Espiritismo e Cristianismo
Não esmiuçaremos o problema histórico das acusações de
satanismo, formuladas pelos clérigos de várias igrejas cristãs, porque como
vimos, esse problema se resolve à luz dos textos sagrados, ao mesmo tempo em
que, hoje em dia, está perdendo sentido nos próprios meios clericais. Mas há
outras acusações que devem ser estudadas. Entre elas, sobressai, a nosso ver, a que nega ao Espiritismo a
natureza de terceira e última revelação cristã, elo final do conjunto
bíblico, obra do Espírito de Verdade, do Paracleto, do consolador prometido por Cristo.
Desde as suas primeiras manifestações, os espíritos
incumbidos de transmitir a Allan Kardec os
princípios fundamentais da nova doutrina fizeram sentir a estreita relação
existente entre a mesma e o Cristianismo. O Espírito de Verdade foi o seu guia,
e já em O Livro dos Espíritos, pedra fundamental da doutrina, vemos
como se entranham Espiritismo e o Cristianismo, de tal maneira, que separá-los
seria produzir uma dupla mutilação.
Há alguns espíritas que dizem o contrário, e sabemos que
mesmo entre nós, no Brasil, houve, desde os primórdios da preparação do Espiritismo, elementos que
se diziam “Espíritas puros”, ou seja, simplesmente espíritas, firmados nos
princípios de O Livro dos Espíritos, sem nenhuma ligação com o
Cristianismo. Se, entretanto, nos dermos ao trabalho de ler aquele livro,
veremos que essa atitude não passa de um dos muitos equívocos a que tão
facilmente se entregam os intelectuais, mormente em face de doutrinas novas. O
espírita não cristão pode basear-se em tudo, menos no O Livro dos
Espíritos, que é um texto cristão, prosseguindo naturalmente de O
Novo Testamento, como este o é do Verbo.
Nos Estados Unidos e em alguns países da América Central
firmou-se há tempos um movimento de características regionalistas, que
pretendia apresentar o Espiritismo como doutrina americana, surgida e propagada
na América. Rejeitava-se assim a codificação kardeciana,
para tomar como base alguns estudos esparsos elaborados na América. O
Espiritismo teria nascido, não em Paris, com o lançamento, a 18 de Abril de
1857, de O Livro dos Espíritos, mas em Hydesville, nos Estados
Unidos, a 31 de Março de 1948, com o aparecimento dos fenómenos históricos da
casa da família Fox. Chegou mesmo a fixar-se, no local onde existiu a cabana
das famosas irmãs Fox, um obelisco com os dizeres Aqui nasceu o
Neo-Espiritualismo.
A verdade dos factos mostra-nos, porém, o contrário.
Fenómenos espíritas ocorreram em todos os tempos, e os verificados com as irmãs Fox não foram nem os primeiros nem os últimos. Nem mesmo na época, tiveram eles
qualquer primazia. Basta lembrar os trabalhos magníficos de Jonathan
Koons e a sua câmara-espírita, lá mesmo, nos Estados
Unidos, e o estupendo florescimento de mediunidades na Europa, com a
multiplicação de médiuns e fenómenos por todo o velho continente, para
compreendermos que os factos da família Fox atingiram a proeminência em virtude
de circunstâncias particulares, que os destacaram face à opinião pública
americana e os projectaram mais tarde na mundial. Constituíram, sem dúvida, um
dos meios utilizados pelo Espírito de Verdade, para a mais rápida propagação
dos princípios espíritas e o início da nova era na Terra. Mas somente em
França, com Allan
Kardec, e através de O Livro dos Espíritos, o Espiritismo tomou
corpo, se firmou como doutrina filosófica, de bases científicas e de
consequências religiosas, de natureza essencialmente cristã.
Afirmam os livros da codificação kardeciana, afirmaram-no os
espíritos que presidiram ao trabalho de Kardec, que o Espiritismo é obra do Espírito de Verdade, incumbido de preparar na Terra o advento do Reino
de Deus, ou seja, de um mundo melhor e mais puro, de justiça e verdade
prevalecendo sobre a injustiça e a mentira hoje dominantes. Os teólogos das
várias igrejas cristãs não aceitam essa afirmativa, negando ao Espiritismo a
natureza de prosseguimento do trabalho de Cristo entre os homens. Para isso
alegam várias razões, entre as quais a mais forte é a de que o consolador,
também chamado Espírito Santo e incluído na Santíssima Trindade como terceira pessoa,
já teria vindo, depois do sacrifício de Jesus, no Dia de Pentecostes, em
Jerusalém.
Para bem esclarecermos este assunto, devemos analisar a
própria natureza do consolador anunciado por Jesus, segundo os textos
evangélicos. Diz o capítulo 14 do Evangelho segundo João:
“Se me amais, guardai os meus mandamentos, e eu rogarei
ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o
Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê nem o
conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Não
vos deixarei órfãos, voltarei para vós.”
Logo mais, no versículo 26 do mesmo capítulo:
“Mas o consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o
que eu vos tenho dito.”
No capítulo 16 encontramos estes versículos:
“Mas eu vos digo a verdade; a vós, convém-vos que eu vá,
porque, se eu não for, não virá a vós o Consolador, mas, se eu for,
enviar-vo-lo-ei. E ele, quando vier, arguirá o mundo do pecado, e da justiça e
do juízo. Sim, do pecado, porque não crêem em mim. E da justiça, porque eu vou
para o Pai, e não me vereis mais. Do juízo, enfim, porque o príncipe deste
mundo já está julgado. Eu tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas vós não
as podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele Espírito de Verdade, ele
vos ensinará todas as verdades, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o
que tiver ouvido, e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo-á anunciar. Todas
quantas coisas tem o Pai, são minhas. Por isso é que eu vos disse que ele há de
receber do que é meu, e vo-lo anunciará.”
Estas são as palavras de João registando a promessa do
Consolador, na tradução de Padre Figueiredo.
Como vemos, o Espírito de Verdade é um enviado de Deus, a
pedido de Cristo, para dar prosseguimento à obra deste na Terra. A sua natureza
é espiritual e a sua função pode ser assim dividida:
a) permanecer com os homens, estando mesmo nos
homens, integrado na própria existência humana;
b) ensinar aos homens todas as coisas,
relembrando-lhes os ensinamentos de Cristo;
c) arguir o mundo do pecado, da justiça e do
juízo;
d) receber a revelação das verdades divinas e
proporcioná-las ao homem.
Ouçamos agora o próprio Kardec, em A
Génese, sobre a vinda do Consolador no Dia de Pentecostes:
“O Espírito Santo não realizou, no Pentecostes, o que Jesus
anunciara a respeito do Consolador, o Espírito de Verdade. Do contrário, os
apóstolos teriam elucidado, em sua vida, tudo quanto ficou obscuro no
Evangelho até hoje, e cuja interpretação contraditória deu lugar às
numerosas seitas que dividiram o Cristianismo desde os primeiros séculos, em
lutas sem tréguas, por questões de exegese, de interpretação,
lutas que chegaram a produzir grandes morticínios. Se na época em que Jesus falava os homens não se
encontravam em estado de compreender as coisas que ficaram por dizer, não
seria em algumas semanas que eles poderiam adquirir as luzes necessárias.
Para a compreensão de certas partes do Evangelho, com excepção dos preceitos de
moral, eram precisos conhecimentos que só o progresso das ciências nos daria, e
que só poderiam ser obra do tempo e de muitas gerações. Se,
pois, o novo Messias viesse pouco tempo depois de Cristo, teria encontrado
o terreno nas mesmas condições, e não faria mais do que Ele fez. Ora, desde
Cristo até aos nossos dias, não se produziu nenhuma grande revelação, que
completasse o sentido do Evangelho e elucidasse os pontos obscuros, como
indício certo de que o enviado ainda não apareceu.”
Mais adiante, no mesmo primeiro capítulo de A Génese,
completa Kardec o
seu pensamento, com as seguintes palavras:
“O Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho,
vem, pelo contrário, confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da
natureza, que revela, tudo quanto Cristo disse e realizou.
Elucida os pontos obscuros do ensino cristão, de tal sorte, que aqueles para
quem eram ininteligíveis certas partes do Evangelho, ou pareciam inadmissíveis,
elas se tornam compreensíveis, e eles as admitem, sem dificuldade, graças ao
auxílio desta doutrina. Vêem melhor ao seu alcance e podem distinguir
entre a realidade e a alegoria. Cristo lhes parece maior: Ele já não é
simplesmente um filósofo, mas um
Messias divino.”
A seguir, encontramos:
“Se se considerar, por outro lado, o poder moralizador do Espiritismo, pela finalidade
que assinala a todas as acções da vida, pelas consequências do bem e do mal que
ele torna palpáveis, a força moral, a coragem, as consolações que ele dá nas
aflições, por uma inalterável confiança no porvir, pelo pensamento de ter cada um
junto de si os seres a quem amou, a certeza de os rever, a possibilidade de
confabular com eles, a certeza, enfim, de que tudo quanto se fez, tudo quanto
se adquiriu em inteligência, em sabedoria, em moralidade, até à última
hora da vida, não fica perdido; pois tudo aproveita o adiantamento do
espírito, reconhece-se
que o Espiritismo realiza todas as promessas de Cristo a respeito do Consolador
anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande
movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se encontra assim cumprida,
porque, de facto, é ele o verdadeiro Consolador.
Vemos, diante de todos esses argumentos, que a alegação de
que o Consolador teria vindo no Dia do Pentecostes não tem razão de ser, não
encontra base nenhuma no próprio texto evangélico. É, pelo contrário, uma
verdadeira negação do Consolador. Nenhuma das tarefas assinaladas por Cristo ao Espírito de
Verdade são cumpridas no Pentecostes. O que se verificou naquele dia foi apenas
o auxílio do Alto aos apóstolos espavoridos, a fim de alentar-lhes a fé e
predispô-los à grande luta da pregação da Boa-Nova. A vinda do Espírito de Verdade, para ficar com os homens, se daria mais tarde, quando os tempos
decorridos houvessem permitido o amadurecimento necessário do pensamento
humano, sem o qual nenhuma revelação de verdades novas, o ensinamento de todas
as coisas, não seria possível. E por que relembrar os ensinamentos de Cristo,
naquela hora, em que eles ainda ecoavam no espírito dos apóstolos? Só mais
tarde, depois das deturpações teológicas, que fatalmente ocorreriam, como
ocorreram, seria possível o restabelecimento anunciado por Cristo, e que hoje
de facto se verifica, através do Espiritismo.
Ouçamos ainda as palavras de Kardec, desta vez no
capítulo sexto de O Evangelho segundo o Espiritismo:
“O Espiritismo vem no tempo determinado, cumprir a promessa
do Cristo. O Espírito de Verdade preside ao seu advento, chama os homens à
observância da lei e ensina todas as coisas, fazendo compreender aquilo
que Jesus só disse em
parábolas. Vemos assim respondidos os itens que estabelecemos acima,
tratando das funções do Consolador. Resta-nos dizer que, graças aos
princípios do Espiritismo,
o Espírito de Verdade pode, realmente, não apenas permanecer entre os homens,
mas integrar-se na carne, no pensamento, no espírito, na vida dos homens, como
norma de conduta para todos os que o recebem e compreendem, como directriz
permanente dos seus pensamentos e acções.”
Quanto ao item “c” da divisão que estabelecemos, e em que
incluímos as palavras do Evangelho “arguir o mundo do pecado, da
justiça e do juízo”, ele envolve, segundo pensamos, a acção social
do Espiritismo, como
reformador do mundo, como iniciador da sociologia, segundo disse
Emmanuel. Essa tarefa será cumprida pelo Espiritismo, também a seu
tempo, como vimos no capítulo anterior. Mesmo porque, como diz o Eclesiastes,
Deus fez tempo para tudo, e cada coisa há de chegar a seu tempo, nem antes, nem
depois.
Verificado assim que o Espiritismo é de facto
o Consolador prometido por Cristo, não nos devemos perturbar com a oposição
dos clérigos, sejam eles católicos ou protestantes. A história nos revela que a
igreja constituída, baseada em cânones definitivos, estratificada nos seus
princípios, ossificada nos seus dogmas de fé e materializada no interesse
profissional dos seus sacerdotes, não é a primeira vez que se recusa a aceitar
o cumprimento das profecias em que assentou os seus próprios alicerces. É o
texto sagrado mesmo, são as passagens evangélicas, que nos falam da maneira
pela qual a igreja judaica, cega no seu orgulho, não aceitou na vinda do Cristo
o cumprimento da anunciação do Messias.
O mesmo que a igreja da época fez com relação a Cristo a
igreja de hoje faz, no tocante ao Espiritismo. Aliás, as semelhanças históricas
são muito profundas. Os judeus se consideravam sentados na cadeira de Moisés, e
do alto dessa cátedra anatematizaram o Messias. Os cristãos de hoje se julgam
sentados na cadeira de Pedro, de cima da qual dardejam os raios da sua maldição
sobre o Consolador prometido. Mas da mesma maneira pela qual Cristo respondeu aos seus
acusadores, através das suas obras, o Espiritismo responde
aos seus detractores, mostrando-lhes os frutos da sua propagação na Terra,
frutos de cura e de consolação para todos os deserdados e infelizes, ricos ou
pobres, onde quer que se encontrem e a ele se dirijam.
Seria fastidioso enumerarmos outras várias objecções
teológicas levantadas contra o Espiritismo. A teologia é terreno fértil em
afirmações e contestações de toda a espécie. Nunca, talvez, a
imaginação humana tenha encontrado campo mais vasto, em que melhor se pudesse
sentir, para o livre exercício de seu poder de auto-contradição. Um
rápido olhar para a história escolástica da Idade Média nos dará a medida dos
exageros e dos absurdos a que o pensamento teológico conseguiu chegar, muitos
dos quais ainda continuam sustentados, em pleno século vinte.
Contra a lei da reencarnação, afirmam os teólogos que o
Evangelho não a menciona, muito embora a natureza explícita das referências de
Jesus ao renascimento de Elias na pessoa de João Baptista, o precursor. Quando
citamos o diálogo de Jesus e
Nicodemos, uma das mais belas passagens evangélicas referentes à reencarnação,
os teólogos procuram escapar pela tangente do renascimento do espírito,
esquecidos de que o texto fala em renascer da água e do espírito, e
de que o elemento água representava, para os antigos, a própria matéria. Quando
negamos a existência de penas eternas, por contrariarem o princípio da mais
elementar justiça humana, quanto mais a de Deus, alguns nos respondem,
franzindo o cenho, como se nos olhassem do próprio íntimo das verdades
supremas, que não somos capazes de medir a justiça de Deus, que não podemos
avaliar o seu significado e que ela será para sempre um terreno misterioso,
vedado à razão e à lógica frágil dos homens. Se evocamos o verdadeiro
sentido da palavra grega eon, traduzida por eterno, ou se lembramos
o uso das metáforas em larga escala, o costume da linguagem figurada, em todo o
Oriente, mormente no passado, eles se fecham em copas, respondendo somente que
a eternidade das penas é o princípio indiscutível da igreja. Evidentemente não
se pode nem se deve discutir com homens que assim pensam, negando o mais
poderoso atributo da própria natureza pensante da espécie humana.
Um ponto, entretanto, que tem sido motivo de grande celeuma,
principalmente nos meios protestantes, é o da proibição da evocação de
espíritos por Moisés.
O próprio Kardec já tratou do assunto, a seu tempo, fazendo notar a incoerência
daqueles que desejam impor um versículo isolado do texto como lei de alcance
geral. No seu livro De cá e de lá, o confrade Romeu do Amaral
Camargo, que foi presbítero evangélico, tece considerações interessantes a
respeito, fazendo ver que os livros citados para essa condenação do
Espiritismo, o Levítico e o Deuteronómio, contêm
numerosas outras condenações e prescreve numerosos castigos já há muito
relegados ao esquecimento, por judeus e cristãos. Lá, entretanto, no
meio de toda uma montanha de velharias abandonadas – as leis civis da época,
estabelecidas por Moisés –, vão os inimigos do Espiritismo buscar um versículo
que condena a evocação dos mortos, para então afirmarem, radiantes, que a nossa
doutrina é contrária ao texto bíblico.
Lembra o confrade Amaral Camargo que, contra a ordem de
Moisés, segundo vemos em I Reis, capítulo 28, o rei Saul foi
consultar o espírito de Samuel, através da pitonisa de Endor. Para os protestantes,
apegados ao texto, lembraremos ainda que a Bíblia não endossa
a teoria da manifestação de Satanás em lugar dos espíritos. Pelo contrário, o
texto diz claramente que quem se manifestou foi o espírito de Samuel. A Bíblia confirma,
pois, de maneira mais plena, a realidade das comunicações espíritas.
Kardec diz,
a propósito, no livro O Céu e o Inferno, capítulo XI:
“A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação
dos mortos não se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade
para com eles, sendo antes um recurso para adivinhações, tal como os augúrios e
presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao
que parece, também eram objecto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não
conseguiu desentranhá-las dos costumes populares.”
E acrescenta:
“Se Moisés proibiu evocar os mortos, é que estes podiam vir,
pois, do contrário, inútil fora a proibição. Ora, se os mortos podiam vir naquele
tempo, também o podem hoje, e se são espíritos de mortos os que vêm, não são
exclusivamente demónios. Ao demais, Moisés, de modo algum, fala nesses
últimos.”
As proibições de Moisés se referem à
evocação de espíritos para finalidades condenáveis. Consultem-se os
textos bíblicos, com olhos de ver, com isenção de ânimo, e compreender-se-á
facilmente que nenhuma ligação há entre eles e o Espiritismo. Além
disso, o episódio relatado no capítulo 11, versículos 26 a 29, do
livro de Números, contradiz flagrantemente a afirmativa de
condenação da mediunidade e da comunicação dos espíritos. Vemos ali dois
médiuns, que não entretinham comércio com os espíritos, para fins
adivinhatórios ou de lucros, Eldad e Medad, subitamente tomados pelo espírito,
no campo. Um jovem, que presenciava a cena, corre apressado e comunica o facto
a Josué, ministro de Moisés, que pede a este a proibição da comunicação.
Moisés, entretanto, responde:
“Que zelos são esses que mostras por mim? Quem me dera
que todo o povo profetizasse e que o Senhor lhe desse o seu espírito.”
O confrade Amaral Camargo conclui que Moisés suspirava
pelo mediunismo generalizado. Ele queria o cumprimento da profecia de
Daniel, no tocante ao derramamento do espírito do Senhor sobre toda a carne, ao
advento, enfim, do Espírito de Verdade. E Kardec já declarava,
no livro O Céu e o Inferno, há tantas dezenas de anos:
“Se os que clamam injustamente contra os espíritas se
aprofundassem mais no sentido das palavras bíblicas, reconheceriam que nada
existe de análogo entre os princípios do Espiritismo e o que se passava entre
os hebreus. A verdade é que o Espiritismo condena tudo aquilo que motivou a
condenação de Moisés. Mas os seus adversários, no afã de encontrar argumentos
para rebater as novas ideias, nem se apercebem de que tais argumentos são
negativos, por serem absolutamente falsos.”
/…
José Herculano Pires, O Sentido da Vida / Espiritismo e Cristianismo, 13º fragmento desta obra.
/…
José Herculano Pires, O Sentido da Vida / Espiritismo e Cristianismo, 13º fragmento desta obra.
(imagem de contextualização: Platão e Aristóteles,
pormenor d'A escola de Atenas de Rafael Sanzio, 1509)
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