O espaço e o tempo ~
| Galileu, Espírito
(Études Uranographiques)
(IV)
~ A Criação universal 🌈
Depois de nos termos elevado, tanto quanto a nossa
fraqueza o permite, até à fonte escondida de onde brotam os mundos como gotas
de água do rio, consideremos o andamento das criações sucessivas e os seus
desenvolvimentos em série.
A matéria cósmica primitiva continha elementos
materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que desenvolveram as suas
magnificências perante a eternidade; ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira antepassada e, o que é mais, a geradora eterna. Não
desapareceu em absoluto, essa substância de onde provêm as esferas siderais;
não está de maneira nenhuma morta essa força, pois dá ainda incessantemente
vida a novas criações e recebe incessantemente os princípios reconstituídos dos mundos que se apagam do livro eterno.
A matéria etérea, mais ou menos rarefeita que desce
por entre os espaços interplanetários, esse fluido cósmico que enche o mundo,
mais ou menos rarefeito nas regiões imensas, ricas em aglomerados de estrelas,
mais ou menos condensada ali onde o céu astral ainda brilha, mais ou menos
modificada por diversas combinações consoante as localizações do espaço, não é
mais do que a substância primitiva onde residem as forças universais, de onde a natureza retirou tantas coisas (**).
Este fluido penetra os corpos como um imenso oceano. É nele
que reside o princípio vital que dá nascimento à vida dos seres e a
perpetuidade a cada globo segundo a sua condição, princípio em estado latente
que dormita quando a voz de um ser não o chama. Cada criatura,
mineral, vegetal ou outra – pois existem muitos outros reinos naturais
de que nem sequer suspeitamos a existência – sabe por virtude
deste princípio vital universal apropriar-se das condições da
sua existência e da sua duração.
As moléculas do mineral têm
a sua quota desta vida, assim como o grão e o embrião e,
agrupam-se, como no organismo, em figuras simétricas que constituem os
indivíduos.
É muito importante compenetrarmo-nos desta noção: que
a matéria cósmica primitiva estava revestida não só com leis que garantem a
estabilidade dos mundos, como também com o princípio vital universal
que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se vão manifestando
as condições da existência sucessiva dos seres e quando a
hora da aparição dos filhos da vida durante o período criador.
Assim se efectua a Criação universal. É portanto
verdade dizer-se que, sendo as operações da natureza a expressão da vontade
divina, Deus criou sempre, criou sem pausa e sempre criará.
Mas até aqui deixámos passar em silêncio o mundo
espiritual que, também ele, faz parte da Criação e cumpre os seus
destinos consoante a augusta prescrição do Mestre.
Só posso transmitir um ensinamento muito restrito
sobre o modo de criação dos Espíritos, devido à minha própria
ignorância e, devo calar-me ainda sobre certas questões, apesar de me ter sido
permitido aprofundá-las.
Aos que estão religiosamente desejosos de conhecer e
que são humildes perante Deus, direi, suplicando-lhes que não construam nenhuma
teoria prematura sobre as minhas palavras: o Espírito não consegue
receber a iluminação divina que lhe dá, ao mesmo tempo que o livre-arbítrio e a
consciência, a noção dos elevados destinos sem ter passado pela série divinamente
fatal dos seres inferiores entre os quais se elabora lentamente a obra
da sua individualidade; é só a partir do dia em que o Senhor imprime
na sua fronte a sua augusta matriz que o Espírito toma posição entre as
humanidades.
Uma vez mais, não construam sobre as minhas palavras
os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da metafísica (i);
preferia mil vezes calar-me sobre questões tão acima das nossas meditações
vulgares, do que vos expor a desvirtuar o sentido do meu ensinamento e mergulhar-vos,
por minha culpa, nos labirintos inextrincáveis do deísmo e do fatalismo.
Espírito Galileu
/...
(**) Se perguntássemos qual é o princípio dessas
forças e como pode estar na própria substância que o produz, responderíamos que
a mecânica nos oferece numerosos exemplos. A elasticidade que faz distender uma
mola não está ela mesma na própria mola e não depende da forma de
agregação das moléculas? O corpo que obedece à força centrifuga recebe o seu
impulso do movimento primitivo que lhe foi imprimido. (N. do A.)
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de uma série de
comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o
título de Études Uranographiques e assinado, Galileu;
médium M. C. F. (N. do A.)
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – A
Criação universal (de 17 a 19), 26º fragmento desta obra. Tradução
portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Diógenes e
os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).
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