~~ A Experimentação Espírita: Provas de Identidade
Já afirmámos que as provas da existência e da manifestação
dos espíritos são abundantes e formam um todo que se impõe de tal forma que
todas as dúvidas e vacilações desaparecem após um estudo sério e profundo. É o
caso dos sábios notáveis que se preocuparam com os problemas psíquicos. Eles
iniciavam o seu exame com disposições hostis, possuídos pela ideia de que ali
havia erro ou fraude, mas, depois de perseverantes investigações, chegaram a
afirmar, de modo formal, a realidade dos fenómenos.
Não há dúvida de que souberam determinar a parte referente à
fraude e à impostura, inevitáveis em qualquer meio humano, porém estabeleceram
que grande quantidade de factos foge a qualquer possibilidade de falsificação.
Por exemplo, as moldagens de mãos e pés materializados, feitas com parafina fervente e, que, depois
de resfriada, deixava os experimentadores na posse de objectos que servem de
testemunhos da presença e da passagem de seres invisíveis.
Foi por essa razão que Flammarion escreveu:
“Comummente se fala de fraudes, porém, o impossível existe
do ponto de vista material, por exemplo, os moldes de mãos. Até hoje, ninguém
conseguiu imitar nem explicar essas impressões ou moldagens em parafina, nas
quais não aparece nenhum vestígio de solda. Outro exemplo é o de certas
fotografias que são o desespero dos fotógrafos... além disso, de todos os
fenómenos psíquicos, que confundem e embaraçam, existe um apenas que se tenha,
seriamente, conseguido imitar?”
Os fenómenos de moldagens precisam de algumas explicações.
Em todos esses casos a parafina é derretida em certa quantidade de água
fervente. Os espíritos mergulham as mãos nessa parafina e, em seguida, as
introduzem em um vaso de água fria, onde os moldes ficam a flutuar.
Sendo a abertura do pulso de menor diâmetro do que o resto
da mão, foi preciso, portanto, que a mão se dissolvesse fluidicamente para
deixar o molde intacto; não haveria mão humana que se pudesse desprender do
molde sem parti-lo. Também foram obtidos moldes de pés e tais factos não podem
ser compreensíveis sem a acção de seres invisíveis.
O professor Denton conseguiu obter, na
América, fenómenos desse tipo dentro de uma gaiola fechada à chave. Destaca-se,
entre outros casos, o de duas mãos, uma segura na outra e completas até aos
punhos. Nenhuma intervenção humana poderia ter conseguido tal resultado.
No Congresso Espiritualista Internacional de Paris, em 1900,
do qual fui presidente, foi organizado um museu espírita, onde se viam
moldagens de mãos de todos os tamanhos, algumas enormes e outras pequenas como
de crianças e que nenhumas semelhanças apresentavam, garantiam os expositores,
com as mãos dos médiuns ou as dos assistentes das sessões onde os
fenómenos foram obtidos.
~*~
Em todos os factos de natureza psíquica vale buscarmos,
antes de tudo, as provas de identidade, isto é, as particularidades e
pormenores verificáveis e pelos quais se revelam o carácter e a verdadeira
natureza dos seres que tomam parte nas manifestações.
A esse propósito, convém destacar-se a vidência e a
incorporação no transe ou sono magnético. Neste último caso o médium pronuncia
palavras e até discursos de que não tem consciência e que, ao despertar, não
lhe deixam nenhuma lembrança na memória. À medida que o transe se torna mais
profundo, verifica-se que uma estranha personalidade substitui a do médium,
produzindo-se uma espécie de transfiguração.
Por sua atitude, gestos e linguagem, o médium representa a
maneira de pensar e agir de uma individualidade cuja existência geralmente
ignora, mas que os assistentes reconhecem como um dos seus parentes ou amigos
mortos.
Então se travam as conversas; as respostas do espírito às
perguntas feitas, as referências, as recordações, os traços comuns de sua
existência anterior, que viveu junto com as pessoas presentes, constituem por
si só outros tantos elementos de certeza quanto à identidade do morto.
Nessa série de factos, o mais notável nos parece ser o
do professor
Hyslop, da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque.
Por intermédio da célebre médium Sra.
Piper, fez 200 perguntas ao espírito de seu pai sobre pequenos detalhes de
sua vida de família, antes do seu nascimento. Para verificar a exactidão das
respostas foi necessário fazer uma viagem de muitas semanas através de vários
Estados por onde se encontravam espalhados os membros da família Hyslop. Das
200 perguntas reconheceram 152 respostas como certas e as demais duvidosas, por
falta de verificação.
Em outro livro narramos 20 casos escolhidos entre os mais
comprováveis e aqui estão outros, mais recentes, cujo interesse não é menor
porque se referem à Grande Guerra (1914-1918)* e se classificam entre os
fenómenos de visão e de audição.
O primeiro é tirado dos Annales des Sciences
Psychiques, número 1, p. 44, de 1918.
A revista inglesa London publicou, no seu
número de Outubro de 1917, a narração de Richard Wilkinson, que a
redacção afirma ser um agente de negócios bem conhecido em Londres e que antes
era muito céptico em relação a qualquer fenómeno supranormal.
O desejo de Wilkinson, publicando tal artigo, foi apresentar
factos que o confortaram na sua dor e podem consolar igualmente milhares de
outras pessoas.
“O meu filho foi gravemente ferido quando se encontrava à
frente de seus homens, no combate de Beaumont-Hamel e, poucos dias depois
morreu, aos 19 anos de idade, em Novembro de 1916. Eu e a minha esposa pudemos
assistir aos seus últimos momentos, em um hospital da França. Ele era o nosso
único filho e o sentimento que o ligava a nós era de franca camaradagem e
afeição filial.
Assim que voltamos para a Inglaterra, uma amiga de minha
mulher, penalizada com a sua situação, remeteu-lhe o livro de Sir Oliver
Lodge, Raymond. Eu tinha prevenções contra tais investigações e
pedi à minha mulher que não o lesse, mas vendo que isso a contrariava muito,
não insisti, dizendo energicamente que não me queria envolver com tamanho
absurdo.
Ela se impressionou de tal modo com a leitura, que recorreu
a todos os argumentos possíveis para combater o meu preconceito e fazer-me ler
aquela obra. Acabei por ceder, mas essa leitura não foi suficiente para me
convencer, embora eu admirasse a beleza da doutrina e reconhecesse a minha
insensatez por tê-la condenado antecipadamente.
A minha mulher escreveu a Sir Lodge para
se aconselhar. Ele não nos conhecia, porém, a afinidade de nosso infortúnio
comum levou-o a nos apresentar uma amiga que organizou para nós uma sessão com
o médium Vout Peters.
Na primeira tentativa disseram-nos que o nosso filho, ao
passar para o Além, tinha sido recebido por João, Isabel, Guilherme e
Eduardo.
Desses nomes, os três primeiros eram os de meu pai, minha
mãe e de meu irmão, há muito tempo falecidos, porém o de Eduardo me era
desconhecido. Impressionado com a exactidão dos três primeiros nomes, escrevi
ao meu irmão mais velho perguntando sobre um irmãozinho que eu sabia ter
morrido antes do meu nascimento e ele me respondeu que essa criança, de nome
Eduardo, morrera com 12 semanas de idade.
Naquela mesma sessão, o meu filho, sabendo de minha
incredulidade, disse que desejava vivamente provar-me a sua presença e se
referiu a um acontecimento íntimo, apenas sabido por mim e a minha esposa. Era
uma coisa tão secreta que não posso narrá-la aqui.
Outro facto: embora o nome do meu filho não fosse Roger, ele
assim era chamado, menos por sua mãe que só o chamava Poger.
O médium começou a soletrar um nome, “Ro...” e nos afirmou,
sem poder dar as letras seguintes, que a última era “R”.
Respondi: “É o nome de meu filho; queres dizer Roger” e
o médium respondeu: “O rapaz diz que não devo
dizer Roger, porém Poger”.
Deslumbrado com esses fenómenos, eu quis ir mais adiante e
fomos a outro médium: a senhora Osborne Leonard.
Evitamos dizer-lhe quem éramos e o objectivo de nossa
visita.
A primeira coisa que ela nos disse foi uma descrição exacta
e minuciosa de nosso filho e bem assim o nome de Poger, acrescentando que
Isabel, João e Guilherme ali se encontravam e lhe davam protecção.
Por outro lado, minha esposa estava preocupada com o facto
de não encontrar as cartas que enviara ao filho, entre as roupas, papéis e
outros objectos de uso dele, porém não me dissera qualquer palavra a esse
respeito.
O médium afirmou que Roger lhe mostrava um saquinho com
fecho, que estava entre os tais objectos e, que não fora visto na busca. “Nele
– falou a senhora Leonard – a sua mãe encontrará as cartas
que está à procura”. Quando regressamos a casa, verificamos que a
afirmativa estava certa.
Na mesma reunião, o médium estendeu a mão e nos mostrou um
objecto parecido com um pedaço de moeda, cuja natureza real ele ignorava. A
minha esposa sugeriu que podia ser um botão militar de cobre que havia sido
transformado em uma medalha, mas a médium insistiu, afirmando que
encontraríamos, entre os pertences de nosso filho, um objecto de bronze.
Roger queria que se fizesse nele um orifício para que a sua
mãe pudesse levá-lo consigo como lembrança. Na realidade, encontramos
em casa, numa caixinha, uma moeda de um penny, encurvada por uma
bala que a atingira.
Algum tempo depois, minha esposa, viu perto dela, em
Brigthon, o nosso filho e nada a convenceu que se tratasse de uma auto-sugestão
ou de uma alucinação. Retornando a Londres ela, a princípio, não falou disso a
ninguém, porém a médium Annie Brittain logo lhe declarou: “O
seu filho deseja falar-lhe, foi exactamente ele que a senhora viu; não
foi sonho, permitiram que o véu por um instante se levantasse”.
Nessa reunião a Sra. Brittain disse-nos coisas maravilhosas.
Médium nenhum jamais chamaria a atenção de minha mulher com a frase que o nosso
filho usava. Ela se alegrou quando ele lhe disse: “Até mais ver, meu
anjo!”, a frase com que se alegrava dirigir-lhe.
Se alguém, há apenas um ano, afirmasse que eu viria dizer e
escrever semelhantes coisas, responderia que era impossível.”
~*~
O senhor H. Méron, cônsul-geral da França em São
Francisco, actualmente em Thonon (Haute-Savoie) e cujo filho, um jovem oficial,
teve, na última guerra, uma morte gloriosa, escreveu na Revue Spirite,
de Outubro de 1917, os seguintes dados sobre manifestações que obteve por meio
de uma faculdade que o filho morto descobriu e desenvolveu nele.
“No estado de vigília, na escuridão da noite, vejo de olhos
fechados ou abertos, formarem-se diante de mim, com claridade e intensidade
iguais, letras fluídicas de variadas cores. Essas letras se alinham e formam
mensagens assinadas pelos espíritos que as produzem.
Essa mediunidade vidente me foi revelada por mensagens de
nosso filho, cerca de quatro meses depois de sua morte, em Outubro de
1916.
Ele assina sempre as suas mensagens, tal como escrevia nos
seus telegramas que
nos mandava da linha de combate e, com o seu número de matrícula do regimento a
que pertencia.
Todas as manhãs, com raras excepções, recebo uma mensagem,
geralmente acompanhada de flores, principalmente de uma que tanto ele como nós
admiramos: a papoula amarela, chamada “copa de ouro” da
Califórnia. Durante o dia, também recebo mensagens que são precedidas por
uma pancada no ar e que a minha companheira também ouve distintamente. Fecho os
olhos e, após a assinatura e o número de matrícula, que nunca faltam, leio a
mensagem. Às vezes, a minha mulher dirige, em voz alta, a palavra ao filho e
logo obtenho a resposta, escrita em letras fluídicas, no fundo escuro criado ao
se fechar os olhos.
Tive muitas outras visões, em várias ocasiões, de pessoas no
momento da morte ou até de pessoas vivas. Algumas dessas visões só se
explicariam por aquilo que os nossos adversários costumam chamar de
alucinações. Realmente vi tais aparições em épocas ou com trajes que a minha
imaginação não poderia produzir. Assim, uma jovem com quem falei apenas uma
vez, seis meses antes que ela falecesse e, cuja morte deixou a sua mãe
inconsolável, apareceu-me três vezes: uma, na hora da morte (que eu ignorava),
ela se mostrou como eu a havia conhecido, isto é, alegre, viva e risonha. De
outra vez apareceu tal como se encontrava representada num retracto, que só vim
a conhecer dois ou três meses depois da aparição; nele ela estava penteada de
modo especial e vestia-se de forma diferente do normal. A terceira vez,
apareceu-me toda de branco.
Sem dúvida foi o nosso filho que provocou essas visões para
o nosso bem, a fim de que, sem medo, pudéssemos declarar a nossa profunda fé, o
que fazemos abertamente, pois consideramos isso o nosso dever absoluto.
Não vacilamos em proclamar abertamente que a nossa crença
tem sido para nós um manancial de consolações.”
Pode ser que se coleccionem muitos factos desse tipo
relativos à guerra. As provas da sobrevivência da alma, depois da morte,
aumentam diariamente e já constituem um respeitável conjunto; os casos de
identidade se multiplicam, abrangendo todas as espécies de fenómenos na sua
enorme variedade.
Realmente, os mortos nos campos de batalha, nos hospitais,
nas ambulâncias, enfim todas as vítimas desses acontecimentos espantosos, só
desejam revelar a sua presença para aqueles a quem amaram na Terra, proporcionando-lhes
consolações.
Podemos esperar que isso aconteça logo que se tenha passado
o período de perturbação que se segue às mortes repentinas ou violentas, para
as quais eles haverão de empregar todos os recursos ao seu alcance.
Dos malefícios ocasionados pela guerra surgirá a certeza de
que a vida existe em dois aspectos, mas não termina com a morte corpórea. Um
raio de luz, atravessando as nuvens negras, aclarará o caminho da humanidade,
até agora incerto e obscuro.
/…
* Adenda desta publicação.
Léon Denis, O Mundo Invisível e a Guerra, XXV
A Experimentação Espírita: Provas de Identidade, 41º fragmento desta
obra.
(imagem: Dois soldados um alemão e o outro
britânico, no dia de Natal durante a primeira
guerra mundial (1914), aquando de um cessar-fogo promovido
pelos próprios soldados, alemães, britânicos e também franceses, ao longo
de uma semana trocaram saudações, cantaram músicas e chegaram a
trocar presentes)
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