O espaço e o tempo ~
| Galileu, Espírito
(Études Uranographiques)
(IX)
As estrelas fixas ~ 🌈
As estrelas a que chamamos fixas e que constelam os dois
hemisférios do firmamento, não estão de maneira nenhuma isoladas de toda a
atracção exterior como geralmente se supõe; longe disso, pertencem todas a uma
mesma aglomeração de astros estelares. Esta aglomeração não é outra senão a
grande nebulosa de que fazemos parte e cujo plano equatorial que se projecta no
céu recebeu o nome de Via Láctea.
Todos os sóis que a compõem são solidários; as suas múltiplas influências
reagem perpetuamente uma sobre a outra e a atracção universal reúne-as todas
numa mesma família.
Entre estes diversos sóis, a maior parte está, como o
nosso, rodeado de mundos secundários que iluminam e fecundam pelas mesmas leis
que presidem à vida do nosso sistema planetário. Uns, como Sírio, são
milhares de vezes mais magníficos em dimensão e em riquezas que o nosso e o seu
papel mais importante no Universo, assim como há planetas em maior número e
muito superiores ao nosso a rodeá-lo. Outros são muito diferentes pelas suas
funções astrais. É assim que um certo número destes sóis, verdadeiros gémeos da
ordem sideral, se encontram acompanhados pelos seus irmãos da mesma idade e
formam, no espaço, sistemas binários a que a natureza atribuiu funções muito
diferentes das que pertencem ao nosso Sol (**).
Apesar do número prodigioso destas estrelas e dos
seus sistemas, apesar das distâncias incomensuráveis que as separam, não deixam
por isso de pertencer todas à mesma nebulosa estelar que as observações dos
mais potentes telescópios mal podem atravessar e que as concepções mais
arrojadas da imaginação mal conseguem ultrapassar; nebulosa que, todavia, não
passa de uma unidade na ordem das nebulosas que compõem o mundo astral.
As estrelas a que chamamos fixas não estão de
maneira nenhuma imóveis na vastidão. As constelações que imaginámos
sobre a abóbada do firmamento não são criações simbólicas reais. A distância da
Terra e a perspectiva sob a qual medimos o Universo a partir desta estação são
as duas causas desta dupla ilusão de óptica. (Capítulo V, n.º 12.)
Vimos que a totalidade dos astros que brilham
na cúpula azul está encerrada numa mesma aglomeração cósmica, numa mesma
nebulosa a que chamamos Via Láctea;
mas, por pertencerem todos ao mesmo grupo, estes astros não deixam de ser
animados cada um deles por um movimento próprio de translação no espaço; o
repouso absoluto não existe em lado nenhum. São regidos pelas leis universais
de atracção e rolam no espaço sob o impulso incessante desta força imensa;
rolam, não de acordo com rotas traçadas por acaso, mas segundo as órbitas
fechadas, cujo centro é ocupado por um astro superior. Para tornar as minhas
palavras mais compreensíveis através de um exemplo, falarei especialmente do
vosso Sol.
Sabemos, pelas observações modernas, que não
é fixo nem central, como se julgava nos primeiros tempos da astronomia
nova, mas que avança no espaço arrastando com ele o seu vasto sistema de
planetas, de satélites e de cometas.
Ora esta caminhada não é fortuita e não vai mesmo
errando em vazios infinitos, perder longe das regiões que lhe estão consignadas
os seus filhos e os seus súbditos. Não, a sua órbita é calculada e,
conjuntamente com outros sóis da mesma ordem que ele e como ele rodeados de um
certo número de terras habitadas, gravita à volta de um sol central. O
seu movimento de gravitação, tal como o dos sóis seus irmãos, não é apreciável
nas observações anuais, pois períodos seculares em grande número mal bastariam
para marcar o tempo de um desses anos astrais.
O sol central de que acabámos de falar é ele mesmo um
globo secundário relativamente a um outro mais importante ainda à volta do
qual perpetua uma caminhada lenta e calculada em companhia de
outros sóis da mesma, ordem.
Poderíamos verificar esta subordinação sucessiva de
sóis para sóis que a nossa imaginação se cansasse de percorrer uma tal
distância; porque, não o esqueçamos, podemos contar em números redondos
uns trinta milhões de sóis na Via Láctea,
subordinados uns aos outros como gigantescas rodas dentadas de um imenso
sistema.
E estes astros, em quantidade incontável, vivem, cada
um deles, uma vida solitária; tal como nada está isolado na economia do vosso
pequeno mundo terrestre, nada está isolado no incomensurável Universo.
Estes sistemas de sistemas pareceriam de longe, ao
olhar investigador do filósofo que fosse capaz de abarcar o quadro
desenvolvido pelo espaço e pelo tempo, uma poeira de pérolas
de ouro levantada em turbilhões sob o sopro divino que faz voar os mundos
siderais nos céus como grãos de areia no deserto.
Acabou-se a imobilidade, o silêncio e a noite! O
grande espectáculo que assim se desenvolvesse sob o nosso olhar seria a criação
real, imensa e plena de vida etérea que o olhar infinito do Criador abarca no
conjunto imenso.
Mas até aqui só falámos numa nebulosa; os
seus milhões de sóis, os seus milhões de terras habitadas não formam, como
dissemos, mais do que uma ilha do arquipélago infinito.
Pelo Espírito de Galileu
/…
(*) Este capítulo foi textualmente extraído de
uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e
1863, sob o título de Études Uranographiques e assinado, Galileu;
médium M. C. F. (N. do A.)
(**) É aquilo a que se chama em astronomia
estrelas duplas. São dois sóis em que um gira à volta do outro, como um planeta
à volta do seu sol. De que estranhos e magníficos espectáculos devem usufruir
os habitantes dos mundos que compõem estes sistemas iluminados por um duplo
sol! Mas também como devem ser aí diferentes as condições da vida!
Numa comunicação feita posteriormente, O Espírito de Galileu
acrescenta: «Há mesmo sistemas mais complicados onde dois sóis
diferentes representam, em face um do outro, o papel de satélites. Produzem-se
então efeitos de luz maravilhosos para os habitantes dos globos que iluminam;
tanto mais que, apesar da sua proximidade aparente, entre eles podem circular
mundos habitados e receber alternadamente ondas de luz diversamente coloridas
cuja reunião forma a luz branca.» Aí, os anos já não se medem pelos
mesmos períodos, nem os dias pelos mesmos sóis e estes mundos iluminados por
duplo archote recebem em herança condições de existência inimagináveis para os
que nunca saíram deste pequeno mundo terrestre.
Os astros, sem cortejo, privados de planetas, receberam os
melhores elementos de habitabilidade alguma vez dados a alguém. As leis da
natureza são diversificadas na sua imensidão e se a unidade é a palavra
importante do Universo a variedade infinita não deixa de ser o seu eterno
atributo. (N. do A.)
ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o
Espiritismo, Capítulo VI, Uranografia Geral, O espaço e o tempo – As
estrelas fixas (de 37 a 44), 31º fragmento desta obra. Tradução
portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Diógenes e
os pássaros de pedra, pintura em acrílico de Costa Brites).
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