1) Os estados da hipnose
Antes de expor as minhas experiências sobre a regressão da memória e a
precognição, farei um rápido resumo de como o magnetismo age
habitualmente sobre os sensitivos que estudei.
Sob a influência de passes longitudinais exercidos de cima para baixo e
combinados com a imposição da mão direita sobre a cabeça do sujet (i) sentado
diante de mim, produz-se uma série de estados semelhantes à vigília, mas
apresentando cada uma das características específicas que servem para
denominá-los, (ii) e que se sucedem sempre na mesma ordem.
Esses estados são separados por fases de letargia com
a aparência do sono habitual que permitem distingui-los nitidamente uns dos
outros quando o sujet bastante envolvido não queima as etapas.
Eis, sumariamente, a enumeração dessas características específicas e a sua
sucessão:
1º
estado: vigília.
I: fase
de letargia.
2º estado: sonambulismo. O sujet parece uma
pessoa desperta gozando de todas as suas faculdades, no entanto é bastante
sugestionável e apresenta o fenómeno da insensibilidade cutânea, que
persiste em todos os estados seguintes. A memória é normal.
II: fase
de letargia.
3º
estado: rapport. (iii) O sujet não
percebe ninguém além do magnetizador e das pessoas que este coloca em relação
com aquele, seja por um contacto ou mesmo por um simples olhar. Apresenta a sensação de bem-estar bastante pronunciada,
diminuição da
memória normal e da sugestibilidade. A sensibilidade começa a exteriorizar-se
numa camada paralela ao corpo e situada a cerca de trinta e cinco milímetros da
pele. (iv) O sujet vê os eflúvios exteriores
dos corpos organizados e dos cristais.
III: fase de letargia.
4º estado: simpatia ao contacto. A sensibilidade
continua a exteriorizar-se e pode constatar-se uma segunda camada sensível a
seis ou sete centímetros da primeira e de menor sensibilidade. O sujet experimenta
as sensações do magnetizador quando este se coloca em contacto com ele. A sensibilidade
cutânea desaparece, assim como a memória dos factos; elas não reaparecem nos
estados seguintes, mas a memória da linguagem subsiste nesses estados, já que
o sujet pode conversar com o magnetizador.
IV: fase de letargia.
5º
estado: simpatia à distância. O sujet percebe
todas as sensações do magnetizador, mesmo sem contacto, desde que a distância
não seja muito grande. Ele já não vê os eflúvios exteriores dos corpos,
mas vê os órgãos internos dos seres vivos. Já
não é sugestionável e perde totalmente a memória de sua vida; e não
conhece mais do que duas pessoas, o magnetizador e ele próprio, no entanto não
sabe os seus nomes.
Em geral, a
partir desse estado, um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, de acordo com
o sujet, a sensibilidade que até esse momento se exteriorizava em
camadas concêntricas à periferia do corpo, condensa-se para formar,
primeiramente a cerca de um metro à sua direita, uma coluna nebulosa
azul mais ou menos de seu tamanho e, em seguida, à sua
esquerda, uma outra coluna análoga vermelha; (v) enfim,
as duas colunas reúnem-se para formar uma única coluna cuja forma se precisa
cada vez mais para constituir o fantasma do sujet.
Esse fantasma, ligado ao corpo físico por um liame luminoso e sensível, que
é como o seu cordão umbilical, torna-se cada vez mais móvel e obediente à
vontade. Tem uma tendência bem pronunciada a elevar-se até
uma altura que ele não pode ultrapassar; isso parece depender do
grau de evolução intelectual e moral dos sujets, que vêem
flutuar à sua volta seres apresentando uma cabeça com um corpo
terminado em ponta como uma vírgula. Ficam felizes por terem saído do seu
envoltório físico, dos seus andrajos, segundo uma expressão que
utilizam com frequência e, repugna-lhes para aí voltarem. Todos estes fenómenos
se desenvolvem e se precisam através de uma série de estados separados
por fases de letargia que se sucedem como os dias e as noites.
Passes
transversais reconduzem o sujet ao estado de vigília,
fazendo-o passar, em ordem inversa, por todos os estados e todas as letargias pelos
quais passou ao adormecer.
Em 1895,
publiquei nos Annales des Sciences Psychiques um artigo
intitulado “Fantasmas dos Vivos”, no qual expus com detalhes as minhas
primeiras experiências sobre essa espécie de fenómenos, onde pude levar
os sujets até um décimo terceiro estado, graças à
electricidade.
Durville as
retomou e as completou, expondo as suas próprias experiências num livro
publicado em 1909 sob esse mesmo título: Fantómes des vivants. (vi)
/...
(i) Não apresentando o termo sujet tradução exacta, decidimos
mantê-lo, até mesmo porque o seu uso se tornou relativamente habitual.
Significa, resumidamente, indivíduo em estudo ou estudado
experimentalmente. (N.T.)
(ii) Essas características foram seleccionadas por serem as que
primeiro se apresentam à observação, mas é provável que haja outras ainda não
reconhecidas. (A.R.)
(iii) Estamos mantendo, nesta tradução, o termo rapport para
designar a relação ou ligação que se opera entre o magnetizador e o sujet,
durante o transe de regressão de memória. A tradução literal ou outro qualquer vocábulo
não se mostraram apropriados e, na verdade, os investigadores sérios e os bons
autores têm utilizado sempre o termo francês, que se consagrou. (N.T.)
(iv) Em junho de 1904, o Sr. Charpentier
comunicou à Academia das Ciências a seguinte experiência: “Colocando-se diante
de uma parede reflectora e afastando progressivamente da superfície anterior do
corpo em uma direcção normal uma pequena tela fosforescente (nódoa de sulfureto
sobre cartão preto), vê-se que esta tela passa por máximos e mínimos de intensidade
regularmente espaçados, indicando a existência, nas proximidades do corpo, de
espécies de ondas estacionárias cujo comprimento é de cerca de 35
milímetros, ou seja, precisamente o comprimento de onda dos nervos.” (A.R.)
(v) Em alguns sujets a
formação do fantasma ocorre na ordem inversa. (A.R.)
(vi) Se há algumas pequenas
divergências nas nossas constatações, não se surpreendam. Os primeiros
viajantes que penetram num país desconhecido não concentram necessariamente a
sua atenção sobre os mesmos pontos e estão sujeitos a não os verem exactamente
no mesmo dia. Foi assim que, durante anos, magnetizei sensitivos sem
observar o fenómeno da regressão da memória, que passava sem dúvida
despercebido por mim, porque eu não interrogava o sujet sobre as
coisas que me poderiam indicá-lo. Actualmente, ainda, não estou muito
seguro sobre as causas que a determinam, apesar de supor que ela aconteça
devido ao facto de que, sob a influência de passes que fixam os laços que unem
o corpo material ao corpo fluídico, este se concentra ao invés de
exteriorizar-se; pois constatei diversas vezes que eu já não
encontrava camada sensível em volta do sujet quando ele recuava no
tempo e, os espectadores videntes diziam,
quando o fenómeno se produzia depois da formação do corpo fluídico, que viam
este corpo mudar de forma e diminuir quando o sujet voltava a
ser criança. (A.R.)
Albert de Rochas, As Vidas Sucessivas, Segunda
Parte Experiências magnéticas Capítulo I O sono magnético e o corpo
fluídico; 1 – Os estados
da hipnose, 1º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Albert de Rochas
d'Aiglun (1837-1914), engenheiro militar francês, historiador da
ciência, pesquisador de fenómenos espíritas, escritor, tradutor e administrador
da Escola Politécnica de Paris)