecia, ao contrário, é excepcional
e implica a ideia de uma missão na Terra.
Todavia, se há verdadeiros profetas, maior é o número dos
falsos, que tomam os devaneios da sua imaginação como revelações, quando não
são velhacos que por ambição se fazem passar como profetas.
O profeta verdadeiro é um homem de bem, inspirado
por Deus; pode ser reconhecido pelas suas palavras e pelas suas
acções. Não é possível que Deus se sirva da boca do mentiroso para
ensinar a verdade. (O Livro dos Espíritos, nº 624.)
50. Médiuns escreventes
ou psicógrafos – Essa denominação é dada às pessoas que escrevem sob a
influência dos Espíritos. Assim como um Espírito pode actuar sobre os
órgãos vocais de um médium falante
e fazê-lo pronunciar palavras, também pode servir-se da sua mão para fazê-lo
escrever. A mediunidade psicográfica apresenta três variedades bem
distintas: os médiuns mecânicos, os intuitivos e
os semi-mecânicos.
Com o médium mecânico, o Espírito lhe actua
directamente sobre a mão, impulsionando-a. O que caracteriza este
género de mediunidade é
a inconsciência absoluta, por parte do médium, do que a sua mão escreve. O
movimento desta independe da vontade do escrevente; movimenta-se sem
interrupção, a despeito do médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa a dizer
e, pára desde que este último haja concluído.
Com o médium intuitivo, a transmissão do
pensamento serve de intermediário o Espírito do médium. O outro
Espírito, nesse caso, não actua sobre a mão para movê-la, actua sobre a alma,
identificando-se com ela e imprimindo-lhe a sua vontade e as suas ideias. A
alma recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transcreve. Nesta
situação, o médium escreve voluntariamente e tem consciência do que escreve,
embora não grafe os
seus próprios pensamentos.
Torna-se frequentemente difícil distinguir o pensamento do médium do que lhe é
sugerido, o que leva muitos médiuns deste género a duvidar
da sua faculdade. Podem reconhecer-se os pensamentos sugeridos pelo
facto de não serem nunca preconcebidos; eles surgem à proporção que o
médium vai escrevendo e não raro são opostos à ideia que este previamente
concebera. Podem mesmo estar fora dos conhecimentos e da capacidade do médium.
Há grande analogia entre a mediunidade intuitiva
e a inspiração; a diferença consiste em que a primeira se restringe quase
sempre a questões de actualidade e pode aplicar-se ao que esteja fora das
capacidades intelectuais do médium;
por intuição pode este último tratar de um assunto que lhe seja completamente
estranho. A inspiração estende-se por um campo mais vasto e geralmente
vem em auxílio das capacidades e das preocupações do Espírito encarnado. Os
traços da mediunidade são, de regra, menos evidentes. O médium semi-mecânico,
ou semi-intuitivo participa dos outros dois géneros. No médium
puramente mecânico, o movimento da mão independe da sua vontade; no
médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium
semi-mecânico sente na mão uma impulsão dada mau grado seu, mas ao mesmo tempo
tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. Com o
primeiro, o pensamento vem depois do acto de escrever; com o segundo,
precede-o; com o terceiro, acompanha-o.
51. Não sendo o médium mais do que um
instrumento que recebe e transmite o pensamento de um Espírito estranho, que
obedece à impulsão mecânica que lhe é dada, nada há que ele não possa
fazer fora do campo de seus conhecimentos, se possui a maleabilidade e
a aptidão mediúnica necessárias.
Assim é que há médiuns desenhadores, pintores, músicos,
versejadores, embora estranhos às artes do desenho, da pintura, da música e
da poesia; médiuns iletrados, que escrevem sem saber ler, nem escrever; médiuns polígrafos,
que reproduzem escritas de diversos géneros e, algumas vezes, com perfeita
exactidão, a que o Espírito tinha quando encarnado; médiuns poliglotas,
que escrevem ou falam em línguas que lhes são desconhecidas, etc.
52. Médiuns curadores –
Consiste a mediunidade desta
espécie na faculdade que certas pessoas possuem de curar pelo simples contacto,
pela imposição das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de
qualquer medicamento. Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu
princípio na força magnética; difere desta, entretanto, pela energia e
instantaneidade da acção ao passo que as curas magnéticas exigem um tratamento
metódico, mais ou menos longo. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos
a curar, se sabem proceder convenientemente; dispõem da ciência que adquiriram.
Nos médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns a possuem sem nunca
ter ouvido falar de magnetismo.
A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva
evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas diversas causas
concorrem para aumentá-la, entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a
pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de
proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa palavra:
todas as qualidades morais. A força magnética é puramente orgânica;
pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente, mesmo do homem
perverso; mas, só o homem de bem se serve dela exclusivamente para o
bem, sem ideias ocultas de interesse pessoal, nem de satisfação de orgulho ou
de vaidade. Mais depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e
reparadoras, que não pode ter o do homem vicioso ou interesseiro.
Todo o efeito mediúnico, como já foi
dito, resulta da combinação dos fluidos que emitem um Espírito e um
médium. Pela sua conjugação esses fluidos adquirem propriedades novas, que
separadamente não teriam, ou, pelo menos, não teriam no mesmo grau. A
prece, que é uma verdadeira evocação, atrai os bons Espíritos sempre solícitos
em secundar os esforços do homem bem-intencionado; o fluido benéfico
dos primeiros se casa facilmente com o do segundo, ao passo que o do homem
vicioso se junta ao dos maus Espíritos que o cercam.
O homem de bem, que não dispusesse da força fluídica, pouca
coisa conseguiria fazer por si mesmo, só lhe restando apelar para a
assistência dos Espíritos bons, pois quase nula seria a sua acção pessoal; uma
grande força fluídica, aliada à maior soma possível de qualidades morais, pode
operar, em matéria de curas, verdadeiros prodígios.
54. Somente a superstição pode emprestar
qualquer virtude a certas palavras e unicamente Espíritos ignorantes ou
mentirosos podem alimentar semelhantes ideias, prescrevendo fórmulas. Pode,
entretanto, acontecer que, para pessoas pouco esclarecidas e incapazes de
compreender as coisas puramente espirituais, o uso de uma fórmula de prece ou
de determinada prática contribua a lhes infundir confiança. Nesse caso, porém,
não é na fórmula que está a eficácia e sim na fé que aumentou com a ideia
ligada ao emprego da fórmula.
55. Não se devem confundir os médiuns curadores com
os médiuns prescreventes, que são simples médiuns escreventes, cuja
especialidade consiste em servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos
para as prescrições médicas; absolutamente mais não fazem que
transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem, de si mesmos, nenhuma
influência.
/…
ALLAN KARDEC, Obras Póstumas, Primeira
Parte, Manifestações dos Espíritos, VI – DOS MÉDIUNS, 13º fragmento
solto da obra.
(imagem de contextualização: Dança rebelde, 1965
– Óleo sobre tela, de Noêmia Guerra)