Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Espiritismo na Arte ~


A Música | parte III
Apresentação das comunicações do Espírito Massenet

(Setembro de 1922)

Após o estudo da música terrestre, passaremos ao estudo das harmonias do espaço e, para isso, resumiremos as instruções que nos foram dadas pelo Espírito Massenet no decorrer de várias sessões. Neste ensinamento, o ilustre compositor age como o fazia sobre a Terra, aplicando o mesmo método dos seus cursos do Conservatório.

Primeiro, ele se ocupará do instrumento e dos meios de percepção. Porém, na vida espiritual não se trata já de instrumentos de cordas nem de sopro, como na Terra. Acontece o mesmo com as percepções, que não são já localizadas, como no corpo humano e, se estendem a todo o corpo espiritual.

A música terrestre não é mais que um eco enfraquecido e ofuscado da música celeste; é a melodia eólica produzida por pesados e grandiosos instrumentos de madeira ou de metal; é o sonho estrelado e divino expresso por formas de uma vida inferior e material. Porém, neste caso, o sonho é uma elevada realidade.

Se os nossos meios de execução, bastante rudimentares, não nos podem dar uma ideia nítida e clara das supremas harmonias, a dificuldade não é menor quando se trata de explicar, através de linguagem vulgar, as regras e as leis da grande sinfonia eterna. Esta dificuldade revelou-se-nos, principalmente no decurso das lições que recebemos do Espírito Massenet e que vamos reproduzir a seguir. Daí resulta que os termos pobres da nossa linguagem humana são impróprios para traduzir todas as belezas da obra divina.

Para exprimir as sublimidades da arte, seria necessária a própria arte, com os seus mais altos e poderosos recursos e os seus mais subtis procedimentos.

Primeira lição do Espírito Massenet
– O papel do perispírito
– Vida espiritual, instrumento e meios de percepção

“Eu me servirei dos termos e das imagens mais simples para vos fazer compreender os fenómenos do espaço. Quando desencarnardes, verificareis que radiações de uma intensidade desigual escapam do perispírito e podem atingir velocidades consideráveis.

Cada espírito, segundo o seu grau de evolução, possui um aparelho vibratório, mais ou menos perfeito, isto é, um instrumento adaptado ao seu ser. Do ser material emanam raios fluídicos pouco subtis, não azulados, cujas vibrações são quase nulas; no ser evoluído, ao contrário, o raio fluídico pode comparar-se a uma corda de um dos vossos instrumentos, muito fina, muito sensível e cujas vibrações são excessivamente agudas. O ser não evoluído possuirá essa mesma corda, como se ela estivesse mergulhada em pez (i).

Eis, agora, o ser desencarnado no espaço. Quando as suas tendências o levarem em direcção à matéria, os seus raios fluídicos transmitirão ao perispírito apenas sensações materiais. Porém, quanto mais a evolução se acentua, mais as sensações materiais se atenuam e se apagam, o feixe de raios fluídicos adquire mais subtileza, potência, delicadeza, suavidade.

Sob a influência da prece, com os conselhos e a assistência dos seus guias, esse espírito irá evoluir em uma atmosfera totalmente fluídica. As suas próprias radiações se encontrarão com as correntes fluídicas do espaço e daí resultarão sensações maravilhosas de sonoridade, percebidas por todo o ser.

ser evoluído vive em esferas fluídicas onde reinam correntes de uma intensidade inegável e de composição diversa. As ondas musicais anulam-se ao contacto imediato com o vosso planeta, cujos fluidos são demasiado materiais. É preciso subir mais alto para perceber os acordes da lira celeste. Existem mesmo seres que, sob o ponto de vista moral, são perfeitos, mas não sentem as vibrações. É necessária uma educação estética; em breve falaremos disso.”

– Comentário

O corpo humano é um instrumento complexo e maravilhoso, que se adapta ao meio terrestre e às nossas múltiplas necessidades. Porém, ele é apenas um revestimento material, relativamente grosseiro, desse corpo subtil, o perispírito, do qual Massenet nos fala e que todos nós possuímos durante a vida, como também depois da morte.

A existência desse perispírito é demonstrada pelos fenómenos de exteriorização dos vivos e pelas aparições fotografadas dos mortos, frequentemente relatadas nesta revista (ii).

Esse corpo subtil, admirável por sua flexibilidade e sensibilidade, é o envelope imperecível da alma e, da mesma forma que ela; susceptível de depuração e progresso. Ele vibra aos menores impulsos do espírito e dele transmite ao corpo físico as vibrações inevitavelmente diminuídas. Eis por que, na vida do espaço, durante o sono, assim como depois da morte, o perispírito sente mais vivamente as influências dos meios em que penetra. (iii) Ele possui recursos mais amplos, meios de percepção desconhecidos dos homens, mas, dos quais certas pessoas conservam a intuição ao despertar, depois do desprendimento e nas viagens espirituais durante a noite.

Neste conjunto que constitui o homem, a alma ou inteligência é a nota dominante. A correlação entre os dois invólucros, físico e perispiritual, relaciona-se a uma única lei: a das vibrações.

O papel e o funcionamento do perispírito permanecem como um dos problemas mais interessantes do Espiritismo; ele contém, em gérmen, todos os segredos da fisiologia e da psicologia, que se esclarecerão à medida que as nossas relações com os desencarnados se forem ampliando e multiplicando. Por este meio, obteremos novos dados sobre as condições da vida no Além e, em geral, sobre o modo de acção do espírito liberto do corpo material.

/…

(i) Pez: designação comum de substâncias betuminosas, sólidas ou semi-sólidas, naturais ou artificiais, resíduo da destilação de líquidos densos, de alcatrões, etc.; piche. (N.T.)
(ii) Trata-se da Revue Spirite, onde estes artigos foram publicados originalmente. (N.T.)
(iii) E, o que pensar da "Cremação" no contexto?!... Nota desta publicação.


Ainda no tema "Cremação" e, no contexto, dois aditamento como Nota desta publicação:

1. Em “O Livro dos Espíritos” questão 164. Kardec pergunta – A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos?

A resposta dos Espíritos – Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado reconhece-se quase imediatamente, visto que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo; ao passo que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda durante muito mais tempo a impressão da matéria.

2. Em “Rumo às Estrelas” de Dennis Bradley, Livro 3 – Diálogos com Johannes / Capítulo VI – Destruição da religião do Cristo / 192. Bradley, questiona o Espírito Johannes:

Bradley – E sobre a cremação, que nos diz? Para mim isso não representa nenhum problema, já que pouco me importa o que suceda ao corpo depois que o espírito o abandona. Pergunto-o em atenção aos que pensam de modo diferente.

Johannes – Faço-o saber, meu filho, que você tem o hábito de tirar conclusões muitas vezes bem prematuras. Em certo sentido equivoca-se quanto à cremação dos cadáveres. Aos meus olhos é um crime conservar o envoltório (*) que reveste a alma e o espírito, mas por outro lado você não tem razão em crer que a súbita destruição do corpo pelo fogo não seja prejudicial. Em parte o é. Porque, como sabe, existe um frágil envoltório que rodeia a alma, o qual se dissipa pouco depois da morte. Algo parecido com uma membrana e que adquire grande sensibilidade dentro de uma semana depois da morte. Se se destrói de modo completo o corpo, esta membrana, que de certo modo ainda está ligada ao corpo, sofre grave dano e, o seu sofrimento transmite-se à parte desencarnada. Assim, portanto, não deveis sorrir dos chamados ignorantes que não crêem que o corpo se separe inteiramente do resto depois da morte. Antes que a alma e o espírito deixem as trevas para onde vão logo que deixam o corpo, essa membrana se dissipa – mas não imediatamente.

Neste ponto da comunicação alguém o interrompeu com uma pergunta: “Corpo astral?”

Johannes – Não. Tolice. Não se trata de um corpo. É algo perecível, meio corporal, meio mental, uma coisa que se dissipa depois da morte mas que os clarividentes podem ver a rodear a alma.

(*) Alusão aos egípcios, conservadores de cadáveres.



LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte VIII A Música (Parte 3) – Apresentação das comunicações do Espírito Massenet; Primeira lição do Espírito Massenet – O papel do perispírito – Vida espiritual, instrumento e meios de percepção – Comentário, 26º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Mona Lisa 1503-1507 – Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)

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