O espaço e o tempo ~
| Galileu, Espírito
(Études Uranographiques) (XI)
Sucessão eterna de mundos 🌈
Vimos que ao Universo foi dada uma única lei primordial e geral para lhe
garantir estabilidade eterna e que esta lei geral é perceptível aos nossos
sentidos por várias acções particulares a que chamamos forças
directivas da natureza. Vamos mostrar hoje que a harmonia do mundo inteiro,
considerada sob o duplo aspecto de eternidade e de espaço, está garantida por
essa lei suprema.
Com efeito, se recuarmos até à origem primeira dos aglomerados
primitivos de substância cósmica, verificaremos que já então, sob o império
dessa lei, a matéria sofria as transformações necessárias que
conduzem da semente ao fruto maduro e que sob a impulsão das várias forças
nascidas desta lei, percorre a escala destas revoluções periódicas; primeiro
centro fluídico dos movimentos, depois gerador de mundos, mais tarde núcleo
central e atractivo das esferas no seu seio.
Sabemos já que estas leis presidem à história do Cosmos; o que interessa
saber agora é que presidem também à destruição dos astros, pois a
morte não é só uma metamorfose do ser vivo como também uma
transformação da matéria inanimada; e se é verdade dizer-se, em sentido
literal, que só a vida é acessível à foice da morte, é igualmente justo
acrescentar que a substância deve em qualquer circunstância sofrer as
transformações inerentes à sua constituição.
Eis um mundo que, desde o seu berço primitivo, percorreu todo o espaço
dos anos que a sua organização especial lhe permitia percorrer; a
fogueira interior da sua existência apagou-se, os elementos próprios
perderam a sua virtude principal; os fenómenos da natureza que reclamavam para
se produzirem, a presença e a acção das forças reservadas a este mundo, a
partir de então deixaram de se poder produzir porque a alavanca da sua actividade
já não tem o ponto de apoio que lhe conferia toda a sua força.
Ora, poder-se-ia pensar que esta Terra extinta e sem vida iria continuar
a gravitar nos espaços celestes, sem objectivo, e passar como uma cinza inútil
no turbilhão dos céus? Poder-se-ia pensar que permanece inscrita no livro da
vida universal, quando não passa de letra morta desprovida de sentido? Não; as
mesmas leis que a elevaram acima do caos tenebroso e que a premiaram com os
esplendores da vida, as mesmas forças que a governaram durante os séculos da
sua adolescência, que consolidaram os seus primeiros passos na existência e que
a conduziram à idade madura e à velhice, vão presidir à desagregação dos seus
elementos constituintes para os levarem ao laboratório onde o poder criativo
vai constantemente buscar as condições de estabilidade geral. Estes elementos
vão regressar à massa comum do éter para se assimilarem a outros corpos ou para
regenerar outros sóis; e esta morte não será um acontecimento inútil para esta
Terra nem para as suas irmãs; irá renovar, noutras regiões, outras criações de
natureza diferente e ali onde sistemas de mundos se apagaram em breve renascerá
um, novo canteiro de flores mais brilhantes e mais perfumadas.
Assim, a eternidade real e efectiva do Universo está garantida pelas
mesmas leis que dirigiram as operações do tempo; assim, os mundos sucedem aos
mundos, os sóis aos sóis, sem que o imenso mecanismo dos vastos céus seja
alguma vez atingido nas suas gigantescas molas.
Ali, onde os vossos olhos admiram esplêndidas estrelas sob a abóbada das
noites, ali, onde o vosso espírito contempla irradiações magníficas que
resplandecem em longínquos espaços, há muito que o vazio sucedeu a este
deslumbramento e até recebeu novas criações ainda desconhecidas. O imenso
afastamento destes astros, devido ao qual a luz que nos enviam leva milhares de
anos a chegar até nós, faz com que só hoje recebamos os raios que nos enviaram
muito tempo antes da criação da Terra e que ainda os vamos continuar a admirar
durante milhares de anos depois do seu desaparecimento real (**).
Portanto, aqui como nos nossos outros estudos, reconhecemos que a
Terra e o homem não são nada comparados com a infinitude e que as mais
colossais operações do nosso pensamento só se estendem ainda até um campo
imperceptível comparado com a imensidão e a eternidade de um Universo que nunca
terá fim.
E quando esses períodos da nossa imortalidade nos tiverem passado por
cima, quando a história actual da Terra nos aparecer como uma sombra esbatida
ao fundo da nossa memória, depois de termos habitado durante séculos sem conta
esses diversos graus da nossa hierarquia cosmográfica, depois dos longínquos
domínios das eras futuras terem sido percorridos por inúmeras peregrinações,
teremos à nossa frente a sucessão ilimitada de mundos e a imóvel eternidade
como perspectiva.
/…
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de
uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e
1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu;
médium M. C. F. (N. do A.)
(**) Trata-se de um efeito devido ao tempo que a luz leva a atravessar
o espaço. Sendo a sua velocidade de setenta mil léguas por segundo, chega-nos
do Sol em oito minutos e treze segundos. Daí resulta que se um fenómeno se dá
na superfície do Sol, nós só nos apercebemos dele oito minutos depois e, pelo
mesmo motivo, ainda o veremos oito minutos após o seu desaparecimento. Se,
devido ao seu afastamento, a luz de uma estrela leva mil anos a chegar até nós,
só veremos essa estrela mil anos depois da sua formação. (Ver para a explicação
e descrição completas deste fenómeno, a Revista Espírita de
Março e Maio de 1867, pp 93 e 151; relatório de Lúmen, por M. C.
Flamarion.)
O que são os seis mil anos de humanidade histórica perante os períodos
seculares? Segundos nos vossos séculos? O que são as vossas observações
astronómicas perante o estado absoluto do mundo? A sombra eclipsada pelo
Sol. (N. do A.)
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – Sucessão
eterna de mundos (de 48 a 52), 33º fragmento desta obra. Tradução
portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Diógenes e
os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).
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