Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Da sombra do dogma à luz da razão ~


~ Uranografia Geral (*) 
O espaço e o tempo ~ 

| Galileu, Espírito 
(Études Uranographiques)
(IV) 

~ A Criação universal 🌈

  Depois de nos termos elevado, tanto quanto a nossa fraqueza o permite, até à fonte escondida de onde brotam os mundos como gotas de água do rio, consideremos o andamento das criações sucessivas e os seus desenvolvimentos em série. 

  A matéria cósmica primitiva continha elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que desenvolveram as suas magnificências perante a eternidade; ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira antepassada e, o que é mais, a geradora eterna. Não desapareceu em absoluto, essa substância de onde provêm as esferas siderais; não está de maneira nenhuma morta essa força, pois dá ainda incessantemente vida a novas criações e recebe incessantemente os princípios reconstituídos dos mundos que se apagam do livro eterno. 

  A matéria etérea, mais ou menos rarefeita que desce por entre os espaços interplanetários, esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito nas regiões imensas, ricas em aglomerados de estrelas, mais ou menos condensada ali onde o céu astral ainda brilha, mais ou menos modificada por diversas combinações consoante as localizações do espaço, não é mais do que a substância primitiva onde residem as forças universais, de onde a natureza retirou tantas coisas (**).

  Este fluido penetra os corpos como um imenso oceano. É nele que reside o princípio vital que dá nascimento à vida dos seres e a perpetuidade a cada globo segundo a sua condição, princípio em estado latente que dormita quando a voz de um ser não o chama. Cada criatura, mineral, vegetal ou outra – pois existem muitos outros reinos naturais de que nem sequer suspeitamos a existência – sabe por virtude deste princípio vital universal apropriar-se das condições da sua existência e da sua duração. 

  As moléculas do mineral têm a sua quota desta vida, assim como o grão e o embrião e, agrupam-se, como no organismo, em figuras simétricas que constituem os indivíduos. 

  É muito importante compenetrarmo-nos desta noção: que a matéria cósmica primitiva estava revestida não só com leis que garantem a estabilidade dos mundos, como também com o princípio vital universal que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se vão manifestando as condições da existência sucessiva dos seres e quando a hora da aparição dos filhos da vida durante o período criador. 

  Assim se efectua a Criação universal. É portanto verdade dizer-se que, sendo as operações da natureza a expressão da vontade divina, Deus criou sempre, criou sem pausa e sempre criará. 

  Mas até aqui deixámos passar em silêncio o mundo espiritual que, também ele, faz parte da Criação e cumpre os seus destinos consoante a augusta prescrição do Mestre. 

  Só posso transmitir um ensinamento muito restrito sobre o modo de criação dos Espíritos, devido à minha própria ignorância e, devo calar-me ainda sobre certas questões, apesar de me ter sido permitido aprofundá-las. 

  Aos que estão religiosamente desejosos de conhecer e que são humildes perante Deus, direi, suplicando-lhes que não construam nenhuma teoria prematura sobre as minhas palavras: o Espírito não consegue receber a iluminação divina que lhe dá, ao mesmo tempo que o livre-arbítrio e a consciência, a noção dos elevados destinos sem ter passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualidade; é só a partir do dia em que o Senhor imprime na sua fronte a sua augusta matriz que o Espírito toma posição entre as humanidades. 

  Uma vez mais, não construam sobre as minhas palavras os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da metafísica (i); preferia mil vezes calar-me sobre questões tão acima das nossas meditações vulgares, do que vos expor a desvirtuar o sentido do meu ensinamento e mergulhar-vos, por minha culpa, nos labirintos inextrincáveis do deísmo e do fatalismo. 

Espírito Galileu 

/... 

(**) Se perguntássemos qual é o princípio dessas forças e como pode estar na própria substância que o produz, responderíamos que a mecânica nos oferece numerosos exemplos. A elasticidade que faz distender uma mola não está ela mesma na própria mola e não depende da forma de agregação das moléculas? O corpo que obedece à força centrifuga recebe o seu impulso do movimento primitivo que lhe foi imprimido. (N. do A.) 
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu; médium M. C. F. (N. do A.) 


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – A Criação universal (de 17 a 19), 26º fragmento desta obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida. 
(imagem de contextualização: Diógenes e os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).

Sem comentários: