XX
Nascimento de um Mundo Novo ~
(1 de Dezembro de 1918)
A análise que acabamos de fazer nos nossos últimos
cinco artigos mostrou-nos como, ao longo de 50 anos, o Espiritismo criou para
si um lugar de destaque em todos os domínios da actividade humana.
A grande onda que varreu tantos erros e ilusões
recolocará muita coisa no seu lugar e a França recuperará o seu papel, a sua
missão histórica e a compreensão de seus verdadeiros rumos, isto é, espalhará
ideias, verdades e luzes pelo mundo.
Os nobres espíritos que zelam por ela e a livraram do
perigo aguardam apenas o momento apropriado para utilizar todo o seu poder e
então encaminhá-la na rota do seu destino.
Como já vimos, já se anuncia enorme reacção
espiritualista contra o materialismo e a indiferença do passado e, dentro desse
movimento intelectual, o Espiritismo está conclamado a desempenhar um grande
papel.
Os estudos que ele promove e as convicções que
estabelece nunca foram tão oportunas como agora, porque só uma elevada
compreensão do mundo, da alma e da vida pode propiciar a serenidade de espírito
e a força moral indispensáveis para suportarmos as provações do tempo actual,
olhando confiantes para o futuro.
Ao iniciar a guerra, a Alemanha e a Áustria não
calculavam o abismo de dores que iam produzir e hoje não são apenas os gritos
das vítimas que se ouvem, mas também surgem vozes de reprovação de todos os
quadrantes do mundo; todas as potências morais se levantaram para acusar e
condenar os autores de tantos males.
A consciência humana lançou a sua opinião
infalível e deseja uma paz baseada na justiça, que garanta a punição dos
culpados e impeça a repetição de calamidades semelhantes.
Graças ao socorro espiritual, o horizonte se aclara,
pouco a pouco e, os acontecimentos tomam direcção favorável à causa do
direito. O actual conflito, que poderia ter trazido para a humanidade uma fase
de decadência e aviltamento, promete ser um meio de recuperação, desempenhando
a França, nessa obra, um importante papel. Ela se destaca aos olhos do
mundo pela extensão de seus padecimentos e sacrifícios.
Há muito tempo que os seus inimigos lhe haviam preparado
a ruína e o esmagamento. Todavia a França está de pé; renascendo sempre, ela
segue levando ainda nas dobras de sua bandeira uma grande parte do futuro
humano. Resgatada de seus erros e de suas ambições desregradas, ela
hoje representa o direito dos fracos e os sagrados direitos do pensamento.
Dessa forma todos os povos livres voltam os seus
olhos e as suas esperanças para a França e os seus aliados. Se ela fosse
vencida, seria o fim da independência de todos, mas com a vitória francesa, o
pensamento adquirirá o seu livre curso e se espalhará com intensidade sobre a
Terra ensanguentada.
Vemos também o nascer de um novo mundo; tudo quanto
está reservado para viver e crescer se realiza com sangue e lágrimas, vendo-se
surgir as formas ainda vagas e imprecisas de uma humanidade restaurada pela
dor, no meio das convulsões de uma terrível guerra.
As grandes nações aliadas, no início divididas por interesses económicos e que, sem os actuais acontecimentos nunca
se compreenderiam, aglutinaram todos os seus recursos e meios de acção
para enfrentar o perigo comum, chamando para seu lado a maior parte dos povos
do mundo.
Isso determina um entendimento das inteligências
e dos pensamentos, uma reunião de caracteres e vontades, plenas de
consequências para o futuro do mundo.
Os povos dirigem-se para uma solidariedade verdadeira
e activa, para uma organização mundial que parece ser a última fase da evolução
e do direito. Uma ordem de coisas se estabelece, primeiro uma ordem económica,
depois política e, mais tarde, filosófica e moral.
Em virtude dos rápidos progressos feitos pelo
Espiritismo na Inglaterra e na América, há a promessa de que ele se tornará uma
doutrina universal, fortalecendo a união de todos num ideal comum. Até a
Alemanha, decepcionada e obrigada a renunciar ao seu sonho de dominação brutal,
será constrangida a participar do concerto das nações, ocupando apenas o lugar
que merecer.
Aí então a paz e a justiça poderão reinar sobre a
Terra. Dia virá em que teremos orgulho de haver vivido numa época que está a
preparar tão grandes coisas.
Louvemos a Deus que sabe extrair a harmonia desse
conflito de paixões e de ódios. Lutemos, cada um no limite de suas forças, para
preparar melhores tempos para a humanidade.
/…
LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, XX Nascimento
de um Mundo Novo, 1 de Dezembro de 1918, 35º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)
(imagem de contextualização: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)
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