Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

| o grande enigma ~


Unidade substancial do Universo (II)

A grande querela secular que dividia as escolas filosóficas reduz-se, pois, a uma questão de palavras. Nas experiências em que a William Crookes coube tomar a iniciativa, a matéria funde-se, o átomo desaparece; em seu lugar surge a energia. A substância é um Proteu que reveste mil formas inesperadas. Os gases, que se consideravam permanentes, se liquefazem; o ar se decompõe em elementos muito mais numerosos do que a ciência de ontem ensinava; a radioactividade, isto é, a aptidão dos corpos à desagregação, emitindo eflúvios análogos aos raios catódicos, revela-se qual um facto universal. Uma revolução se dá nos domínios da Física e da Química. Por toda a parte, em nosso redor, vemos expandirem-se fontes de energia, imensos reservatórios de forças, muito superiores em potência a tudo quanto até hoje se conhecia. A Ciência se encaminha, pouco a pouco, para a grande síntese unitária, que é a lei fundamental da Natureza. As suas mais recentes descobertas têm alcance incalculável, no sentido de demonstrar, experimentalmente, o grande princípio constitutivo do Universo: unidade das forças, unidade das leis. O encadeamento prodigioso das forças e dos seres – precisa-se, completa-se. Verifica-se existir continuidade absoluta, não só entre todos os estados da Matéria, mas ainda entre estes e os diferentes estados da força. (i)

(i) “Os produtos da dissociação dos átomos – diz Gustave Le Bon – constituem uma substância intermediária, pelas suas propriedades, entre os corpos ponderáveis e o éter imponderável, isto é, entre dois mundos profundamente separados até aqui.” (Revue Scientifique, 17 de outubro de 1903).
“As observações precedentes – diz ainda esse eminente químico – parecem provar que os diversos corpos simples derivam de matéria única. Essa matéria primitiva seria produzida por uma condensação do éter.” (Revue Scientifique, 24 de outubro de 1901).

A energia parece ser a substância única, universal. No estado compacto, ela reveste as aparências a que chamamos matéria sólidalíquidagasosa; sob um modo mais subtil, constitui os fenómenos de luz, calor, electricidade, magnetismo, afinidade química. Estudando a acção da vontade sobre os eflúvios e as irradiações, poderíamos, talvez, entrever o ponto, o vértice em que a força se torna inteligente, em que a Lei se manifesta, em que o Pensamento se transforma em vida. (ii)

(ii) Ver nota complementar nº 2, no fim deste volume.

E isso porque tudo se liga e encadeia no Universo. Tudo é regulado pela lei do número, da medida, da harmonia. As manifestações mais elevadas de energia confinam com a inteligência. A força se transforma em atracção; a atracção se faz amor. Tudo se resume num poder único e primordial, motor eterno e universal, ao qual se dão nomes diversos e é apenas o Pensamento, a Vontade divina. As suas vibrações animam o Infinito! Todos os seres, todos os mundos se banham no oceano das irradiações que emanam do inesgotável foco.

Consciente da sua ignorância e da sua fraqueza, o homem fica confundido diante dessa unidade formidável que abrange todas as coisas e com ela conduz a vida das Humanidades. Ao mesmo tempo, entretanto, o estudo do Universo lhe abre fontes profundas de gozos e de emoções. Apesar da nossa enfermidade intelectual, o pouco que entrevemos das leis universais nos arrebatam; na Potência ordenadora das leis e dos mundos pressentimos Deus e, por isso, adquirimos a certeza de que o Bom, o Belo, a Harmonia perfeita, reina acima de tudo.
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Léon Denis, O Grande Enigma, Primeira parte Deus e o Universo, II Unidade substancial do Universo 2 de 2, 10º fragmento da obra.
(imagem de ilustração: As majestosas e violentas palavras dos poemas, pintura em acrílico de Costa Brites)

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