Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Da sombra do dogma à luz da razão ~


~ Uranografia Geral (*) 
O espaço e o tempo ~ 

| Galileu, Espírito 
(Études Uranographiques) (VI) 

Os satélites 🌈 

  Antes das massas planetárias terem atingido um grau de arrefecimento suficiente para lhes operar a solidificação, massas mais pequenas, verdadeiros glóbulos líquidos, destacaram-se de algumas no plano equatorial, plano onde a força centrifuga (i) é maior e que por virtude das mesmas leis adquiriram um movimento de translação (i) à volta do seu planeta gerador, tal como aconteceu com eles à volta do seu astro gerador. 

  Foi assim que a Terra deu nascimento à Lua, cuja massa, menos considerável, deve ter sofrido um arrefecimento mais rápido. Ora as leis e as forças que presidiram à sua separação do equador terrestre e o seu movimento de translação neste mesmo plano agiram de tal modo, que este mundo em vez de revestir a forma esferóide tomou a de globo ovóide, isto é, tendo a forma alongada de um ovo cujo centro de gravidade estaria fixado à parte inferior. 

  As condições em que se efectuou a desagregação da Lua mal lhe permitiram afastar-se da Terra e constrangeram-na a permanecer perpetuamente suspensa no seu céu como uma figura ovóide, cujas partes mais pesadas formaram a força inferior virada para a Terra e cujas partes menos densas ocuparam o topo, se designarmos com esta palavra o lado voltado para o lado oposto da Terra e elevando-se para o céu. É o que faz com que este astro nos apresente continuamente a mesma face. Pode ser comparado, para melhor se entender o seu estado geológico, a um globo de cortiça, em que a base virada para a Terra seria feita de chumbo. 

  Daí a existência de duas naturezas essencialmente diferentes na superfície do mundo lunar: uma, sem qualquer analogia possível com a nossa, pois os corpos fluidos e etéreos são-lhe desconhecidos; a outra, leve em relação à Terra, dado que todas as substâncias menos densas se transportaram para este hemisfério. A primeira, perpetuamente voltada para a Terra, sem água e sem atmosfera, a não ser por vezes nos limites deste hemisfério subterrestre, a outra, rica em fluidos, perpetuamente oposta ao nosso mundo (**)

  O número e o estado dos satélites de cada planeta variam consoante as condições especiais nas quais se formam. Alguns não deram origem a nenhum astro secundário, tais como Mercúrio, Vénus e Marte, enquanto outros formaram um ou vários, como a Terra, Júpiter, Saturno, etc. 

  Para além dos seus satélites ou luas, o planeta Saturno apresenta o fenómeno especial do anel que, visto de longe, parece envolvê-lo como que com uma branca auréola. Esta formação é para nós uma nova prova da universalidade das leis da natureza. Este anel é com efeito o resultado de uma separação que se operou nos tempos primitivos no equador de Saturno, tal como uma zona equatorial se escapou da Terra para formar o seu satélite. A diferença consiste em que o anel de Saturno se encontrava formado, em todas as suas partes, de moléculas homogéneas, provavelmente já num certo estado de condensação e, pode, desta maneira, continuar o seu movimento de rotação no mesmo sentido e num tempo mais ou menos igual ao que anima o planeta. Se um dos pontos deste anel tivesse sido mais denso do que outro, uma ou várias aglomerações de substância ter-se-iam subitamente operado e Saturno teria contado com vários satélites mais. Desde o tempo da sua formação, este anel solidificou-se assim como os outros corpos planetários. 
                                                                                                          Espírito Galileu 
/… 

(*) Este capítulo foi textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu; médium M. C. F. (N. do A.) 

(**) Esta teoria da Lua, inteiramente nova, explica através da lei de atracção, a razão pela qual este astro apresenta sempre a mesma face à Terra. Encontrando-se o seu centro de gravidade, em vez de estar no centro da esfera, num dos pontos da sua superfície e por consequência atraído para a Terra por uma força maior do que as partes mais ligeiras, a Lua produz o efeito das figuras chamadas sempre em pé, que se mantêm constantemente direitas sobre a base, enquanto os planetas, cujo centro de gravidade se encontra a igual distância da superfície, giram regularmente sobre o eixo. Os fluidos vivificadores, gasosos ou líquidos, devido à sua leveza específica, encontrar-se-iam acumulados no hemisfério superior constantemente oposto à Terra; o hemisfério inferior, o único que vemos, não os possuiria, sendo por consequência impróprio para a vida, enquanto esta reinaria no outro. Se, portanto, o hemisfério superior é habitado, os seus habitantes nunca viram a Terra, a não ser que fizessem incursões ao outro hemisfério, o que lhes seria impossível, não havendo ali as condições necessárias de vitalidade. 
Por muito racional e científica que esta teoria seja, como não pode ainda ser confirmada por qualquer observação directa, não pode ser aceite a não ser a título de hipótese e como ideia a poder servir à ciência; mas não podemos negar que seja a única, até agora, que dá uma explicação satisfatória das particularidades que este globo apresenta. (N. do A.) 


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – Os satélites (de 24 a 27), 28º fragmento desta obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida. 
(imagem de contextualização: Diógenes e os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).

Sem comentários: