Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

terça-feira, 12 de maio de 2015

Da sombra do dogma à luz da razão ~


Natureza da Revelação Espírita (IX)

A Terceira Revelação ~

  A primeira revelação estava personificada em Moisés, a segunda em Cristo e a terceira não o está em nenhum indivíduo. As duas primeiras são individuais, a terceira é colectiva; reside nisso uma característica essencial de grande importância. É que ninguém, por consequência, se pode afirmar seu profeta exclusivo. Foi feita simultaneamente em toda a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e de todas as condições, desde o mais baixo ao mais elevado da escala, consoante a profecia relatada pelo autor dos Actos dos Apóstolos: «E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões e os vossos velhos sonharão sonhos; / E também do meu Espírito derramarei sobre o meu servo e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão.» (Actos dos Apóstolos, 2: 17, 18.) Não saiu de nenhum culto especial para servir um dia de ponto de encontro a todos(*)

(*) O nosso papel pessoal no grande movimento das ideias que se prepara através do Espiritismo e que começa a acontecer, é o de observador atento que estuda os factos para daí retirar as consequências. Confrontámos todos os que nos foi possível reunir; comparámos e comentámos as instruções dadas pelos Espíritos em todos os pontos do globo; depois, coordenámos tudo metodicamente; numa palavra, estudámos e demos a saber ao público o fruto das nossas investigações sem atribuir ao nosso trabalho outro valor que o de uma obra filosófica deduzida da observação e da experiência, sem nunca nos termos dado ares de chefe de doutrina, nem ter querido impor as nossas ideias a ninguém. Ao publicá-las, usámos de um direito comum e os que as aceitaram fizeram-no livremente. Se estas ideias encontraram numerosas simpatias, é por terem tido a vantagem de corresponder às aspirações de um grande número, com o que não nos podemos envaidecer, pois a sua origem não nos pertence. O nosso maior mérito é o da perseverança e devoção à causa que abraçamos. Em tudo isto fizemos o que outros podiam ter feito; é por isso que nunca tivemos a pretensão de nos julgarmos profetas ou messias e ainda menos apresentarmo-nos por tal. (N. do A.)

  Sendo as duas primeiras revelações produto de um ensinamento pessoal, foram forçosamente localizadas. Isso quer dizer que tiveram lugar num só ponto, à volta do qual a ideia se foi expandindo de uns para os outros; mas foram precisos muitos séculos para que atingissem os extremos do mundo, mesmo sem o invadirem por completo. A terceira tem isso de particular; não sendo personificada num indivíduo, produziu-se simultaneamente em milhares de pontos diferentes e todos se tornaram centros ou focos de irradiaçãoAo multiplicarem-se estes centros, a sua radiação une-se a pouco e pouco, como os círculos formados por uma quantidade de pedras atiradas à água; de tal maneira que, em determinada altura, acabarão por cobrir a superfície total do globo.

  É esta uma das causas da rápida propagação da doutrina. Se tivesse surgido num só ponto, se tivesse sido obra exclusiva de um homem, teria formado uma seita à sua volta; mas meio século teria talvez decorrido antes de ter atingido os limites do país onde tivesse nascido, enquanto que assim, dez anos depois, tem rebentos implantados de um pólo ao outro. 

  Esta circunstância, espantosa na história das doutrinas, confere a esta uma força excepcional e uma força de acção irresistível; com efeito, se a comprimirmos num ponto, num país, é materialmente impossível comprimi-la em todos os pontos, em todos os países. Por cada sítio onde seja reprimida, haverá mil ao lado onde florescerá. Ainda mais, se a extinguirmos num indivíduo, não podemos extingui-la nos Espíritos, que são dela a fonte. Ora, como os Espíritos estão em todo o lado e porque sempre existirão, se, por impossível, se conseguisse abafá-la em todo o globo, ela reapareceria algum tempo depois, porque assenta sobre um factofacto esse que está na natureza, e não podemos suprimir as leis da natureza. É disto que se devem então convencer os que sonharam com a aniquilação do Espiritismo. (Revista Espírita, Fevereiro de 1865, p. 38: Perpetuidade do Espiritismo.)

  No entanto, estes centros disseminados deveriam permanecer ainda algum tempo isolados uns dos outros, confinados como alguns estão a países longínquos. Era necessário entre eles um traço de união que os colocasse em comunhão de pensamento com os seus irmãos de doutrina, ensinando-lhes o que se fazia noutros lugares. Este traço de união, que terá faltado ao Espiritismo na antiguidade, encontra-se nas publicações que chegam a todo o lado, que condensam numa forma única, concisa e metódica, os ensinamentos dados em todos os sítios sob múltiplas formas e em línguas diversas.

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ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Capítulo I NATUREZA DA REVELAÇÃO ESPÍRITA números de 45 a 48 (IX), 11º fragmento da obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Diógenes e os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites)

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