Décima e última lição de O Esteta
– As sensações artísticas e os espíritos elevados
– Acção do foco divino
– Arte, meio de sentir a grandeza de Deus
– As sensações artísticas e os espíritos elevados
– Acção do foco divino
– Arte, meio de sentir a grandeza de Deus
|17 de Fevereiro de 1922|
“O tema final das nossas conversas torna-se mais e mais
delicado e os elementos que encontro no médium são de tal modo restritos que
devo vos pedir que me desculpem a pobreza das expressões empregadas. Iremos
quase entrar e planar no domínio divino.
Hoje, eu queria poder entreabrir uma janela sobre esse azul
celeste, que é o centro de todas as radiações e resume, para vós, todas as
virtudes, todas as potências intelectuais e morais.
Comprovaste, nas vossas vidas humanas, que cada ser possui,
em grau diverso, quer por intuição, quer como resultado de sua vontade,
qualidades que ele adquiriu na Terra, em vidas anteriores ou por aspiração em
direcção às esferas fluídicas divinas.
Atrevo-me a vos dizer que o Ser divino é um centro radiante,
composto de todas as coisas e realizando cada coisa.
A vossa imaginação terrestre não pode compreender isso.
Aliás, não é necessário, visto que, no vosso plano, não tens a obrigação de vos
colocar mais alto do que a evolução vos permite. Porém, do espaço, temos uma
sensação mais forte de que existe uma esfera, um campo de acção no qual as
ondas fluídicas impressionam e fazem vibrar, no nosso plano, os seres
espirituais e, no vosso plano, os seres corporais, e que representa o poder, a
beleza, a harmonia do divino. Essa harmonia é a própria essência da arte; é ela
que, empregada na medida certa, faz vibrar o cérebro dos génios e põe em acção
as inteligências em fase de evolução, por um trabalho e uma vontade firme e
racional. Essas esferas abrem a entrada do campo divino. Nós podemos
representá-lo melhor que vós, no entanto ainda não podemos fundir-nos nele.
Eu queria abrir inteiramente a janela para vos comunicar o
pensamento divino, para vos dizer de que forma e por qual irradiação fluídica
integral a obra criadora prossegue, porém, não está ao meu alcance abrir
completamente a porta para esse azul criador. Portanto, é apenas por uma
pequena abertura que posso comunicar aos vossos cérebros e aos vossos corações
o que eu mesmo sei.
O foco divino, então, está em acção constante e regular,
criando o movimento universal. É por meio dele que as criaturas nascem, vivem e
se transformam, segundo a pureza dos elementos físicos empregados. A irradiação
divina se faz sentir mais ou menos intensamente sobre as moléculas que
aprisionam o seu espírito.
O corpo humano é mais ou é menos perfeito. Há uma questão de
atavismo, uma questão de atracção espiritual nos meios mais puros ou menos
puros que os ditos corpos atravessam. As criações provindas do campo divino são
de uma elevação grandiosa. À medida que nos aproximamos dele, compreende-se melhor
o funcionamento desse grande organismo que é o Universo.
É um facto indubitável que, quando o conjunto de rodas de
uma máquina não se move continuamente, elas chegam a se cobrir de uma ferrugem
que impede os seus eixos de funcionarem regularmente. A ferrugem se traduz
entre os seres organizados por uma influência dos caprichos e das esquisitices
inerentes aos meios inferiores e, quando há excessos, pela influência das
imperfeições e dos vícios.
É assim que se degenera o bem, mas ele pode reviver ao contacto
das fontes puras, assim como alguém que trabalhe em mecânica de precisão pode
recolocar sobre os seus eixos um instrumento que não funcionava mais.
Por uma vontade sempre firme, por um apelo directo, aspirai,
portanto, às irradiações vivificantes, assim podereis vos manter em relação com
os feixes fluídicos que emanam do campo divino e que vivificarão, pela sua acção,
as partes do vosso ser contaminadas pela ferrugem dos defeitos e dos
vícios. É por essas relações, quase constantes, com esses feixes fluídicos, que
o ser, num mundo ou no espaço, conserva aptidões, meios de elevação, intuições
que formam o sentido genérico da palavra arte.
É por isso que cada ser deve ter cuidado com o seu progresso
e conservar em si mesmo esse pólo atractivo que, se traduzindo virtualmente por
capacidades correspondentes aos seus desejos, será mais, ou menos, apaixonado
pela arte. Esta palavra, arte, quase mágica, significa: irradiação emanando de
um campo supracósmico; essa irradiação mantém no nosso mundo a luz, a grandeza,
o poder, a beleza, a bondade, que emanam do foco que forma o centro do campo
fluídico divino.
Eu falei, numa conversa anterior, desse ponto mais sensível
do organismo humano que se chama coração. É do coração que parte a vibração
que, espalhando-se em todo o vosso ser, lhe fornece os meios de exteriorizar
pensamentos nobres e elevados. Porém, analisai bem essa vibração, reflecti e
compreendereis que quando um sentimento generoso faz vibrar o vosso coração, é
porque ele recebeu no mesmo instante, por uma onda emanada do divino, o impulso
de um nobre e generoso sentimento.
É graças a uma evolução racional em planos diferentes, em
mundos diversos, que os seres se depuram gradualmente. O que se faz em torno de
vós far-se-á muito mais em torno dos seres, dos mundos, das esferas.
Para concluir as nossas palavras, a arte é, para o ser
humano, o chamado do campo divino. Quanto mais um ser, por sua vontade e pelos
seus actos, se aproxima de Deus, mais ele está apto a sentir os eflúvios e as
vibrações divinas. Segundo a sua evolução, essas vibrações se traduzirão pela criação de virtudes, com a palavra virtude sendo tomada num sentido bastante
geral. Na minha consciência ela significa tudo o que é digno de ser amado. A
arte, portanto, é um dos meios de se sentir a grandeza de Deus. Devemos
agradecer ao Criador por nos deixar sempre em relação com ele, e temos que nos
tornar cada vez mais dignos disso. É preciso venerar e amar a arte, porquanto,
através da imensidão do espaço, ela é a mensageira da imortal irradiação e do
movimento divino universal.
Guardemos no mais profundo do nosso ser esse ponto sensível,
que é para nós um dos pólos de comunicação com o nosso Criador. Quer estejamos
munidos de um corpo carnal ou de um invólucro espiritual, a irradiação divina
sempre chega até nós, quando não deixamos na inacção, por uma inércia
repreensível, essa máquina que deve servir de transmissão aos fluidos e às
ondas divinas. O ser evoluído tem a alegria de ajudar no aperfeiçoamento e na
preservação de seres mais materiais.
A arte, mensageira do divino, é a chama que jamais se deve apagar, ela deve fazer-nos compreender que a beleza e a glória de Deus são
infinitas. Pode haver arte mesmo nas mais pequenas acções se, adaptando-se ao
meio onde age, a irradiação divina que se exterioriza espalha à sua volta
uma chuva de ondas benéficas.
Como há evolução nos seres, há evolução nas artes. Vós
tendes as premissas nas artes, assim como nas acções e nas virtudes, porém, a
centelha brilha sempre nas condições em que ela se pode manifestar para
confirmar a grandeza de Deus.”
/...
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte V – Décima e última lição de O Esteta – As
sensações artísticas e os espíritos elevados – Acção do foco divino – Arte,
meio de sentir a grandeza de Deus (4 de 4) 23º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Mona Lisa 1503-1507
– Louvre, pintura de Leonardo da Vinci)
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