Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O Mundo Invisível e a Guerra ~


XX 
Nascimento de um Mundo Novo ~ 

(1 de Dezembro de 1918) 

  A análise que acabamos de fazer nos nossos últimos cinco artigos mostrou-nos como, ao longo de 50 anos, o Espiritismo criou para si um lugar de destaque em todos os domínios da actividade humana. 

  A grande onda que varreu tantos erros e ilusões recolocará muita coisa no seu lugar e a França recuperará o seu papel, a sua missão histórica e a compreensão de seus verdadeiros rumos, isto é, espalhará ideias, verdades e luzes pelo mundo. 

  Os nobres espíritos que zelam por ela e a livraram do perigo aguardam apenas o momento apropriado para utilizar todo o seu poder e então encaminhá-la na rota do seu destino. 

  Como já vimos, já se anuncia enorme reacção espiritualista contra o materialismo e a indiferença do passado e, dentro desse movimento intelectual, o Espiritismo está conclamado a desempenhar um grande papel. 

  Os estudos que ele promove e as convicções que estabelece nunca foram tão oportunas como agora, porque só uma elevada compreensão do mundo, da alma e da vida pode propiciar a serenidade de espírito e a força moral indispensáveis para suportarmos as provações do tempo actual, olhando confiantes para o futuro. 

   Ao iniciar a guerra, a Alemanha e a Áustria não calculavam o abismo de dores que iam produzir e hoje não são apenas os gritos das vítimas que se ouvem, mas também surgem vozes de reprovação de todos os quadrantes do mundo; todas as potências morais se levantaram para acusar e condenar os autores de tantos males. 

    A consciência humana lançou a sua opinião infalível e deseja uma paz baseada na justiça, que garanta a punição dos culpados e impeça a repetição de calamidades semelhantes. 

   Graças ao socorro espiritual, o horizonte se aclara, pouco a pouco e, os acontecimentos tomam direcção favorável à causa do direito. O actual conflito, que poderia ter trazido para a humanidade uma fase de decadência e aviltamento, promete ser um meio de recuperação, desempenhando a França, nessa obra, um importante papel. Ela se destaca aos olhos do mundo pela extensão de seus padecimentos e sacrifícios. 

   Há muito tempo que os seus inimigos lhe haviam preparado a ruína e o esmagamento. Todavia a França está de pé; renascendo sempre, ela segue levando ainda nas dobras de sua bandeira uma grande parte do futuro humano. Resgatada de seus erros e de suas ambições desregradas, ela hoje representa o direito dos fracos e os sagrados direitos do pensamento. 

   Dessa forma todos os povos livres voltam os seus olhos e as suas esperanças para a França e os seus aliados. Se ela fosse vencida, seria o fim da independência de todos, mas com a vitória francesa, o pensamento adquirirá o seu livre curso e se espalhará com intensidade sobre a Terra ensanguentada. 

   Vemos também o nascer de um novo mundo; tudo quanto está reservado para viver e crescer se realiza com sangue e lágrimas, vendo-se surgir as formas ainda vagas e imprecisas de uma humanidade restaurada pela dor, no meio das convulsões de uma terrível guerra. 

   As grandes nações aliadas, no início divididas por interesses económicos e que, sem os actuais acontecimentos nunca se compreenderiam, aglutinaram todos os seus recursos e meios de acção para enfrentar o perigo comum, chamando para seu lado a maior parte dos povos do mundo. 

   Isso determina um entendimento das inteligências e dos pensamentos, uma reunião de caracteres e vontades, plenas de consequências para o futuro do mundo. 

   Os povos dirigem-se para uma solidariedade verdadeira e activa, para uma organização mundial que parece ser a última fase da evolução e do direito. Uma ordem de coisas se estabelece, primeiro uma ordem económica, depois política e, mais tarde, filosófica e moral.

   Em virtude dos rápidos progressos feitos pelo Espiritismo na Inglaterra e na América, há a promessa de que ele se tornará uma doutrina universal, fortalecendo a união de todos num ideal comum. Até a Alemanha, decepcionada e obrigada a renunciar ao seu sonho de dominação brutal, será constrangida a participar do concerto das nações, ocupando apenas o lugar que merecer.

   Aí então a paz e a justiça poderão reinar sobre a Terra. Dia virá em que teremos orgulho de haver vivido numa época que está a preparar tão grandes coisas.

   Louvemos a Deus que sabe extrair a harmonia desse conflito de paixões e de ódios. Lutemos, cada um no limite de suas forças, para preparar melhores tempos para a humanidade. 

/…


LÉON DENIS, O Mundo Invisível e a Guerra, XX Nascimento de um Mundo Novo, 1 de Dezembro de 1918, 35º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães, durante a Primeira Guerra Mundial)

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