Jesus (i), no sermão da montanha — que bem se pode denominar a
plataforma ou o programa de sua obra de redenção — começou proferindo a
seguinte sentença: "Bem-aventurados os humildes de Espírito, porque deles
é o reino dos céus". (Mateus, 5:3.)
Porque humildes de Espírito? Bem-aventurados os humildes
não seria o bastante? Porque a redundância — humildes de Espírito? Qual o
motivo dessa superabundância de palavras? Simplesmente porque há várias
formas de humildade; porém, só a de Espírito é que faz jus ao reino dos céus.
Há pessoas humildes de aspecto, de posição social, de
haveres, de profissão, de trajes, de fisionomia, mas que o não são de
Espírito.
Outras há cujas palavras e gestos, manifestando
simplicidade e doçura, afecto e humildade, mal-escondem a soberba que domina os
seus corações. A verdadeira humildade, como aliás todas as virtudes, vem do
íntimo. O exterior nem sempre traduz o interior.
Há um grande número de maltrapilhos e de mendigos
orgulhosos. Existem, outrossim, embora excepcionalmente, exemplos de humildade
entre pessoas abastadas, que ocupam posições de destaque. Há também sábios
humildes, que constituem honrosas excepções à regra geral que impera entre os
letrados e os eruditos. A ignorância petulante e enfatuada é coisa vulgar e
corriqueira.
Até entre os chamados ministros do Cristo se encontram
orgulhosos impenitentes, compenetrados da ideia de supremacia e convencidos de
que só a eles cabem determinados privilégios de ordem e carácter divinos.
A moral cristã, em muita gente, não passa da esfera do
entendimento, da região puramente mental; jamais atinge o círculo do
sentimento, a zona do coração. É do coração, no entanto, que vêm o bem ou o
mal, a virtude ou o vício.
O orgulho, sob os seus aspectos multiformes,
é a grande pedra de tropeço da Humanidade. É o pecado original, que os mortais
trazem consigo, ao aportarem às plagas deste mundo. Daí a origem de todos os
atritos, dissídios e odiosidades que mantêm os homens em atitude de mútuas
hostilidades.
A virtude, como alguém já disse, exclui os cálculos: é
espontânea, natural. Os humildes de posição, de saber, ou de haveres estão
sujeitos às circunstâncias que os cercam na presente existência. Não há mérito
nem virtude por isso, além do modo como suportam e se submetem às inevitáveis
condições de precariedade em que se encontram.
A humildade de espírito, ao contrário, é fruto de uma
conquista, de certo estado de elevação moral da alma. E, graças a essa virtude,
o Espírito pode avançar com passo seguro na realização dos seus gloriosos
destinos. O orgulho não só oblitera o entendimento, senão que impossibilita o
Espírito de receber as inspirações e as graças emanadas do alto.
Não é possível aprender sem possuir humildade de coração.
Quem é humilde reconhece que ignora e está sempre pronto a assimilar os
ensinamentos que o céu outorga aos mortais, por este ou aquele processo.
A inibição mental é, as mais das vezes, consequência
directa do orgulho. A senda da virtude, como o caminho da sabedoria, só podem
ser perlustrados pelos humildes de espírito.
O orgulho é um entrave do espírito em todos os sentidos.
É o legítimo obstáculo às reconciliações, ao perdão, à unidade na fé e na
ciência. Consequentemente é o factor da discórdia, desde o simples
arrefecimento de afectos, até ao ódio que separa, persegue e mata; é a eterna
cizânia, que mantém os homens separados, intranquilos, sobressaltados; é o
dispersador de forças e de elementos prestáveis e úteis, que poderiam militar
conjuntamente com grande eficiência, em prol das boas causas; é finalmente, o fermento que neutraliza as intenções e as aspirações
elevadas de muitos, conservando-os na esterilidade.
Razão, pois, de sobra assiste ao divino Instrutor da
Humanidade, subordinando à humildade de espírito todas as bênçãos celestes,
como também o acesso aos tabernáculos eternos.
Tentação ~
1ª FORMA: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
tornem em pães, visto que tens fome.
Resposta: Não só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus. (Lucas, 4:3 e 4)
Moralidade: A fraqueza da carne é uma das portas abertas
às tentações. Por ela o Diabo penetra, agindo com grande êxito. Essa porta
denomina-se luxúria ou incontinência, gulodice ou intemperança e, tudo o mais
que se relaciona com as sensações físicas, cuja sede é a matéria.
É do domínio da carne sobre o espírito que se originam
todos os vícios repugnantes, tais como o alcoolismo, a concupiscência, a gula,
o tabagismo, a cocainomania.
O corpo, quando não é dirigido pelo Espírito, destrói-se
a si mesmo através das continuadas sensações e exaltações a que se submete. Daí
o dizer profundamente sábio do Mestre: Aquele que muito quer gozar a vida,
perdê-la-á; o que renunciar, porém, à vida, por amor de mim, ganhá-la-á.
Todas as doenças têm origem nas fraquezas da carne, as quais levam o homem
a transgredir constantemente as leis de higiene, leis naturais e, por isso
mesmo, religiosas. A enfermidade é herança do pecado — reza o Evangelho.
A matéria não raciocina, não tem inteligência nem
discernimento. É sede, apenas, de sensações. Do abuso dessas sensações nascem
as exigências caprichosas da animalidade, as quais arrastam o homem ao pélago
dos vícios e à voragem do crime.
Como sair de tal situação? como dominar a carne, fechando
assim ao "Diabo" uma das portas por onde tantas vezes consegue levar
a cabo os seus malévolos intentos?
Vence-se a carne não lhe concedendo tanta atenção, não
atendendo aos seus arrastamentos e caprichos; fortificando, enfim, o Espírito
com o pão do céu, que é a palavra de Deus, a verdade eterna
revelada ao mundo pelo seu Verbo humanado — Jesus-Cristo.
Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai
da boca de Deus (1), eis de que os homens se esquecem,
embevecidos como geralmente andam com os cuidados do corpo. Os que só vivem da
carne e para a carne, ficam sujeitos às fraquezas da carne.
O remédio é a palavra de Deus — é o pão do
Espírito, pois este, como o corpo, também tem fome e tem sede, necessidades
estas que precisam ser satisfeitas. Fortalecer ao máximo o Espírito, dando ao
corpo tão somente o necessário para sua conservação — eis a chave com que se
cerra para sempre uma das portas por onde o "Diabo" costuma penetrar.
Assim procedendo, curaremos também da matéria. Graças à direcção do Espírito, o
corpo se embelezará, far-se-á forte, alcançando longevidade acentuada.
2.ª FORMA: Galgando o pináculo do templo, disse-lhe o
Diabo: Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque escrito está: Aos
seus anjos ordenará a teu respeito e, eles te susterão nas suas mãos, para não
tropeçares em alguma pedra.
Resposta: Também escrito está: Não tentarás o Senhor teu
Deus. (Lucas, 4:9 a 12.)
Moralidade: O orgulho com as suas modalidades —
presunção, arrogância, vaidade, soberba — constitui a segunda porta por onde o
Diabo ingressa, arrastando o homem a quedas desastrosas.
O orgulho é um desafio que o homem faz à
Divindade. Desse acto de insânia ele sai sempre vencido e desapontado.
Daí a justeza desta sentença evangélica: Aquele que se
exalta será humilhado.
Nenhuma paixão exerce tão nefasta influência sobre o
homem como o orgulho, cujas raízes estão mergulhadas nas profundezas do egoísmo.
Por esta razão é difícil vencê-lo, como também porque assume aspectos
multiformes e enganadores.
O orgulho não é peculiar somente à gentilidade. Ele
invade a região da fé, penetra o coração do crente, chegando mesmo a
alimentar-se da própria crença de suas vítimas.
E de quantas formas se reveste! Ora é a cólera rubra
que cega o entendimento, que enfurece ao ponto de nivelar o homem à fera
bravia. Ora é a presunção arrogante que lhe oblitera a mente e calcina as
fibras do coração. Ora é a confiança ilimitada em si mesmo, em pretensos dons e
qualidades, na infalibilidade de seus juízos próprios, na superioridade excelsa
de sua inteligência. Ora, ainda, na exagerada susceptibilidade de sentimentos,
descobrindo por toda a parte desatenções, ofensas e desprezo à sua augusta
personalidade. Ora, finalmente, na atitude de hostilidade ou desdém para com
todos os empreendimentos e todos os feitos onde a actuação própria não foi
exercida, onde o seu juízo não foi emitido nem consultado.
E, assim, o orgulho envolve o homem numa trama perigosa e
traiçoeira, chegando ao prodígio de fazer com que haja quem se orgulhe de
ser bom, de possuir certas virtudes e até de ser humilde!
Se és Filho de Deus, lança-te do pináculo abaixo, pois os
anjos te ampararão: eis o desafio dirigido a Deus, às suas leis sábias e
imutáveis. É como se dissesse: Homem, és santo e bom; és poderoso e sábio; não
deves temer os males, sejam eles quais forem.
Não te deves incomodar com coisa alguma; não é preciso
providência, nem cautelas, nem prudência. Deixa o vigiar e orar para os fracos
e pusilânimes; os anjos velarão por ti, impedindo que sejas vítima de
mistificações, evitando, enfim, que qualquer dano possa alcançar-te. Arroja-te,
sê ousado e intimorato; tens em ti mesmo todo o poder, todo o valor, toda a
sabedoria! Assim fala o orgulho, desafiando as leis naturais e
provocando a reacção que se não faz demorar: a humilhação do orgulhoso.
Como nos livrarmos de inimigo que se mascara assim para
nos vencer?
Guardando na mente e no coração a advertência do Mestre:
Não tentarás o Senhor teu Deus, isto é, serás sempre humilde,
reconhecendo a tua ignorância e fraqueza, através do estudo constante que deves
fazer de ti mesmo; agirás sempre com prudência e calma, prevenindo tudo o que
estiver ao teu alcance e jamais abusando dos dons e faculdades de teu
Espírito; orarás e vigiarás constantemente, pois assim estarás
estabelecendo a tua comunhão com a fonte de todo o poder que é Deus, esse Deus
a quem nunca desafiarás deixando-te possuir da louca pretensão de submetê-lo
aos teus caprichos e veleidades. Dessa sorte, terás fechado outra porta por
onde o "Diabo", a cada passo, penetra, invadindo os teus
domínios.
3.ª FORMA: De novo o Diabo o levou a um monte muito alto
e, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e, disse-lhe: Tudo
isto te darei, se, prostrado, me adorares.
Resposta: Vai-te Satã; pois está escrito: Ao Senhor teu
Deus adorarás e, só a ele darás culto. (Mateus, 4:8 a 10.)
Moralidade: A cobiça, a ambição desmedida o apego às
riquezas e à fascinação do poder e das glórias mundanas são, em conjunto, a
terceira porta aberta às investidas do Diabo.
Ser idólatra não importa somente no feiticismo que
consiste em render culto às imagens. A idolatria mais perniciosa é aquela que
se verifica na avareza, no apego às temporalidades, na sede de
poder e de gloríolas do século; e, finalmente, na adoração de si mesmo ou egolatria.
Indescritíveis e inumeráveis são os crimes perpetrados no
mundo pela ambição aliada à cobiça. Crimes individuais e crimes colectivos. As
guerras cruentas que ensoparam a Terra, por vezes, de sangue e de lágrimas,
estendendo o negro véu da viuvez e da orfandade sobre milhares de mulheres e
crianças, não têm outra origem, nem outra explicação além da cupidez de
corações ávidos de ouro e de pruridos de hegemonia.
As barreiras alfandegárias que encarecem e dificultam a
vida das nações; o despotismo dos governos imperialistas; as tiranias
oligárquicas e ditatoriais; todos os vexames e sacrifícios que se têm
imposto impiedosamente aos povos, são legítimos frutos dessa insaciável sede de
domínio, de glórias e de supremacias, sede maldita que oblitera a razão e
destrói as fibras do sentimento humano.
Por isso, dizia o Apóstolo das gentes:
A raiz de todos os males é a cobiça.
E aconselhava: Não vos fascineis com as grandezas:
acomodai-vos às coisas humildes.
Satã entronizou o bezerro de ouro e, com esse manipanso
vai enlouquecendo homens e nações. Do alto do monte das ambições o
"Diabo" tem precipitado indivíduos e povos, depois de lhes haver
prometido o sempre cobiçado domínio da Terra. No que respeita ao passado,
sabemos que a Babilónia, o Egipto, a Grécia e a Roma dos Césares se despenharam
no abismo. Quanto ao presente, vimos os Impérios Centrais, qual nova Cafarnaum,
querendo galgar as nuvens, cair no pó.
Cumpre, portanto, fecharmos a terceira porta atendendo ao
conselho do Mestre: Ao senhor teu Deus adorarás e, só a ele darás culto.
Adorar a Deus e só a ele prestar culto significa
amar o próximo como a si mesmo e viver segundo a justiça. Esta é a
realidade da vida. O "Diabo" continua, hoje como ontem, iludindo o
homem com falaciosas promessas. O mundo não é propriedade do Diabo nem o será
jamais dos ambiciosos. O homem é apenas usufrutuário da Terra por tempo incerto
e limitado. O melhor uso que ele pode fazer de sua estada, nesta estância da
vida, é iluminar o Espírito e fortalecer a vontade, fechando ao
Diabo as portas da fraqueza da carne, do orgulho e da cobiça.
Desse modo proclamará a sua independência, adorando e
servindo a Deus através do culto da justiça, do amor e da verdade.
Ressurreição ~
Vivemos no mundo da ilusão. A verdade não está naquilo
que vemos, mas precisamente no que não vemos. Atrás do que cai sob
o domínio de nossos olhos é que ela se oculta. Jogando com as faculdades do
Espírito e, não com os sentidos, é que se surpreende a realidade das
coisas.
Ainda hoje há muita gente que supõe a Terra fixa, porque
não a vê mover-se. Outros há que imaginam as cores como propriedade dos corpos;
e se lhes dissermos que as cores não existem, são aparências ou impressões
particulares produzidas na retina pela luz, segundo a sua natureza própria ou
segundo a maneira como é reflectida pelos corpos duvidarão da nossa integridade
mental.
São conhecidos os fenómenos denominados — miragem — que
se observam nos desertos arenosos da África, onde o viandante, por ilusão de
óptica, vê nitidamente na atmosfera a imagem de objectos distantes e, até mesmo
cidades, oásis, lagos, etc. E assim somos enganados a cada instante pelos
nossos sentidos a propósito daquilo que nos afecta como expressão de realidade
e, não passa de ficções...
Dentre todas as ilusões que nos cercam, a maior e a de
mais sérias consequências é a morte. Nada nos parece mais real e
verdadeiro do que ela. É o epílogo fatal da vida, segundo o juízo geral. A
própria ciência oficializada, longe de combater esse funesto erro, é a primeira
a fortalecê-lo, apresentando pretensas documentações em seu abono. Não lhe
aproveitam, neste particular, os exemplos do passado com respeito às muitas
quimeras e fantasias sustentadas e difundidas como dogmas intangíveis pelo
ensino escolástico da época.
E, por ser assim, a morte, no sentido em que é
considerada, vem gozando foros de realidade inconteste, de facto inconfundível
e inexorável, não passando, no entanto, da maior de todas as ilusões de
que a Humanidade tem sido e continua sendo vítima.
Já disse alguém, com bastante justeza, que a pior mentira
é a que mais se parece com a verdade. A morte está exactamente nesta condição;
parecendo, segundo todos os aspectos, a última palavra no cenário da existência
humana, não é mais que simples dissimulação da vida.
A vida — eis a realidade verdadeira. É ela que vence, é
ela que triunfa sempre, sobrepondo-se a todas as metamorfoses, a todas as
contingências a que se submete na sua maravilhosa trajectória pela senda da
eternidade.
A vida não é o que vemos: o que vemos
são apenas as suas manifestações através das formas organizadas. Quereis saber
o que é a alma? dizia Santo
Agostinho, olhai um corpo sem ela, O corpo com todos os seus órgãos; o
corpo intacto, completo e perfeito não passa de um cadáver se lhe escapa a
alma, sede da vida. Sem que lhe falte coisa alguma do que se vê, falta-lhe
tudo, porque lhe falta a vida que se não vê.
A semente nos oferece outro exemplo edificante. Divida-se
em algumas fracções uma semente em óptimas condições germinativas. Reunindo
cuidadosamente essas partes, sem que das mesmas se perca a mais insignificante
parcela, reconstitua-se a semente e, lance-se à terra: jamais germinará.
Porquê? Porque ao fragmentá-la evolou-se aquilo que os nossos olhos não vêem e, que é
tudo: a vida.
A vida não é a forma organizada, por mais complexa que
essa forma seja. Ora, como vemos a forma e não vemos a vida que a anima,
tomamos, por isso, o efeito pela causa, concedendo à morte o
império sobre a vida, quando, na verdade, é esta que fatalmente reina sobre
aquela.
Difícil, no entanto, tem sido convencer o homem deste
facto. A ilusão da morte dominou-o de tal maneira que ele se obstina em
considerá-la como flagrante realidade.
Sendo a ressurreição, como é, um fenómeno natural que
a cada instante se opera, no meio em que nos encontramos, é ainda considerada
como utopia pela ciência mundana e, como milagre pela fé
dogmática.
A passagem do Homem-Deus pela Terra, assinalando o
acontecimento mais extraordinário da História humana, teve por objecto, em
síntese, revelar ao homem a imortalidade através de um testemunho positivo,
palpável, categórico.
Jesus (i) veio a este mundo exemplificar o poder da vida
sobre a morte; morreu para que todos vissem como se morre; ressuscitou para que
todos vissem como se ressuscita. O epílogo de sua existência terrena não foi a
agonia do Calvário: foi a ascensão de Betânia. Da mesma sorte, o triunfo
majestoso do seu ideal não se verificou no patíbulo da cruz, mas sim nas suas
aparições a Madalena, aos dois peregrinos de Emaús e, finalmente, aos apóstolos
no cenáculo de Jerusalém.
O Cristianismo é, por excelência, a religião da
vida em oposição às religiões da morte. "Deixai aos mortos o cuidado
de enterrar os seus mortos. Deus, não é Deus de mortos: para Ele todos
vivem" — assim predicava o Mestre divino. Não obstante, os seus
discípulos, testemunhas oculares da imortalidade manifesta no seu Mestre, dificilmente
se renderam à evidência dessa revelação, a maior certamente de todas que, na
sua misericórdia, o céu tem outorgado à Terra.
Paulo (i), o
insigne pioneiro da nova fé, convertido pelo Cristo redivivo, insistia
continuamente sobre a imortalidade, fazendo girar em torno desse assunto todas
as suas prédicas e epístolas.
Jesus (i) ressuscitou: eis a nova alvissareira para a Humanidade
Eis a esperança — mais que a esperança — eis a fé; mais que a fé, eis a
certeza, eis o facto positivo e palpável da continuidade da vida além do
túmulo.
É necessário, acentuava o Converso de Damasco, que este
corpo corruptível se revista de incorruptibilidade; que esta forma mortal se
revista de imortalidade. Semeia-se em vileza, ressuscita-se em glória.
O derradeiro inimigo a vencer é a morte. Quando, pois, este nosso
corpo perecível e mortal se revestir de glória e de imortalidade, então
diremos: tragada foi a morte na vitória! Onde está, ó morte, o teu poder?
São essas palavras de vida que as vozes do céu hoje
rememoram, anunciando e testemunhando mais uma vez a eterna verdade; nada
morre, nada se extingue, nada se aniquila na Natureza. É a vida e, não a morte,
que domina a criação, entoando o cântico sublime da imortalidade. É o Espírito
que vence a morte e, não a morte que vence o Espírito.
A própria matéria não é destruída na
mais pequenina parcela. O seu aniquilamento é aparente, é ilusório; as formas
se desfazem para se organizarem em seguida sob aspectos novos e mais
aperfeiçoados. A ressurreição é a aurora perenal que envolve o
Universo; é o sol da vida, sol sem ocaso, pairando majestoso no Levante
sempiterno.
Hosanas a Jesus ressuscitado, imagem da vida eterna, testemunho
vivo da imortalidade, símbolo da vitória do Espírito sobre as formas
perecíveis!
Tu és, como bem o disseste, a ressurreição e a vida; o
que crê em ti, ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em ti,
nunca morrerá!
/...
(1) Deus/Inteligência organizadora. Adenda
desta publicação.
"Aos que comigo crêem e sentem as revelações do Céu,
comprazendo-se na sua doce e encantadora magia, dedico esta obra.”
Pedro de Camargo “Vinícius”
Pedro de Camargo “Vinícius” (i),
"Em torno do Mestre", Primeira Parte / Seixos e
Gravetos; Humildes de
espírito / Tentação / Ressurreição, 17º fragmento desta
obra.
(imagem de contextualização: Jesus em casa de
Marta e Maria, óleo sobre tela (1654-1655), pintura de Johannes
Vermeer)
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