Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Da sombra do dogma à luz da razão ~


~ Uranografia Geral (*) 
O espaço e o tempo ~ 

| Galileu, Espírito 
(Études Uranographiques) (VIII) 

A Via Láctea ~ 🌈

  Durante as belas noites estreladas e sem Lua, todos puderam notar esse clarão esbranquiçado que atravessa o céu de uma extremidade à outra, a que os antigos tinham dado o nome de Via Láctea (i) devido ao seu aspecto leitoso. Este clarão difuso foi longamente explorado pelo olho do telescópio nos tempos modernos e esse caminho de poeira de ouro ou esse ribeiro de leite da antiga mitologia transformou-se num vasto campo de maravilhas desconhecidas. As pesquisas dos observadores levaram ao conhecimento da sua natureza e mostraram, ali onde o olhar perdido só encontrava uma fraca claridade, milhões de sóis mais luminosos e mais importantes que o que nos ilumina. 

  A Via Láctea, com efeito, é um campo semeado de flores solares ou planetárias que brilham na sua extensa vastidão. O nosso Sol e todos os corpos que o acompanham fazem parte desses globos brilhantes de que a Via Láctea se compõe; mas apesar das suas dimensões gigantescas relativamente à Terra e à grandeza do seu império, só ocupa, no entanto, um lugar inapreciável nesta vasta criação. Podemos contar uns trinta milhões de sóis semelhantes que gravitam nesta imensa região, afastados uns dos outros mais de cem mil vezes o raio da órbita terrestre (**). 

  Podemos avaliar por esta aproximação da extensão desta região sideral a relação que une o nosso sistema à universalidade dos sistemas que o ocupam. Podemos igualmente avaliar a exiguidade do domínio solar e, a fortiori, o nada da nossa pequena Terra. Que seria então se considerássemos os seres que o povoam! 

  Digo do nada porque as nossas determinações aplicam-se não somente à extensão material, física, dos corpos que estudamos – seria pouco – mas também e sobretudo ao seu estado moral de habitação, ao grau que ocupam na eterna hierarquia dos seres. A Criação mostra-se aí em toda a sua majestade, criando e propagando, à volta do mundo solar e em cada um dos sistemas que o rodeiam de todos os lados, as manifestações de vida e de inteligência. 

  Conhecemos deste modo a posição ocupada pelo nosso Sol ou pela Terra no mundo das estrelas; estas considerações adquirirão um maior peso ainda se reflectirmos no próprio estado da Via Láctea que, na imensidão das criações siderais, só representa um ponto insensível e desprezível vista de longe; porque não é mais do que uma nebulosa estelar como existem milhares no espaço. Se nos parece mais vasta e mais rica do que as outras é pela única razão de nos rodear e se desenvolver em toda a sua extensão sob os nossos olhos; enquanto as outras, perdidas nas profundezas insondáveis, mal se deixam entrever. 

  Ora, se sabemos que a Terra não é nada ou quase nada no sistema solar, que este é nada ou quase nada na Via Láctea, que esta é nada ou quase nada na universalidade das nebulosas e que essa mesma universalidade é muito pouca coisa no meio do imenso infinito, começaremos a perceber o que é o globo terrestre. 

Espírito Galileu 

/… 
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu; médium M. C. F. (N. do A.) 
(**) Mais de três triliões e quatrocentos biliões de léguas. (N. do A.) 


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – A Via Láctea (de 32 a 36), 30º fragmento desta obra. Tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida. 
(imagem de contextualização: Diógenes e os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).

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