Parte IX
Segunda
lição de o Espírito Massenet
– Ser espiritual: meios de alcançar a esfera musical
desejada
(Outubro de 1922)
“Hoje falaremos não do instrumento supra-terrestre, como o
fizemos, mas da forma como o ser desencarnado (i) se
pode afastar da Terra e penetrar nas esferas etéreas onde as harmonias do
espaço se tornarão mais perceptíveis para ele. Tomemos, por exemplo, um ser
desencarnado, de uma educação espiritual média, resultante dos seus
trabalhos anteriormente realizados e do seu grau de fé.
No início da sua vida no espaço, o ser desencarnado
deverá familiarizar-se com o seu novo estado, e ele chegará a despertar em si a
lembrança das harmonias que percebeu nas suas existências anteriores. Ele
sentirá o desejo de se retemperar nesses fluidos harmónicos; mas, sob o ponto
de vista latente, ele não pode saber imediatamente quais os meios para atingir
a esfera a que o seu espírito aspira subir. Os seus guias (i), mais elevados que ele, o intuirão e
farão vibrar o seu perispírito (i) de uma
maneira graduada, a fim de que ele não seja perturbado.
Assim se estabelecerá o que chamamos harmonia, e toda a
dissonância desaparecerá entre ele e a esfera musical em que deseja
penetrar. Quando, na Terra, ouvis um instrumento imperfeito, se ele não está
afinado, os vossos pobres órgãos ficam aturdidos; acontece o mesmo na vida do
Além. Os guias impressionam o perispírito do desencarnado, a fim de obter uma adaptação mais
completa.
Eis então o nosso ser, tomado como exemplo,
preparado para receber ondas musicais. À medida que as suas
próprias radiações se ligam melhor às irradiações harmónicas do espaço, aumenta
o seu desejo de se elevar ainda mais alto em direcção à fonte de eterna beleza.
Livre de toda a influência grosseira, ele vai subir, com os seus guias, para as
regiões superiores, celebrando com eles a glória do Altíssimo.
Os fluidos materiais volatilizam-se, o
perispírito torna-se mais luminoso, as radiações mais intensas, mais subtis, e
a sua evolução é facilitada. O espírito vai subir como sobem os balões sobre o
vosso globo.
Penetrando as altas regiões do espaço, o ser espiritual
experimenta inicialmente uma sensação de suavidade, uma espécie de dilatação,
de arrebatamento; depois, as emanações fluídicas que se desprendem do
perispírito entram em contacto com outros feixes de emanações; daí uma espécie
de desligamento fluídico entre dois feixes de uma subtileza
mais ou menos igual, mas de natureza diferente. Vós não podeis imaginar a
impressão experimentada pelo ser fluídico: já não são
sensações de bem-estar, de contentamento, mas uma espécie de acalentamento, de ondulação,
acompanhados de uma sensação especial, que determina um estado emotivo, uma
espécie de êxtase. As vibrações sentidas nesse estado formam o que vós chamais
de tonalidades; elas são produzidas pelo atrito entre camadas fluídicas.
Mais alto do que essas esferas harmónicas, existem outras
regiões que ainda não podemos atingir e onde residem seres superiores,
criadores de uma música sublime, que nos é transmitida por correntes fluídicas
especiais. Nós não percebemos os seres que a produzem, no
entanto ela chega-nos por correntes condutoras de uma natureza subtil. Um guia
esclareceu-me que os seres que produzem as ondas dessa música
celeste são quase perfeitos e possuem uma parcela do talento divino.”
Terceira lição de o Espírito Massenet (i)
– As vibrações sonoras nos espaços etéreos
(Outubro de 1922)
“Vós sabeis como se formam as vibrações. O espírito,
transportado na esfera vibratória, encontra-se envolvido por uma rede de ondas
sonoras cujos elementos são constituídos por seres superiores.
O que este sente? Sente uma impressão comparável àquela que sentis ao ouvir uma
tónica (ii) em música. Quanto mais as ondas do campo
vibratório são desenvolvidas em velocidade e em comprimento, mais
a impressão sentida pelo perispírito é
viva, penetrante e comparável, em termos humanos, à impressão que nos
proporcionam os sons agudos.
Temos, então, de um lado a tónica e de outro o som agudo.
Se, no campo vibratório, as ondas variam em velocidade e intensidade, a
amplitude do som variará e esse som parte de um ponto inicial, comparável à
tónica. Esse ponto inicial compreende uma certa onda vibratória, e eu não posso
mensurá-la. Eis uma comparação: os vossos fonógrafos (iii) emitem
sons onde, além da sonoridade produzida pelo instrumento, se aproximardes o
ouvido do seu pavilhão, sentireis um calor mais ou menos intenso, segundo a
elevação do tom. Pois bem, o ser desencarnado não
sente calor, mas sensações mais ou menos deliciosas, de acordo com a
maior ou menor velocidade e com a maior ou menor duração da onda.
As radiações que atingem o perispírito são coloridas
de tons infinitamente variados. Cada cor tem uma propriedade
particular, que dá uma sensação de bem-estar, de satisfação, que difere segundo
a pureza, a homogeneidade de cada tom. É preciso, então, levar em conta, de um
lado, a qualidade das ondas, isto é, da sua coloração; de outro lado, a sua velocidade,
a sua duração, as diversas fases dos seus meandros. Tudo
isso provoca, no ser desencarnado, fenómenos incomparáveis e
infinitamente variáveis, porque, quanto mais o espírito é evoluído, mais
diversas são as ondas que
ele percebe, assim como as cores, que exprimem os sentimentos. Tomemos como
exemplo o azul, que representa os sentimentos mais elevados sob o
ponto de vista afectivo; uma onda azul nos dará vibrações que serão, para o
vosso ser, como um banho de amor. O vermelho, nas
mesmas condições, representa a paixão. O amarelo será
intermediário. O rosa, que é uma mistura de amarelo com vermelho, vos dará um
amor menos intenso, porém mais constante. Assim, com essas cores
fundamentais, podeis formar uma gama de tonalidades que dão, por
correspondência, vibrações de todos os sentimentos humanos e sobre-humanos.
Se o ser desencarnado ainda é pouco
evoluído, mas tem o desejo de se impregnar de sentimentos belos, os seus guias o conduzirão para
esferas animadas por seres angélicos. Quando o ser desencarnado
é muito evoluído, ele colhe, nas mesmas esferas, satisfações em que o amor e a
paixão virão impregnar o seu ser, e é por isso que, de regresso à
vossa Terra, os seres que amam a música se lembram
intuitivamente das estadas mais ou menos longas que fizeram no espaço, em um
campo de ondas musicais.
A música celeste não é produzida por fricções de arco sobre
cordas: tudo é fluídico, tudo é espiritual, tudo é inspirado pelo pensamento de
Deus.”
Sobre a Terra, a gama de sons, tal como a concebemos, é
apenas uma relação de sensibilidade que nada tem de absoluto.
Compreende-se muito bem que existe uma relação entre as ondas sonoras e as
ondas luminosas, mas esta relação escapa a muitos observadores e sensitivos,
porque as percepções são muito diversas nos seus graus de intensidade; sendo as
vibrações luminosas incomparavelmente mais rápidas que as
vibrações sonoras.
No entanto, para o espírito cujas percepções são muito mais
possantes e mais extensas, a relação é mais estreita do que para nós, e a
sensação se unifica; temos um exemplo disso na diferença que se estabelece
entre as notas baixas, que correspondem às cores mais escuras, e os sons
agudos, que correspondem às intensidades mais vivas. (iv)
A inteligência, que percebe e resume todos os
efeitos e todas as formas da substância eterna, abrange todas as vibrações,
e ela mesma vibra sem preocupações com distâncias e ritmos através do infinito.
Também é fácil para nós compreender como, na vida
espiritual, os prazeres estéticos são correlativos ao grau de evolução
dos seres. Todos nós temos, na Terra, o mesmo órgão
auditivo, no entanto que diferença de sensações experimentadas pelos ouvintes
de uma sinfonia, conforme o seu grau de
cultura ou a sua elevação psíquica!
As formas e as imagens produzidas pelas vibrações sonoras
nos espaços etéreos, das quais nos fala o Espírito Massenet,
também nos parecem ser manifestações do pensamento ordenador que concebeu e
dirige o Universo. A música celeste poderia representar a própria vibração da
alma divina. Eis por que quanto mais o espírito evolui e se depura, mais se
torna apto a compreender, a sentir a beleza e a harmonia eterna do mundo.
/…
(ii) Tónica: primeira nota da gama, de um dado
tom; aquela que começa um trecho de música e lhe dá o seu nome. Ex.: fá maior. (N.T., segundo
o Dictionnaire Le Robert de la Langue Française.)
(iii) Fonógrafo: antigo aparelho
destinado a reproduzir sons gravados em cilindros ou discos metálicos; aparelho
que reproduz os sons gravados em discos sob a forma de sulcos espiralados;
gramofone. (N.T., segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa.)
(iv) A esse respeito, citarei as
palavras pronunciadas pelo Sr. Deslandres,
director do Observatório de Meudon (i), no
seu discurso na sessão anual do Instituto, no dia 25 de Outubro de 1921:
“Actualmente, as vibrações e ondas do éter, bem reconhecidas e classificadas,
formam cerca de 50 oitavas. O campo de estudo é muito mais extenso do que para
os sons perceptíveis ao ouvido, que formam, no máximo, 10 oitavas, reduzidas a
sete nos instrumentos de música. Essas 50 oitavas são repartidas em três grupos
principais, que são: o grupo da radiotelegrafia, o grupo ligado à luz e o grupo
dos raios X. Em geral, eles são classificados por ordem de frequência, como num
grande piano. À esquerda, do lado das baixas frequências e dos sons graves,
estão as ondas da telegrafia sem fio, que asseguram as comunicações terrestres
a grande distância. Ao centro, tem-se a oitava luminosa e as oitavas vizinhas
que transportam calor e luz, que nos fazem conhecer o horizonte do local, o Sol
e as estrelas, que impressionam as placas fotográficas e servem para depurar as
águas. Enfim, à direita, do lado das altas frequências e dos sons agudos, estão
os raios X, que têm propriedades eléctricas notáveis, que nos fazem descortinar
as partes mais escondidas dos corpos vivos e a estrutura íntima dos átomos.
Deve observar-se também que sobre essas 50 oitavas, só uma, colocada próxima ao
meio, é percebida directamente por um dos nossos sentidos: é a oitava que
contém os raios luminosos do vermelho ao violeta.” (N.A.)
LÉON DENIS, O Espiritismo na Arte, Parte
IX – Segunda lição de
o Espírito Massenet: Ser
espiritual: meios de alcançar a esfera musical desejada – Terceira
lição de o Espírito Massenet: As vibrações sonoras nos espaços etéreos – Comentários, 27º
fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: O Concerto dos Anjos
(1897), óleo sobre tela de Edgard Maxence)