A Investigação Ontológica na Parapsicologia
Se a parapsicologia se nos apresenta como uma nova problemática do Ser, não há dúvida de que a sua missão científica, se assim podemos dizer, se defrontará com zonas do conhecimento que se encontram em plena crise.
A actualidade, propícia à investigação ontológica, oferece à parapsicologia excelente ocasião para assinalar as formas reais do conhecer, muitas das quais ainda não são percebidas pela sensibilidade normal do indivíduo. A simples possibilidade de um acesso ontológico à parapsicologia implica a urgência de um que-fazer filosófico apoiado numa sensibilidade incomum. Se é possível um conhecer extrassensorial, mesmo no seu aspecto mais limitado, o ontológico poderá ser alcançado (e essa é a nova esperança) por vias de facto que eliminem todo o obstáculo ao psicológico incomum.
A relação entre objecto e sujeito, parapsicologicamente considerada, implica a possibilidade de uma criptestesia, que permitirá a captação de valores gnosiológicos provenientes de zonas profundas do homem e do Universo. Se pudéssemos penetrar ontologicamente as camadas do parapsicológico, o ser humano, com pleno direito, poderia aspirar a um futuro que signifique o de uma verdadeira realidade metafísica.
Os actos psíquicos e os momentos extrassensoriais da
parapsicologia são, por si mesmos, valores espirituais, nos quais se oculta a face de um poderoso número, capaz de vencer a relatividade do
mundo circundante, através de um novo Eu do indivíduo.
Como de outras vezes, o campo do saber está a ser solicitado a ampliar-se, mas,
desta vez, apoiado no númeno (*) parapsicológico. É evidente
que a busca metapsíquica se
aproxima, podemos dizer, de um verdadeiro desejo de encontrar para o indivíduo
uma significação espiritual transcendente. Desta vez, se o factor ontológico
for secundado pelo factor parapsicológico, o conhecimento está perante a
possibilidade de se beneficiar grandemente. Seria deplorável se a
parapsicologia se desviasse do seu campo extrassensorial, por falta de
inquietude filosófica; mas a filosofia deveria amparar a
parapsicologia, para que o seu real objectivo não se convertesse num intranscendente
parapsicologismo.
(2) O Espiritual Como Objecto da Parapsicologia
O parapsicológico experimental já percorreu uma trajectória suficiente para advertir, à crítica filosófica, que o extrassensorial não é somente de origem natural e fisiológica, ou ainda biológica, mas que nele se apresenta, superando o fenómeno, um novo ser espiritual, a indicar-nos que o espírito, no imanente como no transcendente é, o objecto obrigatório da parapsicologia. Se um exagerado naturalismo absorvesse a sua essência psíquica, o númeno parapsicológico ficaria postergado por muito tempo.
(2) O Espiritual Como Objecto da Parapsicologia
O parapsicológico experimental já percorreu uma trajectória suficiente para advertir, à crítica filosófica, que o extrassensorial não é somente de origem natural e fisiológica, ou ainda biológica, mas que nele se apresenta, superando o fenómeno, um novo ser espiritual, a indicar-nos que o espírito, no imanente como no transcendente é, o objecto obrigatório da parapsicologia. Se um exagerado naturalismo absorvesse a sua essência psíquica, o númeno parapsicológico ficaria postergado por muito tempo.
A excessiva naturalidade, que se pretende ver nos factos
psíquicos, faz o filósofo vacilar em decidir-se a interpretá-los. Por isso já
se disse e, com razão, que a demasiada naturalidade de um ramo da
ciência diminui as suas perspectivas metafísicas. Um
naturalismo superlativo poderia desvirtuar essa intencionalidade tão
promissora, que se revela na parapsicologia. Se a técnica metapsíquica se
mecanizar demasiado, teremos apenas uma máquina fenoménica. Entretanto, o que
agora se denomina crise do homem exige penetração da
investigação ontológica nas camadas inabituais da parapsicologia. A
interpretação espiritual dos seus fenómenos poderia significar uma nova
colocação do sentido metafísico do Ser e, ao mesmo tempo a
fundamentação de um esquema religioso digno do grau evolutivo atingido pela
cultura dos tempos actuais. (**)
Se é certo que a parapsicologia não poderá deter-se numa
dada interpretação do homem e da existência, isso não impede que a
investigação ontológica, baseada no realismo extrassensorial, a
que Eugéne Osty chamou
deconhecimento supranormal, busque um tipo espiritual do Ser,
baseando-se no número parapsicológico.
A antiga psicologia baseava-se num trabalho estéril,
acabando por se perder num campo de imaterialidade psicofísica irreal.
Para o psicólogo comum, toda a extrassensorialidade humana é uma ilusão.
Continuando apoiado nos obsoletos sistemas psicofisiológicos, apavora-se com a
possibilidade de um indivíduo metapsíquico.
Daí o acesso do espiritual ao parapsicológico não só representar um triunfo da
nova psicologia, mas também um novo sentido para o Ser, na futura
investigação ontológica.
/…
(*) Númeno é a essência do fenómeno, a coisa-em-si, enquanto o fenómeno é a manifestação do númeno. (Nota de José Herculano Pires).
(**) “A religião diz o professor – J. B. Rhine – é, sem dúvida, a área de interesse mais imediato para a parapsicologia. Definida como a investigação das funções não-físicas da natureza e dos princípios que a governam, a parapsicologia teria que reivindicar muitos dos problemas fundamentais da religião, assim como a patologia está necessariamente interessada nos problemas da medicina.” (Revista de Parapsicologia, n° 2 – Buenos Aires, 19,55).
(*) Númeno é a essência do fenómeno, a coisa-em-si, enquanto o fenómeno é a manifestação do númeno. (Nota de José Herculano Pires).
(**) “A religião diz o professor – J. B. Rhine – é, sem dúvida, a área de interesse mais imediato para a parapsicologia. Definida como a investigação das funções não-físicas da natureza e dos princípios que a governam, a parapsicologia teria que reivindicar muitos dos problemas fundamentais da religião, assim como a patologia está necessariamente interessada nos problemas da medicina.” (Revista de Parapsicologia, n° 2 – Buenos Aires, 19,55).
Humberto Mariotti (i), O Homem e a Sociedade numa Nova
Civilização, Do Materialismo Histórico a uma Dialéctica do Espírito, 1ª
PARTE, O NÚMENO ESPIRITUAL NOS FENÓMENOS SOCIAIS, Capítulo I, A INVESTIGAÇÃO
ONTOLÓGICA NA PARAPSICOLOGIA, (1) – É Acessível o Ontológico ao Parapsicológico?, (2) – O Espiritual Como Objecto da Parapsicologia. 1º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica: tarde al borde de la historia europea (detalhe) | 1936, Salvador Dali).
(imagem de contextualização: Alrededores de la ciudad paranóico-crítica: tarde al borde de la historia europea (detalhe) | 1936, Salvador Dali).