Da arte com que trabalharmos o nosso pensamento dependem as nossas misérias ou as nossas glórias...

sábado, 12 de maio de 2012

arago ~


Sinais dos tempos

Se a Terra já não precisa de recear cataclismos gerais, não deixa por isso de estar submetida a revoluções periódicas cujas causas estão explicadas, do ponto de vista científico, nas instruções seguintes dadas por dois espíritos eminentes*.

«Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e das noites, das estações, etc. sofre revoluções que exigem milhares de séculos 
para sua perfeita realização mas que, tal como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos desde o nascimento até ao limite máximo, para recomeçar de seguida a percorrer as mesmas fases.

»O homem só abarca as fases de duração relativamente curta e de que pode constatar a periodicidade; mas há os que incluem longas gerações de seres e até mesmo sucessões de raças, cujos efeitos, por consequência, têm para ele os aspectos da novidade e da espontaneidade enquanto, se o seu olhar se pudesse transportar a alguns milhares de séculos atrás, veria entre esses mesmos efeitos e as suas causas, uma correlação de que nem sequer suspeita. Estes períodos, que confundem a imaginação dos humanos pela sua relativa extensão, não passam no entanto de momentos na duração eterna.

»Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns sobre os outros devido à aproximação ou afastamento que resulta do seu movimento de translação através das miríades de sistemas que compõem a nossa nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que a nossa nebulosa, que é como um arquipélago na imensidão, tendo também o seu movimento de translação através das miríades de nebulosas, sofre a influência daquelas de que se aproxima.

»Assim, as nebulosas actuam sobre as nebulosas, os sistemas actuam sobre os sistemas, como os planetas actuam uns sobre os outros e assim de aproximação em aproximação até ao átomo; daí, em cada mundo, as revoluções locais ou gerais que só parecem perturbações porque a brevidade da vida não permite que se obtenha delas mais do que efeitos parciais.

»A matéria orgânica não poderia escapar a estas influências; as perturbações que sofre podem portanto alterar o estado físico dos seres vivos e determinar algumas dessas doenças que, de uma maneira geral, danificam as plantas, os animais e os homens; estas doenças, como todos os flagelos, são para a inteligência humana um estimulante que a impele, pela necessidade, para a busca dos meios de as combater e para a descoberta das leis da natureza.

»Mas a matéria orgânica actua por sua vez sobre o Espírito; este, pelo seu contacto e a sua ligação íntima com os elementos materiais, sofre também influências que modificam a sua disposição sem no entanto lhe retirarem o seu livre-arbítrio, lhe sobreexcitam ou abrandam a actividade e por isso mesmo contribuem para o seu desenvolvimento. A efervescência que por vezes se manifesta numa população inteira, entre os homens de uma mesma raça, não é uma coisa fortuita nem resultado de um capricho; tem a sua causa nas leis da natureza. Esta efervescência, primeiro inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma aspiração não definida a qualquer coisa melhor, uma necessidade de mudança, traduz-se numa surda agitação, depois por actos que trazem consigo as revoluções sociais, que, acreditai, têm também a sua periodicidade como as revoluções físicas, pois tudo se encadeia. Se a visão espiritual não estivesse limitada pelo véu material, veríeis estas correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual e do mundo material.

»Quando vos dizem que a humanidade atingiu um período de transformação e que a Terra se deve elevar na hierarquia dos mundos, não vejam nestas palavras nada de místico, mas pelo contrário, a realização de uma das leis fatais do Universo.»

                                                                                                        ARAGO


«Sim, é verdade, a humanidade transforma-se tal como já se transformou noutras épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que constitui para o género humano o que as crises do crescimento são para os indivíduos; crises muitas vezes penosas, dolorosas, que arrastam com elas as gerações e as instituições, mas sempre seguidas por uma fase de progresso material e moral.

»A humanidade terrestre, chegada a um desses períodos de crescimento, está em breve há um século em pleno trabalho de transformação; é por isso que se agita por todos os lados, presa de uma espécie de febre e como que movida por uma força invisível, até ter retomado assento sobre novas bases. Quem a vir então, encontrá-la-á muito modificada nos seus costumes, no seu carácter, nas suas leis, nas suas crenças, numa palavra, em todo o seu estado social.

»Uma coisa que vos parecerá estranha mas que não deixa por isso de ser uma rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos que vos rodeia sofreu o contragolpe de todas as comoções que agitam o mundo dos encarnados; digo mesmo que tem nisso uma parte activa. Isto nada tem de surpreendente para quem saiba que os Espíritos formam um só com a humanidade; que dela saem e nela devem reentrar; é portanto natural que se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Tende então a certeza que, quando uma revolução social se realiza na Terra, ela agita igualmente o mundo invisível; todas as paixões boas e más são aí sobeexcitadas como entre vós; uma efervescência indizível reina entre os Espíritos que fazem ainda parte do vosso mundo e que esperam o momento de lá voltarem a entrar.

»A agitação dos encarnados e dos não encarnados por vezes juntam-se, a maior parte das vezes até porque tudo se liga à natureza, às perturbações dos elementos físicos; é então, durante um certo tempo, uma confusão geral, que passa como um furacão, após o qual o céu volta a estar sereno e a humanidade, reconstruída sobre novas bases, imbuída de novas ideias, percorre uma nova etapa de progresso.

»É no período que se abre que veremos o Espiritismo florescer e que ele dará seus frutos. É portanto para o futuro, mais do que para o presente, que trabalhais; mas era necessário que estes trabalhos fossem elaborados antecipadamente porque preparam as vias da regeneração pela unificação e pela racionalidade das crenças. Felizes os que disso beneficiam desde já; será para eles tanto de ganho como de sofrimentos poupados.»

                                                                                                    DR. BARRY
/...
* Extracto de duas comunicações dadas na Sociedade de Paris e publicadas na Revista Espírita de Outubro de 1868, p. 313. São o corolário das de Galileu, relatadas no Capítulo VI e um complemento ao Capítulo IX sobre as revoluções do globo. (N. do A.)


ALLAN KARDEC, A GÉNESE – Os Milagres e as Profecias Segundo o Espiritismo – Capítulo XVIII, SÃO CHEGADOS OS TEMPOS – Sinais dos tempos 8 e 9, tradução portuguesa de Maria Manuel Tinoco, Editores Livros de Vida.
(imagem de contextualização: Violeta e os meteoritos, pintura em acrílico de Costa Brites)

1 comentário:

palavra luz disse...

Fui primeiro sugestionado pelo título da notícia;

passei depois à contemplação da paisagem do planeta estranho da ilustração;

e só depois mergulhei na leitura dos textos da notícia.

Só posso dizer que foi um trânsito largo, cheio de emoções intensas e – em variadas passagens do que li – cheguei a ser tomado pela vertigem indescritível do espaço e das idades sem fim.

Há para aí alguém carente de emoções fortes?...

Façam favor de entrar, façam favor de ler e de olhar…

E não percam tempo a colocar datas, ou bandeiras, ou limitações sem nexo
à sensação fortíssima de estarmos ligados a destinos multicolores
a desenvolvimentos sem fronteiras

e à conquista de tudo aquilo a que os mais exaltados sonhos jamais puderam configurar…