O espaço e o tempo ~
| Galileu, Espírito
(Études Uranographi-ques) (II)
~ As leis e as forças 🌈
Se um destes seres desconhecidos que consomem a sua existência efémera
no fundo das regiões tenebrosas do oceano, se uma dessas poligaláceas, uma dessas nereidas – miseráveis animalejos que só conhecem da natureza os peixes ictiófagos e as florestas submarinas – recebesse subitamente o dom da inteligência,
a faculdade de estudar o seu mundo e de estabelecer sobre as suas apreciações
um raciocínio conjectural extensivo à universalidade das coisas, que ideia fariam
eles da natureza viva que se desenvolve no seu meio e do mundo terrestre que
não faz parte do seu campo de observação?
Se agora, por um efeito maravilhoso do seu novo
poder, esse mesmo ser conseguisse elevar-se acima das trevas eternas, à superfície do mar, não longe dos
rios opulentos de uma ilha de esplêndida vegetação, ao sol fecundo, fornecedor
de um benfazejo calor, que pensariam então das teorias antecipadas da Criação
universal, teoria que bem cedo apagaria através de uma apreciação mais vasta mas ainda relativamente tão incompleta como a primeira? É
esta, ó homens, a imagem da vossa ciência toda ela especulativa (ii).
Quando então venho tratar aqui a questão das leis e
das forças que regem o Universo, eu que tal como vós não sou
mais que um ser relativamente ignorante
relativamente à ciência real, apesar da aparente superioridade que me dá
sobre os meus irmãos da Terra a possibilidade de estudar questões naturais que
lhes são proibidas na sua posição, o meu objectivo é unicamente expor-vos a noção geral das
leis universais sem explicar em pormenor o modo de acção e a natureza das
forças especiais que daí dependem.
Há um fluido etéreo que enche o
espaço e penetra os corpos; este fluido é o éter ou matéria
cósmica primitiva, gerador do mundo e dos seres. Ao éter são
inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria,
as leis imutáveis e necessárias que governam o mundo. Estas formas múltiplas,
indefinidamente variadas, consoante as combinações da matéria, localizadas
segundo as massas, diversificadas nas formas de acção consoante as
circunstâncias e os meios, são conhecidas na Terra com o nome de peso,
coesão, afinidade, magnetismo, electricidade activa; os
movimentos vibratórios do agente, são conhecidos pelos
de som, calor, luz, etc. Noutros mundos apresentam-se sob
outros aspectos, apresentam outros caracteres desconhecidos deste e na mesma
extensão dos céus, forças em número indefinido, desenvolvendo-se numa escala
imaginária de que somos tão incapazes de avaliar a grandeza como os crustáceos
no fundo do oceano, são incapazes de abarcar a universalidade dos fenómenos
terrestres (iii).
A natureza nunca está em oposição
consigo mesma. O brasão do Universo só tem uma divisa: UNIDADE /
VARIEDADE. Subindo a escala dos mundos, encontramos a unidade de harmonia e
de criação ao
mesmo tempo que uma variedade infinita nesse imenso canteiro de estrelas;
percorrendo os degraus da vida, desde o mais ínfimo dos seres até
Deus, a grande lei da continuidade dá-se a conhecer;
considerando as forças em si mesmas, podemos formar com elas uma série cuja resultante,
confundindo-se com a geradora, é a lei universal.
Não poderíeis apreciar esta lei em toda a sua
extensão dado que as forças que a representam no campo das vossas observações
são restritas e limitadas; no entanto, a atracção e
a electricidade podem
ser consideradas como uma vasta aplicação da lei primordial que
reina para além dos céus.
Todas estas forças são eternas – explicaremos esta
palavra – e eternas como a Criação; sendo inerentes ao fluido cósmico, agem necessariamente em tudo e em todo o
lado, modificando a sua acção pela sua simultaneidade ou pela sua sucessão;
predominando aqui, apagando-se mais longe; poderosas e activas nalguns pontos,
latentes ou secretas noutros; mas finalmente preparando, dirigindo, conservando
e destruindo os mundos nos seus diversos períodos de vida, governando os
trabalhos maravilhosos da natureza em qualquer sítio que ocorram, garantindo
para todo o sempre o eterno esplendor da Criação.
Espírito Galileu
/…
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de
uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e
1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu;
médium M. C. F. (N. do A.)
(ii) É esta também a situação dos negadores do mundo dos Espíritos,
quando, depois de se terem despojado do seu invólucro carnal, os horizontes
deste mundo se desenvolvem a seus olhos. Percebem então o vazio das teorias com
que pretendiam tudo explicar através unicamente da matéria. No
entanto, estes horizontes têm ainda para eles mistérios que só se revelam a
pouco e pouco, à medida que se elevam por depuração. Mas, a partir dos seus
primeiros passos, neste mundo novo, são obrigados a reconhecer a sua cegueira e
até que ponto estavam longe da verdade. (N. do A.)
(iii) Relacionando tudo com aquilo que conhecemos e não entendemos o
que escapa à percepção dos nossos sentidos assim como o cego nato não percebe
os efeitos da luz e a utilidade dos olhos. Pode no entanto acontecer que
noutros meios o fluido cósmico tenha propriedades, combinações, de que não
fazemos qualquer ideia, efeitos apropriados às necessidades que nos são
desconhecidos, dando lugar a novas percepções ou outros modos de percepção. Não
percebemos, por exemplo, que se possa ver sem os olhos do corpo e sem a luz;
mas quem nos diz que não existem outros agentes para além da luz a que estejam
afectos organismos especiais? A visão sonambúlica, que
não é travada nem pela distância, nem pelos obstáculos materiais, nem pela
obscuridade, dá-nos disso um exemplo. Suponhamos que, num mundo qualquer, os
seres são normalmente aquilo que os nossos sonâmbulos só são
excepcionalmente, não terão necessidade nem da luz, nem dos nossos olhos e no
entanto verão o que nós não podemos ver. Passa-se o mesmo com todas as outras
sensações. As condições de vitalidade e de percepção, as sensações e as
necessidades variam consoante os meios.
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – As leis
e as forças (de 8 a 11), 24º fragmento desta obra. Tradução
portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Diógenes e
os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).
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