(Segundo Artigo)
Pedimos aos nossos leitores o favor de se reportarem
ao primeiro artigo que publicámos acerca deste
assunto (*); sendo este a sua continuação, seria pouco inteligível
se não se tivesse em mente aquele início.
As explicações que demos sobre as manifestações físicas, como
dissemos, fundam-se sobre a observação e a dedução lógica dos factos:
concluímos de acordo com o que vimos. Agora, como se operam, na
matéria eterizada, as modificações que vão torná-la perceptível e tangível? Deixemos,
primeiro, que falem os Espíritos, a quem interrogamos a este respeito,
acrescentando depois os nossos próprios comentários. As respostas seguintes
foram dadas pelo Espírito São Luís e;
concordam com o que nos havia sido dito anteriormente por outros Espíritos.
1. Como pode um Espírito aparecer com a solidez de um corpo vivo?
Resp. – Ele combina uma parte do fluido universal com o fluido que o médium liberta, próprio a esse efeito. À sua vontade,
esse fluído toma a forma que o Espírito deseja; mas em geral a forma é
impalpável.
2. Qual é a natureza desse fluido?
Resp. – Fluido; está tudo dito.
3. Esse fluido é material?
Resp. – Semimaterial.
4. É esse fluido que compõe o perispírito?
Resp. – Sim, é a ligação do Espírito à matéria.
5. É esse fluido que dá vida, ao princípio vital?
Resp. – Sempre ele; eu disse ligação.
6. Esse fluido é uma emanação da Divindade?
Resp. – Não.
7. É uma criação da Divindade?
Resp. – Sim, tudo é criado, excepto o próprio Deus.
8. O fluido universal tem alguma relação com o fluido eléctrico, do qual
conhecemos os efeitos?
Resp. – Sim; é um seu elemento.
9. A substância etérea que existe entre os planetas é o fluido
universal em questão?
Resp. – Ele envolve os mundos: sem o princípio vital, nada
viveria. Se um homem se elevasse além do envoltório fluídico que
circunda os globos, pereceria, porquanto o princípio vital dele se retiraria,
para se juntar à massa. Esse fluido vos anima; é ele que
respirais.
10. Esse fluido é o mesmo em todos os globos?
Resp. – É o mesmo princípio, mais ou menos eterizado, conforme a
natureza dos globos; o vosso é um dos mais materiais.
11. Desde que é esse fluido que compõe o perispírito,
estaria ele em uma espécie de condensação que, até certo ponto, o aproxima da
matéria?
Resp. – Até um certo ponto, sim, visto não ter as suas propriedades; é mais ou
menos condensado, conforme os mundos.
12. São os Espíritos solidificados que erguem uma mesa?
Resp. – Essa pergunta não levará ainda ao que desejais. Quando uma mesa se move
sob as vossas mãos, o Espírito evocado pelo vosso Espírito vai haurir, do
fluido cósmico universal, aquilo com que haverá de animar essa mesa com uma
vida factícia. Os Espíritos que produzem tais efeitos
são sempre Espíritos inferiores, ainda não inteiramente desprendidos do seu
fluido ou perispírito. Estando assim preparada à sua vontade – à
vontade dos Espíritos batedores – o Espírito a atrai e a movimenta, sob a
influência do seu próprio fluido, liberado pela sua vontade. Quando a massa que
deseja levantar ou mover lhe é demasiado pesada, chama em seu auxílio Espíritos
que se encontram nas mesmas condições que ele. Creio que me
expliquei com bastante clareza para me fazer compreender.
13. Os Espíritos que ele chama em seu auxílio são inferiores?
Resp. – Quase sempre são iguais; frequentemente vêm por si mesmos.
14. Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupem de coisas que estão
abaixo deles; mas perguntamos, em virtude de serem desmaterializados, se teriam
o poder de o fazer, caso tivessem essa vontade?
Resp. – Têm a força moral, como os outros têm a força física; quando
necessitam desta última, servem-se dos que a possuem. Não se vos
disse que eles se servem dos Espíritos inferiores como o fazeis com os
carregadores?
15. De onde vem o poder especial do Sr. Home?
Resp. – De sua organização.
16. Que tem ela de particular?
Resp. – Essa pergunta não está clara.
17. Perguntamos se se trata de sua organização física ou moral.
Resp. – Eu disse organização.
18. Entre as pessoas presentes há alguém que possa ter a mesma faculdade
do Sr. Home?
Resp. – Têm-na em certo grau. Não foi um de vós que fez mover a mesa?
19. Quando uma pessoa faz mover um objecto, é sempre pelo concurso de um
Espírito estranho, ou a acção pode provir somente do médium?
Resp. – Algumas vezes o Espírito do médium pode agir sozinho, porém, na maioria
das vezes, é com o auxílio dos Espíritos evocados; isso é fácil de reconhecer.
20. Como é que os Espíritos aparecem com as roupas que usavam na Terra?
Resp. – Delas muitas vezes só têm a aparência. Aliás,
quantos fenómenos sem solução não tendes entre vós? Como pode o vento, que é
impalpável, arrancar e quebrar árvores, que são compostas de matéria sólida?
21. Que entendeis quando afirmais que essas roupas têm apenas a sua aparência?
Resp. – Ao tocá-las nada se sente.
22. Se bem compreendemos o que nos dissestes, o princípio vital reside no
fluido universal; o Espírito haure nesse fluido o envoltório semimaterial que
constitui o seu perispírito e, é por meio desse fluido que ele age
sobre a matéria inerte. É mesmo isso?
Resp. – Sim; isto é, ele anima a matéria com uma espécie de
vida factícia; a matéria se anima da vida animal. A mesa que se
move sob as vossas mãos vive e sofre como o animal; obedece por si mesma ao ser
inteligente. Não é ele que a dirige, como o homem com um fardo;
quando a mesa se ergue, não é o Espírito que a levanta, é a mesa animada
que obedece ao
Espírito inteligente.
23. Desde que o fluido universal é a fonte da vida, é, ao mesmo tempo, a fonte
da inteligência?
Resp. – Não; o fluido anima somente a matéria.
Esta teoria das manifestações físicas oferece vários pontos de contacto com a
que demos, mas dela difere sob certos aspectos. De uma e da outra ressalta um
ponto capital: o fluido universal, no qual reside o princípio da vida, é o
agente principal dessas manifestações e esse agente recebe a sua impulsão do
Espírito, quer seja encarnado ou errante.
Esse fluido condensado constitui o perispírito ou envoltório semimaterial do
Espírito. Quando encarnado, o perispírito está unido à matéria do corpo; no
estado de erraticidade, fica livre. Ora, duas questões se apresentam aqui: a
da aparição dos Espíritos e a do movimento imprimido aos
corpos sólidos.
Em relação à primeira, diremos que, no estado normal, a matéria eterizada
do perispírito escapa à percepção dos nossos órgãos; só a alma pode vê-la, quer
em sonho, quer em estado sonambúlico ou,
até mesmo, semi-adormecida; numa palavra, toda a vez em que houver suspensão
total ou parcial da actividade dos sentidos. Quando o Espírito está encarnado,
a substância do perispírito se encontra mais ou menos ligada intimamente à
matéria do corpo, mais ou menos aderente, se assim nos podemos exprimir. Em
algumas pessoas há uma espécie de emanação desse fluido, em consequência de sua
organização e, é isso que constitui propriamente os médiuns de efeitos físicos. Emanando
do corpo, esse fluido se combina, segundo leis que nos são desconhecidas, com o
fluido que forma o envoltório semimaterial de um Espírito estranho. Disso
resulta uma modificação, uma espécie de reacção molecular que lhe altera
momentaneamente as propriedades, ao ponto de torná-lo visível e,
em certos casos, tangível. Esse efeito pode produzir-se com ou sem o
concurso da vontade do médium; é isso que distingue os médiuns naturais dos
médiuns facultativos. A emissão do fluido pode ser mais ou menos
abundante: daí os médiuns mais ou menos potentes; e como tal emissão não é
permanente, fica explicada a intermitência daquele poder. Enfim, se se levar em
conta o grau de afinidade que pode existir entre o fluido do médium e o de tal
ou qual Espírito, conceber-se-á que a sua acção possa exercer-se sobre uns e
não sobre outros.
Evidentemente, o que acabamos de dizer também se aplica à força mediúnica, no
que concerne ao movimento dos corpos sólidos; resta saber como se opera esse
movimento. Conforme as respostas que relatamos acima, a questão se
apresenta sob uma luz inteiramente nova; assim, quando um objecto é posto em
movimento, erguido ou lançado no ar, não é o Espírito que o agarra, empurra e
levanta, como o faríamos com a mão; ele, por assim dizer, o satura com
o seu fluido, combinando-o com o do médium e, o objecto, assim
momentaneamente vivificado, age como o faria um ser vivo, com a diferença
de que, não tendo vontade própria, segue a impulsão da vontade do Espírito,
tanto podendo essa vontade ser do Espírito do médium quanto de um Espírito
estranho e, algumas vezes, dos dois, agindo de comum acordo, conforme sejam ou
não simpáticos. A simpatia ou antipatia que pode existir entre os médiuns
e os Espíritos que se ocupam desses efeitos materiais explica por que nem
todos são aptos a provocá-los.
Desde que o fluido vital, emitido de alguma sorte pelo Espírito, dá uma vida
factícia e momentânea aos corpos inertes; desde que outra coisa não
é o perispírito senão o próprio fluido vital, segue-se que, quando encarnado, é
o Espírito que dá vida ao corpo, por intermédio do seu perispírito; fica-lhe
unido enquanto a organização o permite; quando se retira, o corpo morre. Agora,
se em vez de uma mesa, talhamos uma estátua em madeira e, se agirmos sobre ela
como sobre a mesa, teremos uma estátua que se movimentará, que baterá, que
responderá por movimentos e pancadas; numa palavra, uma estátua momentaneamente
animada de uma vida artificial. Quanta claridade lança esta teoria sobre uma
multidão de fenómenos até aqui inexplicados! Quantas alegorias e efeitos
misteriosos ela explica! É toda uma filosofia.
/…
(*) Conforme indicação do autor, entre por favor aqui, onde acederá ao seu primeiro artigo, por
nós já publicado e, assim beneficiarmos a sua inteligibilidade. Nota
desta publicação.
Allan Kardec (i), aliás, Hippolyte Léon Denisard Rivail, Teoria
das Manifestações Físicas, Segundo Artigo. Revista Espírita – Jornal
de Estudos Psicológicos, Paris, Junho de 1858, 14º fragmento da Revista objecto
do presente titulo desta publicação.
(imagem de contextualização: Dança rebelde, 1965 – Óleo sobre tela,
de Noêmia
Guerra)