VII – A Medicina e O Espiritismo |
Por que motivo, o Espiritismo, desde o início
da sua elaboração doutrinária, teve de enfrentar a mais cerrada oposição das
corporações médicas em todo o mundo? Por estranho que pareça, o motivo
fundamental é simplesmente este: a Ciência Espírita abre
novas e grandiosas perspectivas para o desenvolvimento da Medicina, oferecendo-lhe
nada menos do que a metade desconhecida da realidade humana e das
possibilidades terapêuticas de que ela necessita.
Pasteur, que não era médico, mas químico, teve de enfrentar a mesma oposição por razões semelhantes. No seu tempo, a Medicina conhecia apenas um quarto da realidade humana e Pasteur oferecia-lhe mais um quarto. Foi ridicularizado e espezinhado por esse gesto de atrevimento. Kardec era professor de ciências médicas e exerceu em Paris, como o demonstra André Moreil na sua recente biografia do Codificador. Mas nem por isso escapou da excomunhão científica. É curioso o paralelo entre eles. Pasteur descobriu e revelou, provando-o cientificamente, a existência do mundo invisível das bactérias microbianas, que respondem, juntamente com as viroses, pela totalidade das doenças infecto-contagiosas, e descobriu a maneira científica de prevenir e curar essas doenças. Kardec descobriu e revelou cientificamente o mundo invisível dos espíritos infestadores e, descobriu a maneira, científica, de prevenir e curar essas infestações. Estes dois mundos invisíveis não estão localizados no Além, mas aqui mesmo, na Terra, envolvendo e, interpenetrando o mundo visível. Porém, a Medicina é um organismo vivo do mundo das ciências e, como todo o organismo biológico ou conceptual, é dotado do instinto de sobrevivência, repelindo instintivamente toda e qualquer interferência estranha à sua estrutura.
Pasteur, que não era médico, mas químico, teve de enfrentar a mesma oposição por razões semelhantes. No seu tempo, a Medicina conhecia apenas um quarto da realidade humana e Pasteur oferecia-lhe mais um quarto. Foi ridicularizado e espezinhado por esse gesto de atrevimento. Kardec era professor de ciências médicas e exerceu em Paris, como o demonstra André Moreil na sua recente biografia do Codificador. Mas nem por isso escapou da excomunhão científica. É curioso o paralelo entre eles. Pasteur descobriu e revelou, provando-o cientificamente, a existência do mundo invisível das bactérias microbianas, que respondem, juntamente com as viroses, pela totalidade das doenças infecto-contagiosas, e descobriu a maneira científica de prevenir e curar essas doenças. Kardec descobriu e revelou cientificamente o mundo invisível dos espíritos infestadores e, descobriu a maneira, científica, de prevenir e curar essas infestações. Estes dois mundos invisíveis não estão localizados no Além, mas aqui mesmo, na Terra, envolvendo e, interpenetrando o mundo visível. Porém, a Medicina é um organismo vivo do mundo das ciências e, como todo o organismo biológico ou conceptual, é dotado do instinto de sobrevivência, repelindo instintivamente toda e qualquer interferência estranha à sua estrutura.
Além disso, temos de considerar que descobertas desta
natureza rompem sempre ameaçadoras fendas na estrutura superior das
civilizações. A civilização científica, que nascera de brechas abertas
na civilização teológica, enfrentando batalhas impiedosas para se desenvolver,
reagiu com a mesma violência instintiva
na defesa da sua estrutura. Rémy Chauvin,
director do laboratório do Instituto de Altos Estudos de Paris, considerou
recentemente a existência de uma doença alérgica no meio científico e
chamou-lhe de alergia ao
futuro. É essa alergia, o novo nome do instinto de sobrevivência, que ainda hoje mantém acesa a luta defensiva da Medicina
contra o Espiritismo,
não obstante as comprovações científicas actuais de toda a realidade espírita.
O Espiritismo aliou-se
à Medicina desde os primórdios, a partir das investigações sobre as curas
espíritas, realizadas na Clínica do Dr. Demeure, em Paris, a pedido de Allan Kardec. A
terapêutica espírita desenvolveu-se à revelia da Medicina, ao contrário do que
Kardec desejava, revestindo-se de aspectos anti-espíritas. Mas, apesar
disso, os espíritas não tomaram, salvo raras excepções, geralmente individuais
e da parte de pessoas incultas, a posição das religiões ou de seitas
terapêuticas milagreiras. É grande o número actual de médicos espíritas e
existem até mesmo associações de Medicina e Espiritismo, como as do Rio e São
Paulo. Esse é o aspecto institucional do problema, sem dúvida
importante, porque dele depende, em grande parte, a aceitação da verdade espírita nos
meios culturais oficiais, facto que talvez possa ocorrer no próximo milénio,
com o desenvolvimento da Civilização do Espírito. A situação actual é
curiosa: só a Filosofia Espírita goza de cidadania oficial, enquanto a
Ciência Espírita e a Religião Espírita continuam em posição marginal. Essa
marginalização é a mesma que o Cristianismo sofreu no mundo romano, agora
atenuada pelas conquistas do mundo moderno no tocante aos direitos
humanos. O Espiritismo não
é nem pode fazer-se (uma) religião institucionalizada e muito menos
oficializada em parte alguma, porque os seus princípios são contrários
a toda a sistemática fingida e fechada. O que
importa no Espiritismo, como Kardec acentuou desde o início, não é a forma, mas
a substância. Toda a tentativa de institucionalização exige hierarquia, que
implica autoridade e é acção autoritária. O fundamento ético
do Espiritismo é
a liberdade, sem a qual não há actividade criadora nem responsabilidade
individual. Por isso, só a associação livre convém ao
Espiritismo, que perde com isso em representação social, mas ganha em compensação
no tocante à responsabilidade individual.
Nas suas relações com as instituições sociais e políticas
da actualidade o Espiritismo encontra
muitas dificuldades, mas a liberdade tem o seu preço. É preferível lutar
com dificuldades externas, a expor-se ao perigo das congestões internas. Por
toda a parte, no nosso mundo, pululam os mestres pretensiosos e os
tiranetes vaidosos, prontos a servirem-se dos títulos e dos cargos oficiais
para esmagarem a liberdade. Muitos espíritas não compreendem esse
problema e tentam sujeitar o movimento espírita a cúpulas pretensiosas.
Tratando desse tipo de institucionalização, fatalmente dogmática, Kardec recomendou a
multiplicidade dos Centros Espíritas pequenos, unidos por laços de
fraternidade, e Emmanuel,
através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier,
declarou numa mensagem orientadora: "A Religião organizada é o cadáver
da Religião". Isso porque a organização religiosa está sempre sujeita
à dominação dos fanáticos e ambiciosos. A ambição do poder asfixia o espírito
democrático. O Espiritismo iniciou
no campo religioso a era democrática que Jesus lançara no seu tempo,
mas que morreu asfixiada com o fracasso da Comunidade Apostólica.
No tocante às relações do Espiritismo com a
Medicina a institucionalização "espírita igrejeira" cortaria
qualquer possibilidade de entendimento. O Espiritismo não tem por
objectivo opor-se à Medicina, mas ajudá-la na melhor compreensão da
natureza humana e dos recursos naturais de que esta pode dispor para o seu
maior progresso. Ajudando a Medicina a completar a imagem parcial do homem, de
que dispõe, o Espiritismo a levará, como já vai acontecendo, à
utilização dos recursos insuspeitados do espírito. A mediunidade, fonte
inesgotável de recursos espirituais no combate às doenças, que seria
renegada pelos médicos. A finalidade do Espiritismo nesse campo é colocar os
recursos mediúnicos nas mãos de médicos esclarecidos, para benefício de toda a
Humanidade. As descobertas de Kardec seriam assim
postas à disposição de todos, como o foram as de Pasteur. Esse é um
dos motivos da exigência kardeciana de mediunidade gratuita. A profissionalização
mediúnica seria um atentado à própria finalidade do Espiritismo, sempre aberto
a todas as investigações para
melhor servir a todos e em todos os tempos.
Kardec intuiu
desde logo esse problema, recorrendo à Clínica Demeure para o controle dos
casos de mediunidade
curadora. Disso resultou a conjugação médico-espírita, hoje em franco
desenvolvimento, evitando o divinismo fanático das seitas religiosas que
proíbem aos adeptos recorrer à Medicina. Não somos apenas espíritos, mas
espíritos encarnados,
dotados do corpo material que é objecto dos estudos e da terapêutica médica. A
maioria absoluta dos espíritas utiliza-se de ambos os recursos, o médico e o
mediúnico, no tratamento das doenças. Compreendem que os recursos em causa
atendem aos dois elementos da constituição humana, o material e o espiritual,
sendo por isso necessário conjugar as duas acções terapêuticas, agindo cada uma
no seu campo específico. Na proporção em que se acentuar a evolução
espiritual do homem, os recursos espirituais se intensificarão no plano mediúnico, contribuindo
para a espiritualização da Medicina. A Medicina espiritualizada
pertence aos mundos superiores, entre os quais a Terra brilhará um dia, como
planeta vitorioso, apesar de todas as incompreensões e dificuldades desta
fase de transição. Compreenderemos
então que Deus concede os seus recursos ao homem, na medida em que ele se
torna capaz de
utilizá-los, sem se demorar na espreguiçadeira do comodismo e da
irresponsabilidade.
A mediunidade curadora,
é hoje mais perigosa do que benéfica, no nosso mundo, porque excita
a vaidade e a ambição dos médiuns e dos seus
familiares, além dos agudos interesses políticos sempre despertados na
comunidade, envolvendo os médiuns em manobras subtis que acabam por
afectar a sensibilidade mediúnica e desviar o médium da sua verdadeira missão. Na
maioria dos médiuns de cura os primeiros sucessos provocam espanto e humilde
respeito pelos espíritos que os assistem, mas a continuidade dos
sucessos tornam os factos corriqueiros e o médium acaba
convencendo-se de que age por si mesmo. A fascinação do dinheiro e do
prestígio social e político, levam o médium à exploração simoníaca dos seus dons. Ao
benefício das curas materiais, opõe-se então o malefício das enfermidades
espirituais, criando dificuldades e conflitos de toda a espécie. O pior
desses males é a situação contraditória em que o médium acaba caindo
(por cair), fingindo humildade e cultivando a arrogância, e
não raro, na falta da assistência espiritual que se afasta, entregando-se à
prática de expedientes condenáveis. As condições morais do nosso
mundo ainda não permitem a constância da terapêutica mediúnica ostensiva no
planeta. Os médiuns de
cura são voluntários da espiritualidade que se julgam capazes de vencer essas
condições adversas, mas na maioria fracassam, cedo ou tarde, caindo nas
mãos de exploradores visíveis e invisíveis. Com isso aumentam as
suspeitas e desconfianças, por parte da Medicina, acrescidas pelo ambiente
de competição entre os médiuns e
os médicos. Lutas mesquinhas que se desenvolvem, envolvendo famílias e
comunidades, num torvelinho absorvente de ódios e disputas desesperadas. O que
era uma bênção, transforma-se, então, em maldição. Esses os reais
motivos por que a mediunidade curadora
de grande eficácia é rara, aparece esporadicamente, facto que também
contribui para afastar o interesse científico puro, desse campo de tantas e
tão grandiosas possibilidades para o desenvolvimento da Medicina.
Quando os médiuns resistem a
todas às tentações, não escapam ainda assim às calúnias, perseguições,
processos criminais e prisões, como já acontecia na era apostólica. Os métodos
de combate aos factos mediúnicos inegáveis
continuam a ser os mesmos nos nossos dias.
Para superar essas dificuldades milenares, os Espíritos
Superiores preferem agir em silêncio nos processos de curas espirituais directas, geralmente
despercebidos, em que a Medicina só considera a acção
espontânea dos recursos naturais do organismo do doente. Nessa cómoda posição
hipotética, a maioria dos médicos não percebe a contradição em
que cai, atribuindo poderes sobrenaturais ao organismo carnal dos doentes, onde
ocorrem os milagres da fé ingénua, com a violação,
pela própria natureza humana, das leis naturais. As relações entre a medicina e
o espiritismo são
de importância básica para ambos, e particularmente para a Humanidade. Mas não
poderão melhorar enquanto os espíritas não tomarem consciência da sua responsabilidade doutrinária e
os médicos não superarem os seus preconceitos, mais profissionais do que
científicos, em relação aos problemas espirituais e em particular ao
Espiritismo e à mediunidade curadora,
hoje comprovada na sua realidade auspiciosa nos grandes centros universitários
do mundo. Os conceitos do sagrado e do sobrenatural, de um lado, e os
preconceitos científicos de outro, ainda pesam esmagadoramente sobre a
nossa cultura, que terá
de alijar esse fardo para sobreviver.
/…
José Herculano Pires, Curso Dinâmico de Espiritismo,
VII – A Medicina e O Espiritismo, 8º fragmento da obra.
(imagem de contextualização: Somos as aves de fogo
por sobre os campos celestes, pintura em acrílico de Costa Brites)
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